Ruth Bell Graham
Santo Agostinho não foi
sempre uma pessoa piedosa. Sua mãe, Mônica, ensinou-lhe as doutrinas do
Cristianismo e orava por ele, mas a mente incrível de seu filho a deixava
atormentada. Certo dia, quando era adolescente, ele avisou que estava
abandonando sua fé em Cristo para seguir unia heresia moderna! Passou a ter uma
vida imoral. E Agostinho nunca fez as coisas pela metade. Foi o melhor e o
primeiro aluno no colégio e tornou-se o melhor e o primeiro nas festas mundanas
da juventude.
Eu
não conseguia distinguir a diferença entre o claro brilho da afeição e a
escuridão da luxúria... Eu não conseguia permanecer dentro do reino da luz,
onde a amizade liga uma alma a outra... E, assim, eu poluí o riacho da amizade
com as águas imundas da luxúria.
Não dei ouvidos ao clangor dos grilhões de
minha mortalidade, ao castigo do orgulho que existia em minha alma, e
afastei-me de Ti, e Tu me deixaste sozinho. Fui atirado de um lado para o
outro, vivi de maneira dissoluta e desregrada, mergulhei fundo em minhas
fornicações, e Tu preservaste a Tua paz, oh, Tu, minha alegria tardia!...
Cada um de nós tem uma
maneira própria de pecar. Alguns se deixam enganar porque seu pecado é
socialmente aceitável; afinal, aquele pecado não é tão grave assim. Outros
sofrem as consequências porque seu pecado não é aceito pela sociedade; vão
parar na cadeia ou são desprezados pelas pessoas que costumavam chamá-los de
amigos. A história de Agostinho é igual à nossa:
A
perda da fé sempre ocorre quando os sentidos começam a despertar. Nesse momento
crítico, em que os instintos naturais afloram, na maioria das vezes a
consciência das coisas de natureza espiritual fica ofuscada ou totalmente
destruída. Não é a razão que afasta o jovem de Deus; é a carne. O ceticismo só
serve para criar desculpas para a nova vida que ele está levando.
Mônica, contudo, continuou
a orar. Orava pelos pecados e pela heresia do filho. Orava pela luta do filho
com Deus. E Agostinho sabia disso.
Passaram
quase nove anos, nos quais eu chafurdei na lama do mais profundo abismo e na
escuridão da hipocrisia... Durante todo esse tempo, aquela viúva casta, piedosa
e sensata... não cessou de orar a Ti, suplicando em meu favor. E suas orações
chegaram à Tua presença; contudo, Tu continuaste a permitir que eu me
envolvesse cada vez mais naquela escuridão.
Aqueles anos não foram
fáceis para Mônica. Qualquer mãe que tenha um filho perdido na escuridão sabe
disso. Foram anos de sofrimento. Finalmente, ela recorreu ao bispo, um homem
devoto que conhecia muito bem a Bíblia, e pediu-lhe que conversasse com
Agostinho para apontar seus erros. O bispo recusou-se. Naquela época, Agostinho
tinha a fama de ser um ótimo orador e debatedor.
Em vez de conversar com
Agostinho, o bispo dirigiu sábias Palavras de conforto a Mônica, dizendo que
uma mente tão inteligente como a de seu filho enxergaria o caminho certo por
meio das decepções. Citou o próprio exemplo — ele havia sido maniqueísta.
Mônica não se sentiu
confortada com aquelas palavras. Continuou a implorar ao bispo em meio a rios
de lágrimas. Finalmente,cansado diante da tenacidade daquela mulher e, ao mesmo
tempo, sem saber o que fazer diante de tanto sofrimento, o bispo disse:
- Vá, vá! Deixe-me em paz. Continue a viver
sua vida. Não é possível que um filho, que lhe causa tantas lágrimas, possa se
perder.
Palavras ásperas
entremeadas de bondade e compaixão.
O filho rebelde continuou
a fugir de sua mãe e de Deus. Fugiu durante muitos anos. Um dia, porém,
Agostinho deu ouvidos a Santo Ambrósio, bispo de Milão, o religioso mais
conceituado da época. Exausto depois de tantos anos de fuga, convicto e
quebrantado, Agostinho arrependeu-se e aceitou Jesus.
Segundo os historiadores e
estudiosos cristãos, Santo Agostinho modificou o curso da História. Suas obras
foram e continuam sendo mais lidas do que as de quase todos os outros autores
ao longo dos séculos. Ele também é capaz de falar à geração atual, como que
transmitindo uma mensagem de coração para coração. Santo Agostinho levou a bom
termo as esperanças e as orações piedosas de sua mãe. Alguns dizem que ele foi
uma ferramenta usada por Deus para manter acesa a chama do Novo Testamento
quando o Império Romano desmoronou.
Pouco tempo depois que o
Filho Pródigo voltou para casa, sua mãe lhe disse que não tinha mais motivos
para viver. Passara a vida inteira desejando vê-lo voltar e aceitar Jesus. Nove
dias depois, ela morreu.
O pai do Filho Pródigo do
livro de Lucas estava tão ansioso por ver o filho retornar que o avistou quando
"vinha ele ainda longe". Mônica fez o mesmo. Ela o seguia de longe
enquanto ele fugia; reclamava de seus modos rebeldes quando ele voltava para
casa. Nunca parou de orar pelo filho que lhe causou tantas lágrimas.
Agostinho aprendeu com ela
uma lição que muitos filhos pródigos têm aprendido a respeito de nosso Pai
celestial: "A única maneira de um homem se perder é afastando-se de Ti;
e, se ele afastar-se de Ti, para onde irá? Ele só poderá fugir de Tua
misericórdia rumo à Tua ira."'
Deus deseja ardentemente
mudar as pessoas, afastando-as do foco de sua ira e levando-as em direção à sua
misericórdia. É terrivelmente penoso ver um filho ou uma filha escolher o
próprio caminho e segui-lo, mas devemos fazer o mesmo que a mãe de Agostinho.
Foi assim que Jesus nos ensinou. Espere por eles, ore por eles e nunca pare de
orar por eles. E, depois, olhe para a estrada com esperança. Talvez você possa
ver seu filho, aquele que lhe causou tantas lágrimas, surgindo em meio a uma
nuvem de poeira no horizonte.
Do livro Histórias Para o Coração, de Alice Gray (org.).
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