Os escritos dos Pais eclesiásticos não são Escrituras inspiradas. Nós não os consideramos como uma autoridade no ensino. Contudo, eles oferecem evidência do ensino que foi dado à Igreja de sua época. Possuímos uma corrente ininterrupta de escritos, desde o tempo dos apóstolos até os nossos dias que podem mostrar-nos toda a história do pensamento cristão sobre o assunto da justificação.
A pergunta que dirigimos aos primeiros Pais eclesiásticos é esta: poderia a doutrina da justificação pela graça, mediante a fé nos méritos de Cristo, ser encontrada em algum dos escritos durante o primeiro período da história da Igreja? Se pudermos, então teremos provas conclusivas de que a doutrina não foi uma invenção de Lutero, como se diz às vezes! Mas, se a verdade fosse conhecida por qualquer um dos primeiros Pais eclesiásticos, então, com toda certeza, foi conhecida antes da Reforma.
Clemente de Roma (talvez o mesmo mencionado em Filipenses 4:3), em sua carta aos Coríntios, diz:
"Nós também, sendo chamados mediante a Sua (Deus) vontade
Inácio, um discípulo do apóstolo João, escreveu:
"A Sua (Cristo) cruz, a Sua morte, a Sua ressurreição e a fé que vem por meio dEle, são as minhas garantias imaculadas; nessas, pelas suas orações, acredito que tenho sido justificado." (Epístola aos de Filadélfia)
Policarpo (falecido em 155 dC), também um discípulo do apóstolo João, escreveu:
"Eu sei que mediante a graça você é salvo, não por obras, mas sim, pela vontade de Deus
Justino Mártir (falecido em 165 dC), escreveu:
"Não mais pelo sangue de bodes e de carneiros, nem pelas cinzas de uma novilha... são os pecados purificados, [1] e sim, pela fé, mediante o sangue de Cristo e de Sua morte, que por essa razão morreu." (Diálogo com Trifa)
Numa carta (escrita cerca de 150 dC) dirigida a uma pessoa chamada Diogneto, que evidentemente tinha indagado a respeito da cristandade, encontram-se as seguintes frases:
"Deus deu o Seu próprio Filho em resgate por nós ... porque, o que poderia encobrir os nossos pecados, senão a Sua justiça? Quem possibilitou a justificação de transgressores e impiedosos, tais como nós, senão o Filho de Deus somente? Quão maravilhoso é o benefício inesperado, que a transgressão de muitos pudesse ser escondida em uma só Pessoa justa e que a justiça de Um só pudesse justificar a muitos transgressores."
No período iniciado com o reinado de Constantino (falecido em 337 dC), quando o cristianismo tornou-se uma religião oficialmente reconhecida, e não mais uma fé perseguida, algumas heresias surgiram e feriram várias doutrinas básicas do cristianismo. Inevitavelmente, um erro no trato de uma verdade cristã, envolveu erros a respeito de outras também, isto é, conceitos deficientes quanto ao pecado impediram que alguns compreendessem a sua necessidade de um Salvador. Outras heresias relacionaram-se com a Trindade, a encarnação de Cristo e a incapacidade do pecador perdido para fazer obras espirituais. Essas heresias todas enfraqueceram o entendimento da justificação bíblica.
Ao combater essas heresias e reafirmar a impotência pecaminosa da natureza humana, a necessidade de salvação pela graça e a expiação eficaz oferecida por Cristo, os fiéis remanescentes lançaram fundamentos seguros para a doutrina da justificação pela graça mediante a fé em Cristo.
Irineu (falecido no princípio do terceiro século), um discípulo de Policarpo, escreveu:
"... através da obediência de um homem, que primeiro nasceu da Virgem, para que muitos pudessem ser justificados e receber a salvação."
Cipriano (falecido em 258 dC), um bispo na Igreja da África do Norte, escreveu:
"Quando Abraão creu em Deus, isso lhe foi imputado para justiça, portanto, cada um que crê em Deus e vive pela fé, será considerado como uma pessoa justa."
Atanásio, bispo de Alexandria durante quarenta e seis anos (falecido em 373 dC), escreveu:
"Nem por esses (isto é, esforços humanos), mas, à semelhança de Abraão, o homem é justificado pela fé."
Basílio, bispo de Capadócia (falecido em 379 dC), foi um escritor prolífico e tem nos deixado palavras tais como estas:
"O verdadeiro e perfeito gloriar-se em Deus é isto: é quando o homem não se exalta por causa da sua própria justiça; é quando ele sabe por si mesmo que carece da verdadeira justiça e que a justificação é somente pela fé em Cristo."
