quinta-feira, 6 de maio de 2010

Desempenho e isolamento acústico nas igrejas - Entrevista com Miriam Jerônimo Barbosa

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Por Instituto Jetro

Assunto recorrente nos jornais é o fato das igrejas ultrapassarem os decibéis permitidos por lei e que são denunciadas por "atrapalharem" sua vizinhança com "o barulho" em seus cultos e atividades.

Mas como podemos evitar que as músicas e orações que entoamos ao Senhor não sejam um "incomodo" e motivo de mau testemunho para os nossos vizinhos?

Em busca de respostas para uma adequação acústica em nossas igrejas é que entrevistamos a Drª Miriam Jerônimo Barbosa. Profª Miriam é engenheira civil pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), especialista em Controle do Ambiente em Arquitetura. Mestre pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/ USP) em Arquitetura, doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL) desde 1980 atuando nas áreas de Materiais e Componentes de Construção, Desempenho Térmico e Acústico de Edificações, Adequação Ambiental e Ergonomia.


 
Qual a importância de se garantir o conforto térmico-acústico nos ambientes das organizações?

Miriam - Para melhor compreensão, pode-se entender conforto ambiental como o conjunto de exigências que o usuário espera encontrar nos ambientes por eles ocupados para as suas atividades diárias de viver, conviver, trabalhar, estudar, descansar e etc. A inadequação destes ambientes é visualizada pela insatisfação de seus usuários.
Os ambientes devem oferecer para os seus usuários as condições favoráveis para o perfeito funcionamento das atividades a serem ali desenvolvidas sem que aconteça um esforço maior dos usuários, evoluindo para um nível de estresse, permitindo assim, situações de fadiga e até a instalação de patologias. Assim pode-se considerar que um ambiente apresenta um bom desempenho térmico ou acústico quando oferece condições favoráveis ao desenvolvimento de atividades, sem o risco de prejudicar ou atrapalhar seus usuários no exercício destas atividades.
Portanto a garantia de uma boa resposta térmica e acústica dos ambientes representa a satisfação dos usuários destes ambientes e esta satisfação é de fundamental importância para a saúde, a produtividade, a harmonia, o desenvolvimento social, a paz e a felicidade em geral.

Qual a diferença do isolamento acústico e do controle de reverberação (absorção)?

Miriam - O isolamento acústico é toda ação que tenta interromper a propagação do som. O ruído ou som, ou energia sonora, sai de uma fonte sonora, se propaga e chega até uma recepção sonora. O meio de propagação é o ar contido no espaço usado. A recepção é aonde o som chega. Então a propagação se dá entre a fonte e a recepção. Um exemplo de fonte sonora é um apito na boca de uma criança. Quando a criança sopra o apito, o som se propaga no ar e chega até aos ouvidos das pessoas que compartilham com a criança o mesmo ambiente. Os ouvidos das pessoas são pontos de recepção.
O isolamento pode ser feito na fonte, na recepção ou na propagação. Entre dois ambientes construídos o isolamento mais efetivo é obtido pelo enfraquecimento da propagação sonora através de uma barreira que secciona a propagação do som. Esta barreira pode ser conforme a Lei de Massa na qual o peso da barreira é proporcional ao enfraquecimento, ou pode ser com múltiplos painéis paralelos aonde se alternam efeitos de reflexão e absorção.
O controle da reverberação é diferente do isolamento por que no isolamento o objetivo é impedir a propagação do som e no controle da reverberação o objetivo é controlar a intensidade e o tempo de permanência das reflexões sonoras dentro do ambiente.
O isolamento é requerido quando a questão é impedir o vazamento de som de um ambiente para outro. Já o controle da reverberação é requerido quando a questão é melhorar a qualidade da propagação de som dentro de um ambiente para se obter melhor inteligibilidade sonora. Em outras palavras o isolamento é para impedir os sons indesejáveis de fora para dentro ou de dentro para fora dos ambientes e o controle da reverberação é um tratamento interno para modelar o som dentro do ambiente.
A absorção sonora é um fenômeno físico muito utilizado para o controle da reverberação. Para entender melhor o fenômeno é bom relembrar os conceitos da física de reflexão, absorção e transmissão de radiações.
A propagação sonora também é uma radiação que atingindo um obstáculo, parte da incidência vai ser absorvida, outra parte vai ser transmitida e uma terceira parte vai ser refletida. A reverberação pode ser controlada reduzindo-se a parcela refletida, para evitar as várias reflexões em direções e tempos desencontrados, que resultam em desarmonia sonora dentro do ambiente.
A forma mais usada para reduzir a reflexão é através da absorção. As superfícies lisas e duras são refletores de sons e as superfícies macias, flexíveis, porosas e fibrosas são absorvedoras de sons.

Quais os materiais utilizados no isolamento e no controle de reverberação?

