Este é o primeiro princípio para vencermos os problemas: a fé vem pelo olhar para Deus, não para a montanha.
Há alguns anos, um membro do coral da minha igreja e eu
fomos convidados por um líder cristão para ir ao sul da índia. Ali nos
reuniríamos a um grupo de ministério composto por pessoas de diversas regiões
dos Estados Unidos. Foi-nos dito que Deus nos usaria para alcançar para Cristo muçulmanos,
hindus e pessoas sem religião. Todos nós nos sentimos chamados por Deus para
ir, embora sem saber o que nos aguardava.
Ao chegarmos, o líder indiano nos convidou para ir a sua
casa. No decorrer dos dias, falou-nos de seu ministério.
O pai dele, orador e líder dinâmico, havia iniciado a missão
em uma região de domínio hindu. Certo dia, um líder hindu pediu a seu pai que
orasse.
Ansioso para orar com o homem, na esperança de levá-lo a
Cristo, aquele cristão conduziu-o a uma sala particular, ajoelhou-se com ele,
fechou os olhos e pôs-se a orar. Enquanto orava, o hindu tirou uma faca da
roupa e apunhalou-o repetidas vezes.
Meu amigo, ouvindo os gritos do pai, correu em seu auxílio.
Tomou-o nos braços, enquanto o sangue se espalhava pelo assoalho da cabana.
Três dias depois, o pai morreu. Em seu leito de morte, falou ao filho:
"Diga, por favor, àquele homem, que ele está perdoado. Cuide de sua mãe e
continue com este ministério. Faça o que for necessário para ganhar pessoas
para Cristo."
Com mais coragem e fé do que a maioria das pessoas jamais
sonharia em obter, este homem de Deus obedeceu. Há mais de vinte anos vem trabalhando
com fervor inacreditável. Fundou mais de cem igrejas, uma clínica médica, além
de vários tipos de ministérios.
Todo ano, geralmente em fevereiro, ele aluga um enorme
parque, monta um palco e um sistema de som improvisados, pendura algumas
lâmpadas e dirige reuniões evangelísticas durante uma semana. Faz publicidade
das reuniões por intermédio de cartazes e alto-falantes por toda a cidade. As pessoas
acorrem aos milhares e sentam-se no chão, em frente ao palco, homens de um lado
e mulheres e crianças, do outro.
As reuniões da noite começam às 18 horas. Por cerca de meia
hora eles ouvem música instrumental gravada, seguida por alguns números especiais.
Depois, vem o sermão de aquecimento. Instrutivo, prático e relevante para a
vida diária, seu objetivo é mostrar aos ouvintes que o Cristianismo faz
sentido.
Mais ou menos às 20 horas, mais dois números musicais são apresentados,
antes da mensagem principal, que é sempre centrada na pessoa de Jesus Cristo. O
pregador fala sobre quem era Jesus, o que Ele fez, como morreu, como sua morte
paga o preço pelo pecado, como sua ressurreição dá poder àqueles que colocam
sua fé e confiança nele.
Das 21h até 21h30, os ouvintes, quer sejam hindus,
muçulmanos ou não religiosos, são convidados a crer em Cristo. São chamados à
frente para receber perdão, purificação e vida eterna, depois são desafiados a abandonar
outros deuses ou sistema religioso que trouxeram consigo para a reunião, e a
colocar fé e confiança somente em Jesus.
Uma missão assustadora na índia
De terça até quinta-feira, minhas tarefas foram viáveis. Eu
falava em uma reunião bem pequena, na parte da manhã ou pregava o sermão de aquecimento,
à noite. Na sexta-feira, o líder do ministério disse: "Eu recebi orientação
de Deus e quero que você se encarregue do sermão principal desta noite."
Estarrecido, fiquei imaginando por que eu não havia recebido
uma orientação semelhante.
A barreira do idioma parecia quase intransponível, mesmo com
o tradutor.
Eu não estava familiarizado com a cultura e minha palavra
seria de pouca ou nenhuma relevância para a situação das pessoas. Seria difícil
usar ilustrações engraçadas. Eram tantas incógnitas que, toda vez que eu
tentava orar, depois de trinta segundos era impedido por dúvidas e temores. De que adianta?, pensava. As barreiras são intransponíveis.
A noite chegou. Pegamos um riquixá para o parque. Ao nos
aproximarmos, ouvi a primeira mensagem pelo alto-falante. Havia um pouco de
tempo para acalentar minha paranoia.
Sentamos no fundo do palco. Olhei, e vi o maior mar de
rostos que já vira na vida. Um dos líderes indianos me cutucou e disse:
"Temos vinte mil hoje, talvez trinta."
Depois desta, qualquer migalha de confiança que eu pudesse
ter, desapareceu. Vai ser um desastre - pensei. O
que estou fazendo aqui?
Olhei para trás do palco. O líder do ministério e diversos
líderes de sua confiança, com os rostos em terra, oravam.
Sei a respeito do que estão orando - refleti. Já
se deram conta de que o americano que vai pregar o sermão principal é bem capaz
de esvaziar o parque em questão de minutos!
Era do meu conhecimento que aqueles homens viviam na pobreza
e lutavam com dificuldades incríveis para pregar a Palavra de Deus. Haviam dado
suas vidas para que as pessoas presas em sistemas religiosos falsos pudessem
conhecer a verdade de Jesus Cristo. Como as reuniões anuais eram o ponto alto
de seus esforços de todo um ano, sentia-me angustiado com o revés que o trabalho
deles iria sofrer devido à minha pregação inepta.
