terça-feira, 27 de abril de 2010

Ela queria apenas sua Bíblia de volta

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 Enterro de Kátia, março de 2009

Ela era apenas uma jovem evangélica que morava no bairro do Rio Comprido, nessa cidade que virou um comprido rio de insegurança e medo, a metrópole mais ensolarada e maravilhosa do mundo, mas também a mais tenebrosa e violenta cidade desse Rio que faz correr sangue de Janeiro a dezembro.
Era apenas uma jovem cheia de sonhos, cheia de medo, cheia de risos; uma jovem que falava inglês e espanhol e ia aprender francês, pois queria ser diplomata; que morava nesse Rio de pânico, nesse Rio de incertezas, na insustentável leveza dos seus 25 anos, estudante de Administração, estagiária da Caixa Econômica Federal, leitora entusiasmada da Bíblia.
Era apenas uma jovem evangélica, membro de uma das congregações da Assembléia de Deus na Penha, que se mudara de Vila Cruzeiro para o Rio Comprido, na suposição de que lá seria um bairro mais tranquilo.
Era apenas uma noite de domingo, dia seguinte ao aniversário de Karla Leal dos Reis. Era apenas uma noite em que alguns filhos de Belial saíram pelas ruas mal-iluminadas do Estácio – bairro vizinho ao local onde, alguns dias antes, a maior legião de demônios comandou invisivelmente a festa que é chamada, por quem não teve o marido, o filho, a filha ou a esposa alcoolizados, drogados, prostituídos ou mortos, de o “maior espetáculo da terra”, o Carnaval.
Era apenas uma noite de domingo em que três filhos de Belial, com os olhos injetados de sangue, as mãos crispadas de ódio, saíram para esquadrinhar as trevas em busca de almas inocentes e indefesas.
Era apenas uma noite, a última noite de domingo de Karla. Ela e sua família desceram de um ônibus no bairro do Estácio, e caminharam para o bairro do Rio Comprido. Suave era a noite que se apossara da Cidade Maravilhosa, mas infiéis e tenebrosos os seus caminhos. Filhos de Belial caminhavam naquela direção.
Karla era apenas uma moça que caminhava com o coração transbordante de paz, dessa doce e célica paz que só Jesus pode dar, essa paz que Ele mesmo proporcionou aos seus discípulos e a nós, que o amamos e servimos, quando disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá” (João 14.27). Essa é a paz que milhões de moradores da cidade do Rio de Janeiro desconhecem; a paz que os filhos de Belial desconhecem; paz que transborda paradoxalmente e em plenitude até no interior de casebres situados nas sub-humanas periferias do Rio, onde moram pessoas simples, que têm Jesus entronizado e reinando soberano em seus corações.
Naquela que foi a última noite da vida de Karla, os filhos de Belial anunciaram um assalto. Ela era apenas uma serva de Deus. Eles, filhos de Belial. Ela era apenas uma estudante, com seu coração de estudante; seu pai, apenas um porteiro, com seu coração de pai; sua mãe, apenas uma comerciária, com o coração de mãe que em breve será traspassado pela dor de ver a filha ser baleada e morta diante dela.
Os filhos de Belial pegaram todos os pertences das vítimas. Dentro da bolsa, que foi para as mãos ensangüentadas e sujas de um deles, estava o crachá e a Bíblia de Karla. Ela era apenas uma estagiária, apenas uma moça que amava a Palavra de Deus. Pediu de volta o seu crachá e sua Bíblia. O crachá de estagiária dava-lhe a esperança de um dia tornar-se funcionária da Caixa Econômica Federal; a Bíblia dava-lhe a certeza de tornar-se um dia uma cidadã dos Céus. O filho de Belial devolveu-lhe a Bíblia, e quando ela abraçou o livro insubstituível e virou-se para ir embora, um tiro na nuca mudou a trajetória de sua viagem. Agora Karla não iria mais para o Rio Comprido. Agora atravessaria o Rio Jordão, rumo à Jerusalém celestial.
Adeus, Karla! Nós abominamos a maneira brutal como sua vida foi prematuramente ceifada. Não só abominamos, como também cremos que só a mensagem de Jesus Cristo pode transformar filhos de Belial em filhos de Deus, e parar esse tsunami de violência que se tem abatido sobre o Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo.
Capital da violência, os teus pecados já não te deixam ser aquela cidade maravilhosa de tempos idos! Os teus encantos mil estão ameaçados por essa atual geração de filhos sanguinários, filhos de Belial, que espalham por tuas ruas, teus morros e tuas praças a insegurança e o medo, e ensanguentam tua bela paisagem! Capital da violência, tu não terás mais o sorriso de Karla, os sonhos de Karla, os filhos de Karla que não nasceram, as palavras apaixonadas de Karla ditas ao esposo que ela não teve, mas que a amaria e a faria feliz! Tu não és digna deles. Ela tornou-se agora moradora da Jerusalém eterna, e como uma diplomata celestial, passou a viver entre os anjos e os bem-aventurados servos do Senhor, que já alcançaram a altíssima paz.
Nós jamais a esqueceremos, Karla. E um dia nos encontraremos. Descanse eternamente na companhia de Deus.