Miriam - Basicamente para isolamento de som de um ambiente para outro, usa-se paredes e coberturas maciças e pesadas. Mas o isolamento também pode ser obtido com materiais leves, só que para isto deve-se trabalhar com painéis múltiplos paralelos alternando-se absorção e reflexão. No caso de salas especiais e edifícios é mais simples trabalhar com as paredes e coberturas maciças e pesadas, a não ser que por outros motivos seja proibitivo o uso de sobrecargas.
Como exemplo de paredes maciças e pesadas pode-se citar as alvenarias de blocos pesados de concreto ou tijolos cerâmicos maciços ou ainda paredes monolíticas de concreto pesado. As coberturas pesadas são as formadas por telhas cerâmicas e lajes maciças ou lajes mistas com camada espessa de concreto.
Já no caso do controle de reverberação é necessário o uso de superfícies absorventes aparentes, voltadas e expostas para o espaço interno. Isto é complicado porque as superfícies absorventes são frágeis e vulneráveis, demandando maior cuidado na especificação destes materiais para não serem causadores de outros problemas relacionados com dificuldades na manutenção e limpeza do ambiente.

Qual é o melhor material acústico? Qual é o mais utilizado em igrejas?

Miriam - A madeira é um bom material para tratamento acústico por que tem um desempenho contrário aos outros materiais de revestimento. Ou seja: absorve melhor os sons de baixa freqüência (graves) e menos os sons de alta freqüência (agudos).  A madeira deve ser sempre adotada como material de revestimento interno para manter a linearidade de absorção requerida para um bom desempenho acústico de salas especiais. As igrejas deveriam usar os revestimentos de madeira. 

Quando o forro acústico é indicado? E o jateamento de fibras mineral e vegetal?

Miriam - O forro acústico pode funcionar como elemento de isolamento quando necessário e também para o controle da reverberação. Quando o espaço é muito grande a superfície da cobertura é a maior responsável pelo vazamento de som. Mas em se tratando de controle da reverberação o forro é a superfície mais indicada para trabalhar o tratamento acústico do espaço, por estar mais exposta para o interior do espaço e por estar mais livre e disponível para ser recoberto com materiais absorventes.
As fibras minerais jateadas funcionam como materiais absorventes. Não é muito indicado que estes materiais fiquem livremente expostos para o ambiente ocupado pelos usuários, porque podem soltar partículas com o tempo. O ideal é que estes jateados fiquem entre os painéis paralelos múltiplos, alternando reflexões e absorções, e assim possam apresentar um efeito de isolamento acústico.

O isolamento acústico é um alto investimento?

Miriam - Considerando a complexidade do que já foi exposto, o custo do isolamento acústico é sempre maior do que se espera. Pode-se supor que o desembolso para obter-se um isolamento acústico satisfatório é da ordem de uma construção dupla, por que terá paredes externas duplas e cobertura dupla. 
A tecnologia já foi desenvolvida, os materiais também existem e estão no mercado dos grandes centros prontos para serem comprados e aplicados, mas as soluções têm um custo muito alto e não adianta usar as similares mais baratas, por que o barato sai sempre mais caro. 

Quais os conselhos que daria para os administradores, gestores, pastores ou líderes que desejam melhorar a acústica da sua igreja ou organização? 

Miriam - Antes é preciso uma conscientização mais concreta do problema.
Porque isolar e tratar o som?
Estamos falando de tempos onde temos aparatos tecnológicos com capacidade para elevar o nível de pressão sonora acima dos níveis aceitáveis para o sistema auditivo humano. E esta novidade é adotada naturalmente com a justificativa de facilitar a comunicação em massa.
Aqui cabe mais uma questão para reflexão: é lícito gerar sons de níveis acima dos nossos limites de aceitabilidade para depois ter que usar também uma tecnologia desenvolvida para conter, abafar e enclausurar toda esta energia gerada? Será que estamos usando práticas sustentáveis para o desenvolvimento das nossas atividades ou será que devemos repensar os nossos caminhos?

Mas admitindo que seja toda esta adoção de evolução tecnológica, uma saída inevitável para as práticas das atividades culturais e sociais dos tempos atuais, então temos mesmo que adotar as novas tecnologias desenvolvidas para resolver os problemas que nós mesmos criamos.

Não é admissível fazer um bom isolamento acústico e não tratar o espaço interno. Esta atitude denota só uma preocupação em cumprir com as exigências legais para se ver livre do problema. A atitude consciente é aquela que se preocupa em eliminar o incômodo dos usuários do espaço público e também promover o conforto dos usuários do seu espaço interno ou de sua comunidade.

Os espaços com pé direito mais altos têm acústica melhor. A proporção certa é que a menor dimensão entre altura, largura e comprimento, do espaço, não seja menor que um terço da maior dimensão.
Quanto mais altas forem as dimensões do espaço, menores serão os problemas acústicos a serem resolvidos. Um bom tratamento acústico deve contar com painéis refletores para uma boa distribuição da energia sonora.
A área de materiais absorventes deve ser bem distribuída nas superfícies internas do espaço. Os grandes salões geradores de altos níveis sonoros devem ser localizados no centro e os espaços de administração, circulação, serviços etc. devem ser periféricos.
Os barracões de coberturas leves e fechamentos laterais com espessura menor que 15 cm, fatalmente serão espaços com um desempenho térmico e acústico deficiente.
Os templos construídos na Europa, na idade média, apresentam um bom desempenho acústico por que são usados materiais pesados e os espaços internos são grandes e altos.

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