segunda-feira, 14 de outubro de 2019

ABORTO DO ABORTO, poema de Isaac Costa de Souza



Aborto do Aborto

O único aborto permitido
Deveria ser o aborto do aborto

A dor do parto
É menor do que a dor da morte

O parto convida à luz
O aborto conduz às trevas

O parto é uma dádiva divina
O aborto, um castigo demoníaco

O parto traz choro de alegria
O aborto derrama lágrimas de miséria

O parto constrói um doce lar
O aborto cava uma amarga sepultura

O parto é um caminho que leva à casa
O aborto é a trilha que empurra para o féretro

O parto produz comunidade
O aborto confina ao isolamemto

Parto e aborto
Derramam sangue humano em seus atos

Mas o parto é sentença de vida
O aborto é sentença de morte

A palavra de ordem é abortar o aborto
Ele elimina a vida desde os seus primórdios

Navegar é preciso
Viver também é preciso
Pois o aborto é a grande tragédia da curta vida
De um indefeso feto
Que um dia foi desafeto de alguém
Mesmo antes de ter tido a oportunidade
De se defender do erro ou do acerto
Que de fato, sendo feto
Nunca chegou a cometer

Fonte: Revista O Evangelista de Crianças (APEC, Abril-Maio-Junho, 2017). 

Isaac Souza é missionário da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais. Formado em Letras e com mestrado em Linguística, Isaac é autor do livro De Todas as Tribos, pela Ultimato, em 1996 (segunda edição: 2003). Organizou ainda, com Ronaldo Lidório, o livro Questão Indígena - Uma Luta Desigual, pela Ultimato, em 2008.


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