Grande é a tua fidelidade
Àquela altura, o primeiro pregador terminou a mensagem. Eu
teria ainda cerca de dez minutos antes de entrar na linha de fogo. Pouco
depois, a solista da minha igreja se aproximou do microfone, para cantar.
Tenho que sustentá-la em oração - pensei - mas
serei o próximo, e quando o navio está afundando, é cada um por si.
Minha oração tornou-se mais veemente. Oh, Senhor, livra-me. Faça chover. Faça com que eu
desapareça!
A montanha parecia tão grande que eu não via porque pedir a
Deus para removê-la. Eu ficaria feliz se ela caísse sobre mim e me libertasse
da angústia.
Enquanto minhas orações lastimáveis dançavam em minha mente
cheia de dúvidas, eu ouvi timidamente a solista.
Grande é a tua
fidelidade, meu Pai celestial,
Não há sombras ao teu
lado;
Tu não mudas, tuas
misericórdias jamais se acabam;
Como tu eras, sempre
serás.
Grande é a tua
fidelidade! Grande é a tua fidelidade!
Tuas misericórdias se
renovam a cada manhã;
Tua mão provê todas
as minhas necessidades —
Grande é a tua
fidelidade para comigo, Senhor!
Como eu, a cantora não sabia a língua dos ouvintes.
Portanto, ela não podia apenas cantar uma canção; devia haver uma comunicação
de coração para coração, ou nada aconteceria. Ao mesmo tempo em que ela se
comunicava, de coração para coração, com milhares de pessoas diante do palco,
também se comunicava com um pastor angustiado, inseguro, sem fé, que precisava bem
mais daquela música do que a própria multidão. Algo aconteceu comigo ao ouvir a
letra de: "Grande é a tua fidelidade". Enquanto as palavras penetravam em meu
cérebro, lembrei-me para onde eu havia direcionado a minha atenção durante todo
o dia. Em mim mesmo: a barreira da linguagem, minha perplexidade cultural,
minha inexperiência, minha fraqueza, meu medo de fracassar, meu pavor de uma
multidão tão grande. Eu estava olhando apenas para a minha montanha, e só
conseguia ver minha incapacidade para removê-la.
Minhas orações eram lamentáveis porque eu olhava para minha insuficiência,
em vez de olhar para a suficiência de Deus!
Mudança de direção
À medida em que o hino continuava, disse a mim mesmo: Espere um pouco, vou mudar a direção agora mesmo. Vou
olhar para Deus, não para Hybels.
Eu tinha pouco tempo, e comecei a orar com fervor: "Oro
ao criador do mundo, rei do universo, o Deus Todo-Poderoso, onisciente e fiel.
Oro ao Deus que criou as montanhas e que, se for preciso, pode movê-las. Oro ao
Deus que tem sido sempre fiel a mim, que jamais me desapontou por mais assustado
que eu estivesse ou por mais difícil que fosse a situação. Oro ao Deus que
deseja produzir frutos por meu intermédio, e confio que serei usado por Ele
esta noite, não por ser quem eu sou, mas por quem Ele é. Ele é fiel."
Quando o hino terminou, o meu interior era de uma pessoa
diferente. Eu bem que aceitaria um substituto, caso alguém se oferecesse, mas
não me sentia mais apavorado. Estava pronto para começar, porque um Deus fiel era
o objeto de toda a minha atenção. Quando subi à plataforma com o tradutor, fiz
a oração que move montanhas, porque estava firmemente direcionada para a
suficiência de Deus, e não, para a minha insuficiência.
Naquela noite falei com a confiança concedida pelo Espírito
Santo, baseada na suficiência de Deus. Contei àquelas pessoas que alguém havia derramado
o sangue para pagar pelos seus pecados. Este alguém não era Buda, nem um deus
hindu, ou um personagem de um mito, ou conto de fadas. Foi um ser humano de
verdade chamado Jesus, o único Filho de Deus. Repeti inúmeras vezes: "Você
é importante para Ele. Ele derramou o próprio sangue para perdoar os seus pecados e
vocês podem ser libertos se colocarem sua fé e confiança nele."
Eu sabia que Deus estava operando enquanto eu falava.
Terminei a mensagem e as pessoas foram convidadas para
aceitar a Cristo.
Voltei para o fundo do palco, caí de joelhos e comecei a
orar: "Senhor, sei como estas pessoas são importantes para ti. Traga-as para
junto de ti."
Centenas e centenas de pessoas vieram à frente: hindus,
muçulmanos, incrédulos de todos os tamanhos e formas, cores e idade. Foram
tantos que pensei que meu coração fosse explodir. Estava me rejubilando por
todos os que encontraram uma nova vida em Cristo e, também, porque naquela noite
Deus, por intermédio da oração, havia pego uma montanha chamada medo e a havia
lançado nas profundezas do mar.
Naquela noite eu aprendi que, para Deus, não existem
barreiras. Deus está pronto para me usar. Quando eu me concentrei em Deus e não
na montanha, Ele pode operar por meu intermédio.
Bill Hybels
Trecho do livro
Ocupado Demais Para Deixar de Orar (Editora United Press).
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