sábado, 17 de março de 2012

Ministério com Adolescentes




Pr. José Bernardo

O texto a seguir é minha resposta a um ministro de adolescentes que assumiu recentemente e solicitou uma orientação norteadora para seu ministério. Condensei muitos e complexos conceitos em uns poucos parágrafos. Trato da maior parte desses assuntos em meu livro Líder Adolescente [veja aqui], escrito para ajudar pastores, líderes e pais a compreender melhor os adolescentes e ajudá-los a viver uma vida cristã santa e produtiva.

1. Considero adolescência, em uma visão neurológica, a idade que vai dos 11 aos 17. Onze é uma idade média para o início da puberdade, as meninas podem entrar um pouco antes, os meninos um pouco depois. A puberdade marca o início das transformações cerebrais que definem a maior parte do que chamamos adolescência (poda e isolação dos cérebros motor e emocional) e também o início do desenvolvimento sexual. 17 anos é o final do ensino médio, o início de uma nova fase de escolhas e caminhos, oportunidades e responsabilidades. Também é a idade em que uma nova fase no desenvolvimento cerebral define a maior parte do que podemos chamar de juventude (início da poda e isolação do lobo frontal – progressiva predominância da racionalização).

a. Considero razoável dividir a adolescência em duas fases que chamo de adolescência recente e adolescência plena ou posterior. Na adolescência recente, dos onze até mais ou menos os catorze, o adolescente é predominantemente motor, físico: fala e visão já são bem rápidas, e a resposta física é mais intensa. Na adolescência plena o adolescente atinge maior amplitude emocional e as emoções primárias (raiva, euforia, medo, nojo) predominam inclusive sobre o físico, dando maior propósito e significado à atividade motora.

2. Um dos maiores desafios no ministério com adolescentes, especialmente os nascidos em famílias evangélicas, é a transição da fé afetiva para a fé racional. A fé afetiva é aquela que depende do ambiente dos relacionamentos. O carinho, as atenções, os contatos positivos e os modelos que a criança percebe podem vinculá-la à igreja. Essa experiência é positiva, suficientemente bíblica e funcional durante a infância. É um privilégio crescer integrado na comunidade da fé. Contudo, a partir do início da adolescência, com as mudanças neurológicas e no próprio ambiente do adolescente, a fé afetiva já não é suficiente. Eles precisam de uma fé racional. Os adolescentes que se convertem vindos de famílias de outras experiências religiosas, frequentemente o fazem a partir de questionamentos que eventualmente os levam diretamente à fé racional, já os filhos dos crentes precisam ser estimulados a desenvolver o caráter de sua fé. O desenvolvimento da fé racional deve acontecer em dois estágios:

a. Na adolescência recente, a fé racional deve se desenvolver através da argumentação. O domínio da fala permite e obriga o adolescente ao discurso e ao diálogo. Então, eles precisam desenvolver uma reserva de argumentos que lhes permita responder a quem questione sua fé. A experiência de responder com segurança, realimenta a fé argumentativa e se reflete interiormente, no discurso íntimo. Sem isso, a fé, apenas afetiva, começa a se diluir e o desvio começa a se configurar.
b. Na adolescência posterior, a fé racional é experiencial, aproveitando-se o enorme avanço da capacidade emocional do cérebro. Nessa fase, as experiências em ‘ouvir Deus falando’ através da meditação, a beleza achada na oração, o contato com o suprimento de Deus e com os resultados da missão cristã causam um impacto profundo e preservador na vida do adolescente.

3. Para efeito de pastoreio, especialmente em igrejas maiores, eu organizaria o ministério com adolescentes em três grupos, se possível (e acho que não é), sem o critério da idade, escolhendo os adolescentes de acordo com sua maturidade, interesses e necessidades. As necessidades que apresentarei a seguir, como principais, são genéricas, e podem ser mais ou menos intensas de pessoa para pessoa e de grupo para grupo.

a. Grumetes (11 a 12 anos por suposto): Sua principal necessidade é lidar com a própria adolescência, as transformações fisiológicas (ou o atraso delas) e o reflexo disso em sua percepção de si, no relacionamento familiar, na nova dinâmica de grupo.
b. Marinheiros (13 a 15 anos por suposto): Sua principal necessidade é disciplinar a sexualidade (namoro, masturbação, pornografia, sexo) e driblar o intenso apelo da mídia ao sexo e a coerção das novas políticas ditas de educação sexual.
c. Pilotos (16 a 17 anos por suposto): Sua principal necessidade é definir seus próximos passos na vida (vocação, vestibular etc.), ajudando-os a superar a pressão para a cisão com os adultos que podem ajudar no processo decisório.

Portanto, como norte, de modo geral, penso que a grande responsabilidade do ministro de adolescentes é garantir a passagem da fé afetiva para a fé racional, identificando as áreas de tensão com o mundo e provendo os adolescentes com argumentos que facilitem sua resposta, a experiência positiva em responder e o fortalecimento do discurso interno de fé. Nisso, dê atenção para ajudá-los a entender e se preparar para as modificações físicas e os impulsos sexuais. Considere também a necessidade de ajudar a alguns com a definição de sua identidade sexual (essa é uma das áreas sob maior pressão da política de desarticulação).
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*Aqui no blog Arsenal do Crente mantemos uma seção de links somente sobre 
 adolescentes, e ao ministério deles e entre eles.  Confira:

JOVENS e ADOLESCENTES

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