Ambrósio, bispo de Milão (falecido em 397 dC), famoso como grande pregador, tem nos deixado estas palavras:
"Para o homem ímpio, para um gentio que crê em Cristo, a sua fé lhe é imputada para justiça, sem as obras da lei, como também aconteceu com Abraão."
De Orígenes, o grande professor, pensador e escritor do cristianismo (falecido em 253 dC), vem o seguinte:
"Pela fé, sem as obras da lei, o ladrão na cruz foi justificado; porque ... o Senhor não indagou a respeito de suas obras anteriores, nem aguardava a realização de qualquer obra depois de crer; antes... Ele o tomou para Si mesmo como companheiro, justificado somente na base da sua confissão."
Jerônimo, o grande tradutor da Bíblia para o latim (falecido em 420 dC), escreveu:
"Quando um homem ímpio é convertido, Deus o justifica somente por meio da fé, não por causa de boas obras que, na realidade, ele não possuía."
Crisóstomo, talvez o maior pregador de todos os Pais eclesiásticos (falecido em 407 dC), e que vivia por muitos anos
"Então, o que é que Deus fez? Ele fez com que um homem justo (Cristo) Se fizesse pecador, (como Paulo afirma) [2] para que Ele pudesse justificar pecadores ... quando nós somos justificados, é pela justiça de Deus, não por obras ... mas pela graça, pela qual todo o pecado desaparece."
De Agostinho, bispo de Hipona, perto de Cartago, um grande expositor da teologia da salvação somente pela graça de Deus (falecido em 420 dC), temos:
"A graça é algo doado; o salário é algo pago... é chamada graça porque ela é concedida gratuitamente. Você não comprou por nenhum mérito pessoal o que tem recebido. Portanto, em primeiro lugar, o pecador recebe a graça para que sejam perdoados os seus pecados ... na pessoa justificada, as boas obras vêm depois; elas não precedem a graça, a fim de que a pessoa seja justificada... as boas obras que seguem a justificação manifestam o que o homem tem recebido."
Anselmo, de Cantuária (falecido em 1109 dC), um grande teólogo, e talvez mais conhecido por causa de seu estudo sobre a expiação do pecado por Cristo, escreveu:
"Você acredita que não pode ser salvo, senão pela morte de Cristo? Então, vá, e ... ponha toda a sua confiança unicamente em Sua morte. Se Deus lhe disser: "você é um pecador", então responda: "coloco a morte de nosso Senhor Jesus Cristo entre mim e o meu pecado."
De Bernardo de Claraval, considerado como o último dos Pais eclesiásticos (falecido em 1153 dC) vem o seguinte:
"Acaso a nossa justiça não seria apenas uma injustiça e imperfeição? Então, o que será dos nossos pecados, quando a nossa justiça não é suficiente para defender-se a si mesma? Vamos, portanto, com toda humildade, refugiar-nos na misericórdia, porque ela somente pode salvar as nossas almas... qualquer um que tenha fome e sede de justiça, que creia nAquele que "justifica o ímpio", e assim sendo justificado somente pela fé, terá paz com Deus." *
O arcebispo Ussher (1581-1656) ajuntou citações de vinte e oito Pais eclesiásticos, demonstrando que em cada século até o décimo segundo houveram aqueles que adotaram a doutrina bíblica da justificação. (Ussher, Answers to a Jesuit 's Challenge (Respostas ao Desafio de um Jesuíta) páginas 472-505.)
Portanto, fora de qualquer dúvida, vemos que a doutrina da justificação pela graça, mediante a fé, não foi uma novidade introduzida por Lutero e Calvino. Embora houvesse muitas heresias e conceitos corruptos durante os primeiros séculos da história da Igreja, houve paralelamente uma corrente contínua dos maiores escritores e pensadores que adotaram e ensinaram esta verdade bíblica.
2 Provavelmente, a alusão se refere a 2 Coríntios 5:21. Na verdade, Crisóstomo vai além das Escrituras. Cristo nunca foi feito pecador - Editor.
Extraído do capítulo 3 do livro Declarado Inocente, de James Buchanan - Editora PES.
2 comentários:
Olá gostaríamos de parabenizar o seu blog com o “Prêmio Dardos”.
Saiba mais detalhes aqui: http://gabrielfelix.wordpress.com/2008/07/25/premio-dardos/
Parabens muito bom seu Post,muito interesante!!!!Fica c paz d cristo!!!
Abs!
Faculdade Teológica
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