segunda-feira, 22 de agosto de 2016

MÚSICA CRISTÃ CONTEMPORÂNEA VERSUS HINOS TRADICIONAIS


João Wilson Faustini

Vemos claramente no dia de hoje, em quase todas as igrejas, de todas as denominações pelo mundo afora, pelo menos dois grupos de pessoas, muitas vezes apaixonadas e polarizadas, em uma verdadeira disputa sobre quais os tipos de musicas que devem ser usados nos cultos: a musica cristã contemporânea, muitas vezes chamada de gospel aqui no Brasil, (embora na realidade a musica gospel seja outro tipo de musica) ou a musica ou hinos tradicionais.
É muito difícil fazer uma avaliação justa e equilibrada sobre qualquer estilo de musica que é usado na igreja.
Muita coisa boa veio através dos cânticos menos formais e mais espontâneos que têm surgido nos últimos 30 anos na igreja. Mas há também muita riqueza que nos foi legada no passado, que não podemos simplesmente ignorar ou lançar fora.
Como muitos pastores e lideres musicais, tenho falado muito sobre esse assunto em todos os seminários, tenho feito palestras, escrito artigos, apostilas, livros e partituras. A musica, que normalmente uniria as pessoas, está na realidade dividindo as igrejas de uma forma nunca vista! Mas posso dizer com tranqüilidade, que continuo estudando esse assunto, e tenho me preocupado bastante. Esta disputa continuará, e sem dúvida, e cada vez mais cerrada. Tenho aprendido a ser mais flexível, e muitas vezes até me surpreendo com algumas gemas preciosas que surgem vez por outra, no meio de muita musica inútil e até perniciosa, que existe por aí.

As coisas que realmente me preocupam muito são:
1. O comercio
Segundo um artigo exposto no Wikepédia sobre a Musica Cristã Contemporânea no Brasil, este é o único segmento que cresce em todo o mercado fonográfico. Segundo a ABPD, (Associação Brasileira de Produtores de Disco) é o segundo gênero mais vendido no Brasil, perdendo apenas para o Pop Rock.
É um mercado pungente com um poder econômico que movimenta de R$ 1,5 bilhão até R$ 3 bilhões anualmente! A gravadora Line Records, por exemplo, cresceu 156% em faturamento só no ano de 2008, segundo um estudo feito pela ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil.) 
O mercado evangélico cresceu 30% no ano de 2009. Enquanto a industria fonográfica secular tem encolhido 20% ao ano, o gospel cresce 30% ao ano.
Temos visto noticias de diversos cantores não evangélicos que estão procurando fazer musica gospel para entrar neste rendoso mercado!
A revista Veja chegou a classificar o segmento de musica gospel como um mercado que não conhece crise”, por ser pouco afetado pela pirataria moderna e pelo compartilhamento de mp3 na Internet.
Muitos dos cantores gospel seguem os mesmos métodos de gravação, produção, de linguagem popular e de distribuição que os cantores seculares. Recentemente a Som Livre se interessou em distribuir os CDs e DVDs do grupo Diante do Trono, o que significa que os produtos desse grupo estarão em prateleiras de venda que nunca estiveram antes. Essa tendência do mercado secular fechar contratos de distribuição com gravadoras de musica gospel está afetando cada vez mais o mercado, simplesmente pelo motivo da boa venda e pelo grande poder econômico deste gênero musical. 
Os grupos que não têm distribuidoras próprias para os seus discos, procuram vendê-los nas igrejas onde se apresentam, ou passam a investir em eventos cristãos, shows, conferencias e congressos de Adoração, afim de divulgar suas gravações, como acontece com o grupo Chevrolet Hall.

Preocupa-me:
2. A Finalidade
Embora muitos grupos ou cantores sejam sinceros, e se propõem a fazer um trabalho de ministério, muitos acabam na realidade se tornando verdadeiros empresários comerciais, envolvidos em um mercado que visa grandes lucros e a qualquer custo. A tentação é muito grande, e como o atrativo financeiro é descomunal, muitos deles acabam se tornado estrelas e celebridades, enquanto o ministério se torna apenas uma fachada
Preocupa-me a perda da nossa
3. Identidade Cristã
Não é saudosismo, mas antigamente era fácil de se identificar os crentes, pelo tipo de musica que cantavam. O canto religioso era algo diferente do que se ouvia fora das 4 paredes do templo. Hoje não há mais diferença. A justificativa de querer alcançar o mundo com a linguagem do mundo é muito polêmica. 
Até mesmo os grandes lideres da Reforma, como Lutero, Calvino e outros, não hesitaram em usar musicas populares conhecidas, para serem cantatas com textos religiosos. Naquela época, porem, as diferenças dos estilos sacro e profano eram bem sutis, e as musicas que foram usadas por eles eram sóbrias e reverentes, o que não acontece hoje em dia, pela associação tão visível com estilos de roqueiros e ídolos artistas populares, muitos dos quais totalmente envolvidos em drogas e sexo, que freqüentemente morrem ou se suicidam ainda jovens.

Cristo disse que devemos ser luzes, e que nossa luz precisa brilhar onde há trevas. 
Paulo descreve que nas regiões celestes, vamos ouvir aquilo que o ouvido nunca se ouviu!! (I Cor 2:9) Escrevendo aos Coríntios ele deixa claro que não há harmonia entre Deus e o maligno e escrevendo aos Efésios nos lembra que, em Cristo, já habitamos as regiões celestiais. (Ef 2:6-7) ) Nossa musica precisa refletir e soar agora, para o mundo ouvir a beleza e a harmonia desse ambiente glorioso e solene da presença de Cristo!

