sábado, 21 de agosto de 2010

Resgatando a memória da Igreja - Entrevista com Wander de Lara Proença

*
http://www.institutojetro.com

Como cristãos, deveríamos entender a necessidade de termos memória. A nossa fé nos relaciona especificamente com uma longa história da interação de Deus com o mundo. Devemos abrir os nossos olhos para reconhecer a história de fé das nossas igrejas na história completa do povo de Deus, preservando os dados e informações.

Afinal, sabemos quem são os pioneiros da Igreja? O que eles pregaram? O que eles enfrentaram para levar à mensagem de Cristo?Sabemos sobre o sistema de governo?Conhecemos suas doutrinas?

Numa época em que se fala muito sobre o futuro, entendemos que olhar para o passado é de certa forma a garantia para não perder o foco e perseverar no cumprimento da missão.

A preservação de dados não deve ser vista como uma tarefa secundária ou chata, mas sim como uma emocionante oportunidade de enriquecer o nosso passado assim como o trabalho presente.

Para falar sobre este tema entrevistamos o Profº Wander de Lara Proença. Profº Wander é graduado em Teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana e em História pela Universidade Estadual de Londrina / UEL e especialista em crescimento religioso nos espaços urbanos pela FTSA. Com mestrado em História Social pela Universidade Estadual de Maringá / UEM e Universidade Estadual de Londrina / UEL e doutorado em História, na área de História e Sociedade, pela Universidade Estadual Paulista / UNESP.
Professor da Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA), em Londrina, nas áreas de História, Antropologia e Sociologia. Professor colaborador da Universidade Estadual de Londrina (UEL) nas disciplinas de História Moderna, Tópicos de Ensino de História Moderna e História Geral. Organizador e atual coordenador do Centro de Documentação e Pesquisa Histórica, locado na FTSA, sobre religiões e religiosidades no Paraná e atual coordenador do curso de graduação em Teologia da FTSA. 

Autor do livro Magia, prosperidade e messianismo: representações e leituras no neopentecostalismo - casos de Londrina e Maringá (1975-1999) e do Sindicato de mágicos: uma história cultural da Igreja Universal do Reino de Deus (1977-2006) 


  
Em sua opinião, as Igrejas estão preocupadas em resgatar e valorizar a sua memória?

Wander -
Geralmente, não. Fazemos parte de uma geração que se acostumou a valorizar somente o "novo", um exemplo disto é o que ocorre no mundo dos equipamentos eletrônicos: o que hoje é considerado de "última geração" em seis meses já se tornou obsoleto; o passado é visto como algo "arcaico", "superado", sinônimo do que não "faz mais sentido".

Esse comportamento de descartar o que passou repercute também na memória das igrejas. Especialmente as igrejas ou comunidades de uma trajetória mais recente. Elas não costumam valorizar a história ou memória, isto, a meu ver, também por dois principais motivos:
a) por terem, quase sempre, surgido de conflitos ou divisões envolvendo outra denominação. Logo, a lembrança do passado não traz recordações "positivas", por isso, torna-se necessário para esses grupos afirmar e valorizar somente o "novo", o que surgiu depois.
b) vive-se muito um tipo "presentismo", ou seja, a preocupação do discurso das igrejas atuais está voltada para questões muito imediatas, do cotidiano; trabalha-se com uma mensagem que aponta para as possibilidades e promessas "futuras", para algo bom que deverá ocorrer em breve.  

Qual a importância de contar a história e ter estes dados documentados?

Wander -
O conhecimento da história é fundamental para qualquer instituição ou organização, pois além de significar a referência identitária, também representa o parâmetro que marcou os sonhos iniciais, os projetos e metas estabelecidos, os desafios que foram superados, ou seja, de onde se veio, onde se chegou e para onde é possível ir. A preservação dos documentos ou dados que registram a história de uma organização é imprescindível, neste aspecto, pois, além de possibilitar esta compreensão que expusemos, também servirá de base ou fonte para futuras pesquisas, análise e compreensão do se realizou no tempo.

Quais dados e documentos são relevantes e que contam a história de uma Igreja?

Wander - Os mais diversos tipos de registros ou dados podem ser considerados importantes. Mas, se fôssemos elencar como um começo, ou ponto de partida para uma organização que queira constituir um arquivo ou acervo de sua memória, sugeriria, por exemplo: atas, fotos, encartes, panfletos de divulgação, boletins, reportagens publicadas em jornais sobre a organização, gravações áudio-visuais com depoimentos de fundadores ou pioneiros, dentre outros. Esse conjunto de fontes ajudaria muito a quem, posteriormente, viesse a pesquisar e escrever sobre a história da referida instituição ou organização.

Como coletar e arquivar estes dados?

Wander - Um bom começo seria a iniciativa da liderança da igreja em designar alguém ou uma pequena equipe para realizar um inventário sobre o que já existe sobre aquela instituição local, fazendo uma "busca" inicial pelos diferentes tipos de registros, como os que mencionamos na resposta anterior. Para essa tarefa, seria importante consultar algum profissional do campo da história ou de arquivologia para uma orientação sobre os procedimentos de coleta, catalogação e armazenamento destes materiais. As faculdades destes campos de conhecimento geralmente se dispõem a prestar assessoria envolvendo estudantes/estagiários que podem orientar uma equipe de pesquisa em uma igreja local, por exemplo. Uma boa disposição de líderes e membros no sentido de disponibilizar os diferentes tipos de registros é algo importante neste processo.Também é importante que os pesquisadores realizem a gravação de depoimentos de participantes que vivenciaram aquela história, líderes, fundadores etc.

O que esta história possibilita para a nossa geração e as futuras?

Wander - Possibilitaria um conhecimento das origens, dos caminhos percorridos, dos desafios superados e, por conseguinte, uma identificação maior com aquela instituição ou organização. Certamente, isto redundará em inspiração à nova geração para dar seguimento de modo ainda mais aguerrido à história cujos capítulos escritos tiveram a participação de inúmeras pessoas e custaram, quase sempre, o esforço e entrega de seus pioneiros; ou então, para corrigir rumos e atualizar as práticas a partir dos ensinamentos que a interpretação do passado costuma proporcionar. A história também é importante porque as igrejas recebem permanentemente novos membros, os quais, muitas vezes, ali participam sem saber praticamente nada sobre a identidade e a origem daquela organização.

Quais os conselhos que daria para pastores e líderes quanto ao resgate da memória das suas Igrejas?

Wander - Recomendaria que dessem mais valor à história da organização a que pertencem, partindo de gestos e atitudes práticas, como: nas datas de aniversário de sua igreja, promover eventos celebrativos com a elaboração, por exemplo, de mensagens sobre a história, o testemunho de vida de seus membros pioneiros, publicação de artigos em boletins, exposição de painés ou murais com fotos e outros tipos de registros para o acesso à estas formas de memória pelos que ali são participantes. O que respondi na questão sobre como coletar e arquivar estes dados seria um bom procedimento que eu deixaria como sugestão aos líderes que se despertarem para esse tema.

Reprodução autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e a fonte como: http://www.institutojetro.com/ e comunicada sua utilização através do e-mail artigos@institutojetro.com.

Um comentário:

Marcos Tedesco disse...

Paz em Cristo,
Parabéns pelo seu blog! Que Deus possa continuar te usando para abençoar a vida de muitos internautas por esse Brasil afora.
Marcos
http://marcostedesco.blogspot.com/