Jefferson Magno Costa

Visite o blog do autor: http://jeffersonmagnocosta.blogspot.com

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O cristão e as mídias sociais

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Por: Ismênia Noleto

Como seres sociáveis necessitamos estar em constante processo de comunicação. Fomos criados para nos sociabilizarmos e vivermos em sociedade. Em pleno século XXI é muito raro encontrar um indivíduo que de alguma maneira não se comunique. Cabe ressaltar que essa comunicação não se restringe apenas a comunicação verbal; nos comunicamos também através de gestos, sinais, pela postura corporal, tonalidade da voz e por meio da escrita.
Na tentativa de aprofundar e desenvolver relacionamentos com pessoas do mundo inteiro temos ao nosso dispor diferentes mídias sociais e por mais que o individuo se considere restrito a relacionamentos – seja qual for a área emocional - com as avançadas ferramentas de comunicação, é quase impossível que este fique totalmente alheio aos Blogs, Orkut, Twitter, Youtube, Facebook, Flickr, Ning, Linkeding, My Space, entre outros.
E o que essas mídias sociais têm em comum? A título de informação, Mídia significa “meios” e Sociais significa relacionamentos, portanto, o intuito dessas mídias é justamente interagir com pessoas de diferentes opiniões, idiomas e culturas. Na época da ditadura, o Brasil vivia em um regime constante de censura e artistas como Caetano Veloso, Elis Regina, Chico Buarque, Gilberto Gil, Toquinho entre outros foram mantidos sob censura. Felizmente, não estamos mais sob as prisões da ditadura, temos a liberdade de nos comunicarmos, de nos expressarmos como bem desejamos e essa comunicação que outrora se baseava apenas através da música, jornais impressos, rádios e TV´s, criou asas e evoluiu. Hoje, ninguém pode ter a desculpa de que não há como manter-se informado. Temos ao nosso alcance (e muito facilmente), as TV´S, rádios, jornais impressos, revistas e ainda da maior rede de comunicação do mundo: a Internet.
Um agravante nesse bombardeio de informações, é que estas mídias sociais se não forem usadas corretamente, representam um grande perigo para a vida do cristão. É muito comum vermos cristãos usando esses meios de comunicação para manter diálogos indecorosos com pessoas que não compartilham da mesma fé, assistir ou ler conteúdos impróprios e nada edificantes, e, por isso, aquilo que pode ser bom socialmente falando, por outro lado, pode representar um perigo e uma poderosa arma do diabo para enfraquecer a fé e a vida dos cristãos.
A Internet se não usada prudentemente, pode influenciar à prática do adultério, do homossexualismo, da pedofilia, da prostituição, da feitiçaria, do misticismo e a lista não pára por aí. Não sou a favor de nos limitarmos apenas aos meios de comunicações convencionais. Devemos sim, conhecer uma dessas redes sociais, mas como cristãos, devemos estabelecer um limite daquilo que é correto ou não. O importante é usar essas ferramentas de comunicação com sabedoria e prudência. Que tal usar o MSN, E-mail, Twitter e Orkut para proclamar a Palavra de Deus? Podemos sim ser instrumentos de bênçãos através dessas modernas mídias sociais e assim, fazermos o que a Bíblia nos ensina: “E não vos conformeis com esse mundo, mas transformai-vos pela renovação de nossa mente, para que experimenteis qual seja a perfeita, agradável e perfeita vontade de Deus”.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Para quê fomos criados?

