sábado, 14 de maio de 2011

Dois poemas de Myrtes Mathias




DISPONÍVEL PARA DEUS

Prepara-te.
Aprende a sofrer,
aprende a servir,
a renunciar.
Para fazeres o melhor possível
é preciso estar disponível
quando teu Deus mandar.

Prepara-te.
Aprende tudo quanto de bom puderes:
enche tua alma de tal paz e claridade
que mesmo distribuindo
sem peso e sem medida,
ainda tanto fique em tua vida
que te faça cantar na adversidade.

Enche teu coração de fé,
que os obstáculos
serão maiores que montanhas.
De pureza, tolerância e luz.
Encontrarás flores
no caminho que te espera,
mas quase sempre para tornar suportável
o peso de uma cruz.

Quando a ordem chegar
não digas: - não quero –
ao Senhor de tua vida;
não digas: não posso.
(Bem sabes que tudo é possível ao que crê)
Não digas: - espera –
a uma ordem de urgência.
Não adianta a fuga – teu Deus tudo vê.

Portanto, prepara-te.
Aprende a sofrer,
a renunciar,
aprende a servir.
Quando teu Deus mandar
deves partir.

Prepara-te.
A convocação pode chegar
a qualquer tempo
para qualquer terra,
e seja como for,
só há uma resposta que teu Deus aceita:
- Estou disponível. Eis-me aqui, Senhor!



Enquanto o Coral Cantava

Enquanto a música enchia o templo,
eu vi o Rei.
Vestido de majestade, coroado de honra,
um cetro de poder e glória na mão.
Ele voltava.

Livre dos sapatos e dos preconceitos,
da doença e da fadiga.
Feliz, como uma criança que se atira
na direção do Pai – depois de uma ausência
que só fez maior o amor e a necessidade
de ver – eu corria no meio da multidão,
que erguia palmas brancas
em saudação Àquele que voltava.
Lá estavam Livingstone, Carey, Bratcher,
Corinto, Miranda Pinto...
Lá estavam os vultos frágeis,
Ana de Ava, Noemi Campelo, Caíta,
Lotie Moon...
Os missionários de todas as raças.
Os grandes que se fizeram pequenos,
os pequenos que a fé tornou gigantes:
Bagby, Taylor, D. Chiquinha,
que eu conheci
quebrando coco babaçu,
para sustento da obra
que eles começaram.
Lá estavam D. Maria e D. Carmen
- um corpo perfeito no lugar daquele
que a lepra deformara.
Lá estavam Darito e os companheiros
de enfermaria que ele levara a Cristo,
livres do balão de oxigênio
e do terrível clima de segregação.
Lá estavam meus amigos cegos,
com olhos enormes de luz
e expectativa;
Meus priminhos mudos, entoando,
mais alto que todos,
o canto de vitória e gratidão.
Livres de grades
e de cadeiras de rodas,
lá estavam muitos que eu conhecera
prisioneiros da doença e do pecado.
Lá estava meu irmão
que Deus levou tão cedo.
Lá estavam os mártires de todas
as épocas, do tempo dos césares
e das cortinas de ferro e de bambu.
Lá estavam homens de pele escura
e alma cor de neve;
índios de brilhantes cabelos,
crianças de todas as raças,
cantando hosanas, como na entrada
triunfal em Jerusalém.
Lá estavam os meninos do Tocantins,
os barqueiros do São Francisco,
a gente do Araguaia,
os colonos da Transamazônica,
que se haviam tornado súditos
do Caminho maior.
Num milagre sem explicação,
a multidão de mil cores,
que entoava hinos em mil línguas
e dialetos,
era absolutamente igual, no sentimento
que fazia de todos
uma só corrente de alegria,
formada por mil elos de amor.

Eu disse que todos estavam lá?
Não sei. Parece-me que havia lacunas
na multidão e no coração do Rei.
Muitos estavam ausentes,
presos a cuidados terrenos,
deixando a escola suprema
para um amanhã inexistente,
oferecendo a Momo um último holocausto,
como se fosse possível
servir a dois senhores,
abraçar o mundo, sem desprezar o Rei.

E foi assim, enquanto o coral cantava,
que pude sentir o quanto amava ao Rei,
o quanto meu coração agradecia,
por estar entre os salvos;
por chamá-lo pelo nome que Madalena usou
quando o reconheceu:
- Voltaste, Raboni! Aleluia!
Bem-vindo sejas, meu Senhor, meu Deus!


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