Preocupa-me:
4. O abandono à nossa rica tradição
Concordo plenamente que usemos musicas novas, cânticos de nossa terra e de irmãos de outros países. Mas não podemos ignorar, ou lançar fora a maravilhosa herança que recebemos através dos séculos, a partir da igreja primitiva. Cânticos de teologia rica, que solidificaram tudo o que cremos hoje, por terem sido inspirados na Bíblia, não podem ser esquecidos! Alem disso, esta é uma responsabilidade que esta geração tem, que é a de passar para os nossos filhos e netos, todas as coisas boas que recebemos dos nossos antepassados!

Preocupa-me:
5. A falta de uma teologia solida no papel didático nos cânticos
Os próprios teólogos afirmam que o povo aprende mais teologia e Bíblia através dos cânticos do que através dos sermões que ouve nos cultos. Se isto é verdade, então precisamos ter muito cuidado ao fazermos as escolhas dos cânticos. O pastor local deve ser o responsável para verificar o conteúdo teológicos dos textos, e zelar para que o povo não seja apenas expectador, mas que participe dos cânticos, para expandir e solidificar o seu conhecimento a respeito da sua fé.

Preocupa-me:
6. A falta de um treinamento musical e geral adequado (Teoria, Harmonia, Técnica Vocal, Historia da Musica, Português, etc)
O Espírito de Deus se manifesta muitas vezes através da musica e de suas palavras. Os profetas dos tempos bíblicos profetizavam ao som de instrumentos. Os poderes da musica são paradoxais, isto é, opostos. A musica tanto serve para nos encher do Espírito de Deus como serve, para nos encher dos espíritos do Maligno. Um exemplo bíblico disto ocorreu no tempo de Davi, que afugentava o espírito mau de Saul, com o toque de sua harpa solene. 
É verdade que Deus pode usar as coisas “que não são” para confundir as que “são”. Mas isto não é justificativa para o nosso louvor ser musica barata e pouco estética, porque nunca fizemos um curso serio e adequado de musica. Nem para cometermos erros terríveis em nossa língua. 
Cantamos que Deus é digno. Ele é digno do melhor louvor. Do louvor que nos custe algo de esforço, de preparo, de esmero, de capricho. Ele é merecedor e espera sempre o melhor de nós, como tantos exemplos bíblicos que conhecemos, das primícias, do filho primogênito. Alem de tudo, Ele merece um coração que lhe preste culto com simplicidade e pureza.

Preocupa-me:
7. A falta de reverência nos cultos
É o resultado claro da soma de tudo que falamos:
Nossa adoração tem de ser alegre, cheia de vida, mas em geral vemos muito exagero.
Em nossos dias há muito som ensurdecedor e muito ruído, o que dificulta muito uma introspecção profunda, necessária para um auto-exame e reflexão, no culto. No Velho Testamento há muitas passagens que falam a respeito da importância do silencio na casa de Deus (I Reis 6:7), (Hab. 2:20) Alem disso, segundo Paulo, a nossa moderação deve ser conhecida por todos! 
A musica pode criar ambientes de alegria e exultação, mas há muita euforia presente no culto que pode na realidade estar nos satisfazendo fisicamente, mas pode não estar glorificando a Deus. 
A musica é sem duvida uma das artes que mais influencia a atmosfera e o ambiente, fazendo-o próprio ou impróprio. Ela tem poderes paradoxais, que tanto podem ajudar a criar atmosferas reverentes como pode também criar ambientes de agitação, de confusão e de irreverência, o que é totalmente impróprio para o culto. Tudo depende do tipo de musica que se usa. É por isso que os músicos do culto precisam ser criteriosos e cuidadosos, para não criar atmosferas vulgares e inadequadas para a adoração. 
No Novo Testamento ha uma narrativa a respeito da irreverência na casa do Senhor, quando Cristo derrubou a mesa dos cambiadores e vendilhões que estavam na porta no templo. Ele disse: Tirai daqui estas coisas. Esta é uma casa de oração. (João 2.16)

Conclusão:
As preocupações são muitas, mas a Igreja é de Cristo. Temos a certeza de que Ele está no controle, mas não podemos ficar alheios ao que está acontecendo em todos os lugares onde Deus é adorado. 
Sabemos que Satanás está nos rodeando como um leão, para tragar e dispersar a Igreja de Cristo. Sabemos também que os últimos tempos serão tempos difíceis, e de grande apostasia. A musica certamente poderá estar contribuindo muito para isso. Nós que já vivemos muitos anos, podemos ver nestas mudanças que ocorrem hoje, um sinal claro de que o tempo do fim está se aproximando. 
O coração de muitos vai se esfriar. É de se esperar uma apostasia geral, conforme as Escrituras, e que a igreja chegue até a abrir mão de muitos de seus princípios e marcas tradicionais. Temos de estar atentos ao que Deus já nos alertou em sua Palavra!

Um comentário:

Vida ou morte ? Pernambuco!!! Hei ! disse...

Todas as preocupações possuem um fundamento lógico, que acompanha vários cristãos. Ver nossos hinários esquecidos em alguma gaveta sem qualquer função , sendo eles verdadeiros Salmos de louvor ou de súplicas ao Nosso Deus, é uma tristeza muito grande, e a gente acaba por achar que a Igreja entrou na era descartável das coisas santas. Que Deus abençoe a você, nesse propósito de restaurar nossa história. Muitos crentes desta geração atual, possivelmente acharão engraçado, e pensarão que somos arqueólogos. ( por sua ignorância da própria história cristã ).