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René Padilla
Vejamos o texto de Paulo aos Efésios:

Efésios 2:4-9
2:4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,
2:5 estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),
2:6 e nos ressuscitou juntamente com ele, e com ele nos fez sentar nas regiões celestes em Cristo Jesus,
2:7 para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus.
2:8 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus;
2:9 não vem das obras, para que ninguém se glorie.

Da reforma protestante, herdamos a máxima: “Só Cristo; só a escritura; só a graça; só a fé”.

Somos criação de Deus, realizada em Cristo Jesus, para fazermos boas obras. Muitos cristãos se esquecem do versículo 10, na sequência do texto de Paulo que acabamos de ler.

Ef 2:10 Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas.

Nós fomos criados para boas obras. Eu fui criado em Cristo Jesus para fazer boas obras. Com minha profissão vou fazer as boas obras para as quais fui criado em Cristo Jesus.

No mundo evangélico não se fala muito sobre “boas obras”. Fala-se muito apenas sobre a fé.

Jesus morreu para que fôssemos aceitáveis diante de Deus.

Tito 2:11-15
2:11 Porque a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens,
2:12 ensinando-nos, para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos no presente mundo sóbria, e justa, e piamente,
2:13 aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus,
2:14 que se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras.
2:15 Fala estas coisas, exorta e repreende com toda autoridade. Ninguém te despreze.

Tito 3:4-11
3:4 Mas quando apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador e o seu amor para com os homens,
3:5 não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo,
3:6 que ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador;
3:7 para que, sendo justificados pela sua graça, fôssemos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.
3:8 Fiel é esta palavra, e quero que a proclames com firmeza para que os que crêm em Deus procurem aplicar-se às boas obras. Essas coisas são boas e proveitosas aos homens.
3:9 Mas evita questões tolas, genealogias, contendas e debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs.
3:10 Ao homem faccioso, depois da primeira e segunda admoestação, evita-o,
3:11 sabendo que esse tal está pervertido, e vive pecando, e já por si mesmo está condenado.

É preciso ter em mente que ninguém alcança a salvação por boas obras. Ninguém se torna merecedor da salvação por ter praticado boas obras. Mas fomos salvos pela graça, para fazermos boas obras.

Em Mateus 5:14-16 está escrito: “Vocês são a luz do mundo”.

Como a nossa luz vai brilhar? Quando as pessoas virem as nossas boas obras. Elas não devem apenas ouvir a mensagem; devem também ver as boas obras.

Isaías 58:4-10 (NVI)
4 Seu jejum termina em discussão e rixa, e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto.
5 Será esse o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o junco e se deite sobre pano de saco e cinzas? É isso que vocês chamam jejum, um dia aceitável ao SENHOR?
6 O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo?
7 Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?
8 Aí sim, a sua luz irromperá como a alvorada, e prontamente surgirá a sua cura; a sua retidão irá adiante de você, e a glória do SENHOR estará na sua retaguarda.
9 Aí sim, você clamará ao SENHOR, e ele responderá; você gritará por socorro, e ele dirá: Aqui estou. Se você eliminar do seu meio o jugo opressor, o dedo acusador e a falsidade do falar;
10 se com renúncia própria você beneficiar os famintos e satisfizer o anseio dos aflitos, então a sua luz despontará nas trevas, e a sua noite será como o meio-dia.

Há alguns requisitos que têm que ser cumpridos para que haja vida plena. Nós vivemos em países em que há muitas necessidades insatisfeitas. Há uma preocupação com a missão de levar a palavra. Isto satisfaz a necessidade básica de Deus (das pessoas). Mas há outras necessidades básicas: comida, água, casa, roupas, saúde, etc.

