1.
A fé é a mais
elevada paixão de todos os homens.
2.
A fé é a
paixão pelo possível e a esperança é a companheira inseparável da fé.
3.
Fé significa
precisamente a inquietude profunda, forte, bem-aventurada, que impulsiona o
crente, para que ele não possa aquietar-se neste mundo, de modo que se ele se
aquietou completamente também cessou de ser um crente; pois um crente não pode
assentar-se calmamente, tal como a gente se assenta com o cajado na mão, um
crente caminha adiante.
4.
A fé enxerga
melhor no escuro.
5.
A fé é um
absurdo. Seu objeto é extremamente improvável, irracional e para além do
alcance de qualquer argumento… Suponhamos que alguém decida que quer adquirir
fé. Acompanhemos essa comédia. Ele quer ter fé, mas ao mesmo tempo também quer
ter a certeza de que está dando o passo certo – então empreende um exame
objetivo da probabilidade de estar certo. E o que acontece? Por meio desse
exame objetivo da probabilidade, o absurdo torna-se algo diferente: torna-se
provável, cada vez mais provável, extremamente provável, absolutamente
provável. Agora essa pessoa está pronta para acreditar e diz a si mesma que não
acredita da mesma maneira que os homens comuns, como sapateiros ou alfaiates,
mas apenas depois de ter pensado toda a questão de forma adequada e
compreendido sua probabilidade. Agora está pronta para acreditar. Mas vejam,
nesse exato momento torna-se impossível para ela acreditar. Algo que é quase
provável, possível ou extrema e absolutamente provável é algo que a pessoa pode
quase conhecer, praticamente conhecer ou bem aproximadamente conhecer – mas é
impossível crer. Pois o absurdo é objeto de fé e o único objeto que pode ser
crível.
6.
A fé não
resulta da investigação científica; não tem de todo uma origem direta. Pelo
contrário, nesta objetividade há a tendência para perder o interesse pessoal
infinito pela paixão que é a condição da fé, o ubique et musquam [lat.:
por toda parte e em nenhum lugar] no qual a fé pode brotar.
7.
A incerteza
objetiva, sustentada na apropriação da mais apaixonada interioridade é a
verdade, a mais alta verdade que há para um existente. Lá onde o caminho se
desvia (e onde é esse ponto não se pode estabelecer objetivamente, pois ele é,
precisamente, a subjetividade), o saber objetivo é suspenso. Objetivamente ele
tem, então, apenas incerteza, mas é exatamente isso que tensiona a infinita
paixão da interioridade, e a verdade é justamente a ousada aventura de escolher,
com a paixão da infinitude, o que é objetivamente incerto. Observo a natureza a
fim de encontrar Deus e, de fato, vejo onipotência e sabedoria, mas vejo também
muita outra coisa que preocupa e perturba. A summa summarum [lat.: soma
total] disso é a incerteza objetiva, mas precisamente por isso a interioridade
é tão grande, porque a interioridade abrange a incerteza objetiva com toda
paixão da infinitude.
8.
Sem risco não
há fé. Fé é justamente a contradição entre paixão infinita da interioridade e a
incerteza objetiva. Se eu posso apreender objetivamente Deus, então eu não
creio; mas, justamente porque eu não posso fazê-lo, por isso tenho de crer; e
se quero manter-me na fé, tenho de constantemente cuidar de preservar na
incerteza objetiva, de modo que, na incerteza objetiva, eu estou sobre “70.000
braças de água”, e contudo creio.
9.
Com efeito, a
fé tem duas tarefas: vigiar e descobrir a cada momento a improbabilidade, o
paradoxo, para então, com a paixão da interioridade, permanecer firme. […] Onde
o entendimento desespera, lá a fé já está presente, a fim de tornar o desespero
bem decisivo, para que o movimento da fé não se torne uma transação dentro da
esfera de negociações do entendimento.
10.
O cristianismo ensina que tudo o que é essencialmente cristão depende
somente da fé; quer, portanto, ser precisamente uma ignorância socrática e com
temor de Deus que por meio da ignorância guarda a fé contra a especulação,
vigiando para que o abismo da diferença qualitativa entre Deus e o homem possa
ser mantido como é no paradoxo e na fé, a fim de que Deus e o homem, ainda mais
terrivelmente do que nunca no paganismo, não se transformem de algum
modo, philosphice, poetice [filosoficamente,
poeticamente], numa unidade — no sistema.
11.
Tenho que
confessar que jamais encontrei, no curso de minhas observações, um só exemplar
autêntico do cavaleiro da fé, sem com isso negar que talvez um homem em cada
dois o seja...
12.
Não é
permitido a ninguém fazer acreditar aos outros que a fé tem pouca importância
ou que é coisa fácil, quando é, pelo contrário, a maior e a mais penosa de
todas as coisas.
13.
O verdadeiro
cavaleiro da fé é uma testemunha, nunca um mestre.
14.
Enquanto que
até agora a fé teve na incerteza um pedagogo proveitoso, ela deveria ter seu
maior inimigo na certeza. De fato, se se exclui a paixão, a fé deixa de
existir, e certeza e paixão não se atrelam juntas.
15.
Para quem
serve a demonstração? A fé não precisa dela, pode até mesmo considerá-la sua
inimiga. Ao contrário, quando a fé começa a se envergonhar de si mesma; quando,
como uma amante que não se contenta com amar, mas que no fundo se envergonha de
seu amado e por isso precisa provar que ele é algo de notável; portanto, quando
a fé começa a perder a paixão; portanto, quando a fé começa a deixar de ser fé,
aí a demonstração se torna necessária para que se possa desfrutar da
consideração burguesa da descrença.
16.
Pobre,
incompreendida, maior de todas as paixões: fé.
17. O engenhoso pagão disse: Dá-me um ponto lá fora e eu moverei a terra; o nobre disse: Dá-me um grande pensamento; oh, a primeira coisa não se deixa fazer, e a segunda não adianta o bastante. Só há uma única coisa que pode ajudar, mas esta não pode ser dada por um outro alguém: crê, e transportarás montanhas!
18.
Não existe a
obediência fora do sofrimento, a fé não existe fora da obediência, a eternidade
não existe fora da fé. No sofrimento a obediência é obediência, na obediência a
fé é fé, na fé a eternidade é eternidade.
20.
Fé e dúvida
não são dois tipos de conhecimento: são paixões opostas.
21.
O engenhoso
pagão disse: Dá-me um ponto lá fora e eu moverei a terra; o nobre disse: Dá-me
um grande pensamento; oh, a primeira coisa não se deixa fazer, e a segunda não
adianta o bastante. Só há uma única coisa que pode ajudar, mas esta não pode
ser dada por um outro alguém: crê, e transportarás montanhas!
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