terça-feira, 30 de abril de 2024

PENSANDO SOBRE A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

 


Charles Luciano Gomes da Silva

Quem não aspira dias melhores, mudança de posição ou saúde perfeita? Acho que todos os seres ajuizados desejam essas coisas. Principalmente quando é o próprio Deus quem promete e garante (Gn 12.2,3; Dt 28.1-14). Um dia disse Jeová a Israel:

“Se quiserdes e ouvirdes, comereis o bem desta terra.” (Is 1.19)

Porém, há um questionamento: essas promessas e garantias veterotestamentárias estendem-se também aos cristãos, ao novo concerto? Um dos princípios máximos da hermenêutica bíblica assevera que, “a Bíblia por si mesma se explica”. O que será então que ela nos revela?

Para quem acha que a teologia da prosperidade é recente, que surgiu no século passado, precisa inteirar-se vendo o que está escrito no primeiro livro bíblico, escrito há mais de 3.500 anos atrás. Inicialmente fala o teólogo Elifaz, leia:

“Lembra-te, agora: qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos? Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade e semeiam o mal segam isso mesmo. Com o hálito de Deus perecem; e com o assopro da sua ira se consomem.” (Jó4.7-9)

Logo em seguida Bildade, leia:

“...se fores puro e reto, certamente, logo despertará por ti e restaurará a morada da tua justiça. O teu princípio, na verdade, terá sido pequeno, mas o teu último estado crescerá em extremo.” (Jó 8.6,7)

Quem tem amigos dessa estirpe não precisa de inimigos. Até porque a própria personificação da sabedoria se expressa, dizendo que esses falsos crentes não haviam dito o que era reto, ou seja, eram mentirosos:

“Sucedeu, pois, que, acabando o SENHOR de dizer a Jó aquelas palavras, o SENHOR disse a Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó.” (Jó 42.7)

Esse é o principal adjetivo que deve ser atribuído a esses pseudoteólogos de hoje, quando afirmam como os amigos de Jó, que infortúnios, pobreza e enfermidades são um sinal de falta de fé ou pecado.

O Senhor do antigo pacto é o mesmo do novo, porém o tratamento, a forma de lidar com os cristãos mudou. Os israelitas eram um povo especial, logo, o comportamento de Yahweh para com eles também era diferente. A igreja de Cristo é um novo povo, está inserida numa nova aliança e Deus nos trata doutro modo, duma nova maneira.

As palavras de Yeshua são o veredicto final, nelas residem toda a verdade sobre tal particular. Em primeiro lugar Ele pregou contrariamente a esse assunto com a sua vida. Ele foi o rei mais pobre de toda a terra e de todos os tempos (Lc 2.6,7; Mc 6.3; 2 Cor 8.9; Zc 9.9). Como a vida fala alto!

Porém, Ele verbalizou também por meio de sermões suas inquietações, instruindo, consolando e refutando os falsos ensinos (Jo 16.33; Lc 12.15; Mt 16.24-26; Mt 26.11; Mt 19.21). O principal problema é que o Mestre dos mestres foi mal interpretado. Ele só falou de riqueza espiritual, e os homens o interpretaram como se Ele tivesse ensinado sobre prosperidade material. Vejamos algumas passagens (Jo 10.10; Mt 21.22; Mt 7.7-11; Jo 16.24). A expressão “tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis” é relativa, por isso deve ser analisada à luz de (I Jo 5.14):

“E esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve.”

Além de estar no Velho Testamento, foi uma visão pessoal o que disse Davi equivocadamente:

“Fui moço e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão.” (Sl 37.25)

Ele havia esquecido dessas histórias que ocorreram e inclusive com ele (Gn 12.10; Rt 1.1; 2 Sm 21.1; 2 Rs 6.25; I Rs 18.2; 2Rs 4.38). No novo pacto a situação continua (Lc 16.19-22; 2 Cor 8,9; I Cor 16.1-4; Rm 15.26,27). Se a maioria absoluta dos primeiros cristãos era muito pobre, vários perderam casas, família e bens por amor ao evangelho, hoje a situação não é nada diferente pelo mundo afora. Será que todos estão como dizem os falsos doutores, “em pecado ou sem fé”? O que não dizer dos protestantes fiéis da África, do Haiti, inclusive do nosso Brasil?

Portanto, o que nos resta é conscientizarmo-nos de que prosperidade material sem trabalho duro, é enriquecimento ilícito. O esforço precede o ganho. Mas se você se empenha no labor e não enriquece, e também não tem capacidade para evoluir a tal ponto, console-se com as palavras de Agur:

“Duas coisas te pedi; não mas negues, antes que morra: afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção acostumada; para que, porventura, de farto te não negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecendo, venha a furtar e lance mão do nome de Deus.” (Pv 30.7-9)

Precisamos entender que para tudo há um tempo (Ec 3.1-8), que carecemos de fortificar a nossa estrutura e adquirir resiliência (Fp 4.11-13), e que a maior prosperidade, a ensinada por Cristo é a espiritual (Mt 22.34-40; Mt 5.1-12).

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Charles Luciano Gomes da Silva é Bacharel em Teologia, Capelão, Escritor, Ensaísta, Contista, Poeta e Compositor Musical. Autor de mais de 30 livros. Apresenta um programa evangélico toda quinta-feira, na rádio farol fm 90,7 - Catende/PE.


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