O texto diz que a glória de Deus será manifestada quando as necessidades básicas dos necessitados forem satisfeitas.

Moisés pediu para ver a glória de Deus. Uma forma de ver a glória de Deus é fazer boas obras.

É útil considerar três erres que decorrem da conversão: Reconciliação, Renascimento e Redistribuição.

Todos devem ter acesso aos bens da criação de Deus. Todos os bens que possuímos têm sentido quando colocados à disposição para boas obras.

Fonte: http://renas.org.br

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Cantatas Missionárias para as crianças - download gratuito

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Na página de downloads do site da Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista do Brasil, são disponibilizados 4 CDs com músicas de teor missionário. O download é gratuito. Destaque para dois CDs infantis: As cantatas Vamos Alvoroçar o Mundo e Uma Decisão Superespecial.

Os CDs trazem músicas e diálogos muito bem produzidos, que visam edificar as crianças e despertar nas mesmas o amor pela obra missionária. Várias músicas contam também com o playback.

O material pode ser útil a qualquer igreja, independente de sua denominação.

Baixe e compartilhe com outros irmãos, e líderes de departamentos infantis e de Missões, da sua e de outras igrejas.

Visite a página de downloads da JMM, Clique Aqui .

sexta-feira, 9 de abril de 2010

40 Mártires, 40 Coroas

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Da história da Igreja dos primeiros séculos existe um relato que veio impressionar os cristãos ao longo dos tempos. Um grupo de soldados crentes, numa das legiões do Império Romano, foi condenado à morte por sua conversão ao Cristianismo, ora poderosamente difundido e perseguido. Esses soldados foram colocados no meio de um lago congelado, para que morressem. Antes lhes deram a palavra do imperador de que se abandonassem a fé e se arrependessem de terem sido convertidos, poderiam ser libertos, passando antes pelo oficial em serviço.

Naquela noite, porém, o guarda teve uma visão. Ele via anjos pairando sobre os condenados, que iam coroando os que morriam e eram de imediato levados ao Céu. Ele escutou um cântico, como de um grande coral, nos céus, cuja letra dizia: “Quarenta mártires, quarenta coroas”. Num dado momento o guarda notou que um dos cristãos aproximava-se, e logo viu que ele iria demonstrar o seu arrependimento. Chegou-se e renunciou a sua fé diante do oficial, pois estava vendo seus companheiros caírem mortos um por um. O guarda anotou seus dados pessoais. Fixou seu olhar no rosto disforme e infeliz e disse pausadamente: “Louco, se tu tivesses visto o que eu vi nesta noite, tu terias morrido e ganhado tua coroa! Como renunciaste, mostrando-te arrependido, ela ficou e está lá suspensa e será minha! Toma o meu lugar aqui e minhas armas e eu tomarei a tua coroa”.

Aquele guarda romano, desfazendo-se de sua armadura, rumou para junto dos mártires onde acabou morrendo por ter tido um encontro com o Senhor Jesus. Da sua legião terrestre embrenhou-se na legião dos combatentes celestiais e galgou a glória da vida eterna.

www.paginasilustrativas.blogspot.com

domingo, 4 de abril de 2010

Em defesa do cristianismo

Alderi Souza de Matos

Nas últimas décadas, tem se tornado comum no mundo ocidental “malhar” o cristianismo. Intelectuais, acadêmicos, escritores e articulistas de renome costumam se referir à fé cristã de forma desairosa e depreciativa. Infelizmente, com freqüência muitos críticos estão dentro das fileiras do próprio cristianismo. É considerado politicamente incorreto falar mal de outras religiões, como o islamismo, o budismo e o hinduísmo, que estão muito em voga na Europa e nas Américas, mas não se vê nenhum problema em condenar o movimento cristão. Alguns pensadores ateus, autores de livros campeões de vendas, têm defendido explicitamente a extinção pura e simples do cristianismo. Segundo afirmam, seria desejável que todas as religiões deixassem de existir, mas na realidade eles têm em mente antes de tudo a fé cristã, a tradição religiosa predominante no Ocidente.

