quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Arraigado no Caráter de Deus - Sobre a tradução da Bíblia


Eddie Arthur
Em uma conferência recente para líderes de tradução da Bíblia foi feita uma pergunta fascinante para o público, mais ou menos com estas palavras: ‘Quem provê nossa motivação para a tradução da Bíblia: a igreja mundial ou os grupos de povos não-alcançados?’
Esta é uma pergunta fascinante que até certo ponto reflete a história das organizações que mais se envolveram na tradução da Bíblia por todo o mundo. As Sociedades Bíblicas Unidas, em sua maior parte, foram motivadas para traduzir as Escrituras por grupos de igrejas por todo o mundo; sua tradução foi motivada pela eclesiologia.
Outras organizações, tais como a Wycliffe, foram motivadas para pôr a Bíblia (ou pelo menos o Novo Testamento) a disposição de povos que ainda não ouviram o evangelho; sua motivação é primordialmente missionária. Nos últimos anos esta distinção se erodiu progressivamente devido ao crescimento explosivo da igreja por todo o mundo; grupos que até recentemente não tinham sido alcançados agora têm igrejas florescendo que estão clamando acesso às Escrituras em sua própria língua.
Em termos pragmáticos, a tradução das Escrituras para um povo não-alcançado é um empreendimento muito diferente de traduzi-las para uma igreja já existente. O grau em que a comunidade local assumirá a responsabilidade e proverá recursos para o trabalho de tradução dependerá em grande parte de quanto a consideram importante.
Obviamente, é mais provável que uma igreja estabelecida veja a tradução da Bíblia como importante do que um grupo com um sistema de crença muito diferente. Devido a isto, pode ser mais estratégico que uma organização de tradução invista seus recursos no povo não-alcançado, porque é improvável que eles mesmos traduzam as Escrituras.
Por outro lado, a tradução da Bíblia é uma tarefa altamente técnica, e poucos povos minoritários, por mais motivados que estejam, têm a capacidade para traduzir as Escrituras por si mesmos. Não só isso, mas também uma tradução feita em cooperação com uma igreja estabelecida tem maior probabilidade de ser usada do que a produzida como esforço missionário para um povo não-alcançado. Talvez seja melhor esperar que se inicie uma igreja antes de começar a tradução. Não há respostas fáceis.
No final das contas, nossa motivação para a tradução das Escrituras não são nem as necessidades da igreja nem a dificuldade dos povos não-alcançados; ela reside no caráter e nas ações do Deus trino. Escrevi isto em um blog faz alguns meses:
... a motivação e visão para a missão começou no Cristo encarnado, irrompendo na história sem reservas, esvaziando-se a si mesmo e finalmente submetendo-se à morte em uma cruz. Assim como Cristo veio ao mundo, do mesmo modo seu povo se estende por todo o globo espalhando as Boas Novas de um Deus que traduziu a si mesmo a fim de que possamos entendê-lo. O centro destas Boas Novas é a criação de comunidades nativas redimidas que expressam o evangelho através das múltiplas culturas, todas se somando para produzir uma sinfonia de louvor ao nosso Deus. A tradução das Escrituras se encontra bem no núcleo disto. A tradução não é simplesmente uma maneira de levar a mensagem; a tradução é a mensagem.
A diversidade na unidade, encarnação e comunicação são fundamentais para a natureza de Deus, e é o caráter de Deus que provê a base para a tradução da Bíblia e expressões diferentes da fé cristã em diferentes contextos. A fé cristã não sabe nada sobre conformidade monolítica; começou em uma alegre expressão de variedade e diferença que continua diversificando-se conforme se estende pelo planeta.
Parte do resultado desta explosão de variedade é que as pessoas (sejam igrejas ou povos não- alcançados) podem entender o evangelho com clareza porque se expressa em sua própria língua. Isto se ilustra em um artigo de leitura obrigatória de Patrick Johnstone (do Operation World) titulado “A Tradução da Bíblia e o DNA Transcultural da Igreja Cristã”. Patrick demonstra com clareza como as Escrituras traduzidas foram essenciais para o crescimento da igreja cristã através dos séculos.
Entretanto, atrevendo-me a debater com um personagem tão bem conhecido, penso que ele realmente não capta a essência do assunto. Patrick fala que a igreja tem um DNA transcultural, mas não mostra como a igreja herdou este DNA da unidade na diversidade que se acha no coração da natureza de Deus. A missão não começa com a natureza da igreja, começa com a natureza de Deus. Onde os recursos são limitados, todas as organizações de tradução têm que tomar decisões quanto a comunidades às que poderão servir melhor. Entretanto, quere trabalhemos com igrejas estabelecidas ou com povos não-alcançados, a tradução da Bíblia fala de unir-se a Deus em sua grande visão para chamar diversos povos multilíngües e multiculturais para servi-lo e adorá-lo neste mundo e no vindouro. Fazemos tradução da Bíblia porque assim é o Deus a quem servimos.
Com base em um artigo intitulado, "Who do we translate the Bible for?" publicado no blog de Eddie Arthur, Kouya Chronicle.
Eddie Arthur currently serves as Executive Director of Wycliffe UK.
- See more at: http://www.wycliffe.net/resources/missiology/Bibletranslationandmission/tabid/96/Default.aspx?id=1104#sthash.hHZ8DuN6.dpuf

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