terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Quando perdoar é difícil


George R. Foster

São raras as vezes em que encontramos facilidade para perdoar ou sentimos vontade de fazê-lo. Sabemos que temos de perdoar, mas estamos sempre ouvindo as insinuações do orgulho, da raiva e do instinto de conservação que sussurram ao nosso ouvido:
“Não aceite essa ofensa! Revide! Vá à forra! Não deixe que outros façam o que quiserem com você! Esse negócio de ‘bem-aventurados os mansos’ é para os fracos!”
Entretanto é exatamente quando não sentimos vontade de perdoar que mais precisamos fazê-lo. Existe um fato que pode nos ajudar bastante, pois tira muito do peso que sentimos nessa questão. É o seguinte: perdoar não depende da emoção; é uma questão de decisão.
Alguns anos atrás, um homem que eu considerava como amigo praticou um ato de traição para comigo. Eu sabia que, como crente, deveria perdoar-lhe. Então tomei uma decisão consciente nesse sentido. Todavia, durante algum tempo, continuei relembrando o incidente várias e várias vezes, e sentindo de novo todas as emoções que aquilo provocara em mim.
Certa noite, eu estava viajando num ônibus-leito, mas não consegui dormir. Aquele ato passava e repassava em minha mente, e pensava em como seria bom se pudesse dar um murro nele. Quando dei por mim, percebi que estava suando frio, meu coração batia rapidamente e tinha os punhos cerrados. Embora tivesse feito uma decisão consciente no sentido de perdoar-lhe, ainda me sentia magoado e estava com raiva dele.
Aquilo provocou em mim sentimentos de culpa e de autocondenação. O nosso “acusador” ficava me dizendo:
– Na realidade, você não perdoou aquele homem, senão não estaria sentindo tudo isso.
Mas eu repliquei:
– Perdoei, sim. E se não lhe perdoei, perdôo agora.
Essa reafirmação da decisão me ajudou um pouco, mas ainda sentia autocondenação. Na verdade, eu não compreendia a razão daquelas emoções, nem conhecia a dinâmica do perdão. Só algum tempo depois é que vim a entender que, como nossas emoções são reações involuntárias, Deus não nos culpa por elas. Portanto não devemos aceitar as acusações que Satanás lança contra nós, nem deixar que os sentimentos controlem nosso ser. Sabemos que temos a obrigação de decidir perdoar aos nossos ofensores e de manter essa decisão. Contudo, como temos de agir com relação às nossas emoções? O que eu já aprendi a respeito disso é o seguinte.

1. Reconhecer que temos emoções.
Ter emoções não é necessariamente um indício de pecado; é sinal de que somos humanos. Em si mesmas, elas não são o problema. São as conseqüências dele. É inútil negar os sentimentos. O que precisamos fazer é identificá-los, assumir que os temos e apresentá-los a Deus com toda a sinceridade. O que nos liberta é a verdade.

2. Não nos basear nelas para avaliarmos se Deus nos aceita ou não.
Deus nos aceita com base em sua graça, que gera em nós a fé. Se pensarmos que ele nos aceita só quando sentimos isso, estaremos pensando como quem acha que só é membro de sua família nos momentos em que sente que é. Nossos pais não diriam isso!

3. Rejeitar os sentimentos de condenação.
Quando erramos, o Espírito Santo nos traz convicção de pecado para que nos arrependamos. Já Satanás nos lança sentimentos de condenação com relação a emoções – que não são certas nem erradas – no intuito de nos deixar desalentados. Ele quer nos levar a pensar que não adianta tentarmos servir a Deus, e a desistirmos de tudo. Quando o Espírito Santo nos convence de pecado, ele o faz de forma específica. Já Satanás nos dá sensações vagas. O Espírito Santo aponta nosso erro. Satanás procura destruir nosso senso de valor pessoal.

4. Seguir a verdade.
Não existe nenhum mandamento na Bíblia dizendo como devemos nos sentir; pelo menos, eu ainda não encontrei nenhum. Ela nos orienta acerca dos atos, pensamentos, palavras e atitudes que devemos adotar, mas não dos sentimentos que devemos ter. Então, quando nossos atos, pensamentos e palavras são corretos, nossas emoções tendem a ser positivas também.

Já descobri que, na medida em que consigo controlar meus pensamentos, controlo também minhas emoções. Então resolvi que iria simplesmente “deixar pra lá” aquela traição do meu amigo. Não permitiria que aquilo me incomodasse mais. Assim, todas as vezes que ela me vinha à mente, procurava ter pensamentos de amor e perdão para com aquele homem. Chegou um momento em que aquilo já não me causava mais sofrimento. Hoje consigo lembrar daquela experiência, e até mesmo conversar sobre ela, sem dor no coração. Aliás, até tirei proveitos pessoais dessa situação. Aprendi a lidar com ela da maneira bíblica.

Esse artigo foi extraído do livrete “Perdoar e Receber Perdão”, publicado pela Editora Betânia.

George R. Foster trabalhou 25 anos no Brasil com a Missão Evangélica Betânia. Atualmente é pastor internacional dos missionários de Bethany Fellowship Missions. E-mail: george.foster@bethfel.org

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