Além de preconceituosa, essa atitude é profundamente injusta do ponto de vista histórico. Os próprios cristãos reconhecem que sua trajetória ao longo dos séculos não está isenta de dolorosos problemas. As cruzadas, o anti-semitismo, a Inquisição, as guerras religiosas e a escravidão nas Américas são manchas tristes na experiência da igreja, falhas que os cristãos conscienciosos lamentam profundamente. É preciso lembrar esses fatos continuamente para que eles não voltem a se repetir. Todavia, as contribuições e os benefícios que o cristianismo legou ao mundo são muito mais marcantes e numerosos que os seus erros, como o estudo desapaixonado da história demonstra de maneira conclusiva. Alguns desses benefícios não foram generalizados nem contínuos, tendo ocorrido mais em algumas épocas e lugares do que em outras.

A influência histórica
O cristianismo é a principal tradição cultural do mundo ocidental, o mais importante fator na formação histórica da Europa e das Américas. Assim sendo, a influência cristã permeia todos os aspectos da vida desses continentes e suas nações. Caso prevalecesse a tese dos autores que defendem a extinção do cristianismo, por uma questão de coerência vastas mudanças teriam de ser feitas na vida social desses povos. Por exemplo, o calendário teria de ser trocado por outro -- a semana de sete dias, os termos “sábado” e “domingo” (“dia do Senhor”) e a contagem dos anos (como 2008) não mais fariam sentido, porque todos têm origem cristã ou judaico-cristã. Algumas das celebrações e festividades mais apreciadas pelas pessoas (Natal, Páscoa, Dia de Ação de Graças) teriam de ser eliminadas. Milhões de pessoas teriam de mudar seus nomes de origem cristã, inclusive muitos ateus. O mesmo aconteceria com um imenso número de designações de cidades, logradouros e pontos geográficos. Os idiomas, a música, o folclore, as tradições e outros elementos seriam profundamente afetados.

Mas existem questões mais importantes. Olhando-se para a história antiga e recente, percebe-se o enorme impacto humanizador e civilizador do cristianismo. Desde o início da era cristã, houve uma grande preocupação com a dignidade da vida humana, que se traduziu no combate a práticas degradantes como o aborto, o infanticídio e as lutas de gladiadores. O cristianismo valorizou a criança, a mulher, o idoso, o casamento e a vida familiar. Embora no início os cristãos tenham mantido a escravidão que existia no Império Romano, a fé cristã continha valores que levaram à gradual extinção desse mal. Tem sido imenso, ao longo do tempo, o esforço dos cristãos em socorrer os pobres, doentes e desamparados de toda espécie, através de um sem-número de iniciativas e instituições humanitárias. Até hoje, tanto em tribos indígenas e populações carentes como entre povos adiantados, a contribuição cristã nessas áreas se faz notar de modo saliente.

O legado cultural
Sem desprezar as magníficas contribuições das antigas civilizações grega e romana, foi principalmente o cristianismo que moldou a vida dos povos ocidentais como os conhecemos hoje, além de exercer grande influência positiva na África e na Ásia. À medida que a fé cristã se expandia, ela elevou o padrão de vida dos povos que deram origem às nações européias. A contribuição cristã na área da educação tem sido das mais destacadas. Durante séculos, as únicas escolas que existiam estavam ligadas à igreja. Muitos povos, ao serem evangelizados, receberam simultaneamente a escrita e a alfabetização, como ocorreu entre os eslavos, na Europa oriental, e em muitas nações africanas. A Bíblia, traduzida para as línguas desses povos, se tornou importante nesse processo. As primeiras universidades (Paris, Bolonha, Oxford) e muitas outras surgidas mais tarde (Harvard, Yale, Princeton etc.) foram criadas por cristãos.

O cristianismo deu uma contribuição inigualável em outras áreas significativas, notadamente em séculos recentes. Alguns exemplos no âmbito político são o governo representativo, a separação dos poderes, a expansão da democracia e a ampliação dos direitos e liberdades civis. As convicções cristãs permitiram a ascensão econômica do homem comum, gerando prosperidade para famílias e povos. Outra área de atuação foi a ciência, não só pelo fato de que a maior parte dos cientistas ao longo da história têm sido cristãos, mas de que o cristianismo, com sua visão de um mundo ordenado e sujeito a leis fixas, porque criado por Deus, possibilitou o próprio surgimento da ciência. E que dizer das contribuições nos campos da literatura e da arte? Se não fosse o cristianismo, não teríamos obras como as “Confissões”, de Agostinho, a “Divina Comédia”, de Dante, o “Paraíso Perdido”, de Milton, e tantas outras. Não contemplaríamos as magníficas catedrais góticas, a Capela Sistina, bem como as esculturas e pinturas de Michelangelo, Leonardo da Vinci, Rembrandt e outros mais. Não poderíamos ouvir “O Messias” de Haendel nem as inspiradoras composições de Johann Sebastian Bach.

Valores religiosos e éticos
Os legados mais valiosos do cristianismo ao mundo são a vida e os ensinos de seu fundador, registrados no Livro dos Livros. Jesus Cristo, o carpinteiro de Nazaré que os cristãos consideram o próprio Filho de Deus encarnado, proferiu algumas das palavras mais belas, sublimes e cativantes que se conhecem na história humana. Ele falou das coisas transcendentes e eternas de modo simples e acessível a qualquer indivíduo. Os valores que ensinou, como o amor, a compaixão, o altruísmo, a integridade, a veracidade e a justiça, têm trazido benefícios incalculáveis ao mundo. Todavia, ele não se limitou às palavras e conceitos, mas exemplificou em suas ações as verdades que buscava transmitir. Por fim, deu sua vida na cruz para cumprir cabalmente a missão de que estava incumbido. Desde então, seu ensino e exemplo têm inspirado e transformado milhões de pessoas em todos os recantos do mundo, além de ter induzido mudanças radicais nos mais diferentes aspectos da sociedade.

Sem Cristo e seu grandioso legado, o mundo certamente seria um lugar muito mais sombrio, triste e desesperançado. Essa é a tese de D. James Kennedy em seu livro “E se Jesus não Tivesse Nascido?” (Editora Vida, 2003). Não se pode negar que muitos não-cristãos têm dado contribuições relevantes à sociedade. Os cristãos não têm dificuldade com isso, porque entendem que Deus atua em toda a criação e que sua imagem, ainda que desfigurada, está presente em todos os seres humanos. Todavia, as alternativas de um mundo sem fé e sem cristianismo podem se tornar aterrorizantes. Basta lembrar que os homens mais cruéis, desumanos e sanguinários do século 20 -- indivíduos como Josef Stálin, Adolf Hitler, Mao Tsé Tung e Pol Pot -- além de não serem cristãos, eram inimigos do cristianismo. Mesmo sem apelar para casos extremos como esses, está claro que o crescente secularismo que avassala o mundo, com sua relativização do significado e da importância da vida, representa uma grande ameaça para o futuro da humanidade.

Conclusão
Depois de afirmar todas essas realidades em defesa do cristianismo, destacando os elementos construtivos de sua herança milenar, é preciso acrescentar que os cristãos não têm motivos para se entregar ao ufanismo triunfalista. O cenário cristão contemporâneo tem dificuldades que deveriam produzir em seus fiéis um forte senso de humildade e contrição. As rivalidades, incoerências, mediocridades, extremismos e outras distorções existentes em muitas igrejas e grupos cristãos são amiúde as causas da atitude beligerante mencionada no início deste artigo. Daí a necessidade de se fazer uma distinção entre as estruturas de poder, as instituições humanas, a religiosidade meramente nominal e cultural, e o cristianismo genuíno ensinado por Cristo e seus apóstolos, exemplificado pelos elementos positivos da trajetória cristã. Somente se os cristãos retornarem continuamente aos fundamentos de sua fé, eles poderão continuar a proporcionar ao mundo e à sociedade os mesmos benefícios oferecidos por seus antecessores. 

Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e “Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil”. 
asdm@mackenzie.com.br