sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS



Textos: Mateus 17.1-13; Marcos 9.2-13; Lucas 9.28-36

(Estraído da revista A Vida de Jesus, Estudos nos Quatro Evangelho Harmonizados, vol III, da Editora Batista Brasileira, Rio de Janeiro, 2ª edição, 2006, págs 47 a 50)

Fazia pouco tempo que Jesus enviara seus doze apóstolos, de dois em dois, pelas vilas e cidades da Galiléia, que multiplicara pães e peixes para mais de cinco mil pessoas, que multiplicara nova-mente pães e peixes para outra multidão de mais de quatro mil pessoas, e que ouvira de Pedro o reconhecimento de que ele, Jesus, era o Cristo, o Filho do Deus vivo. Lucas diz que faziam oito dias do episódio da confissão de Pedro e, certamente, tudo isto estava muito vivo nas mentes dos seus discípulos.
De acordo com S.L.Watson e W.E.Allen (op.cit. Pág. 91) Jesus estava em território de Herodes Filipe, a nordeste do mar da Galiléia, na região de Cesaréia de Filipe e, em determinado momento separou Pedro, Tiago e João para estar a sós com ele, e se dirigiu a um alto monte para orar (pela região pode-se deduzir que seria o monte Hermon).
Enquanto orava seu rosto mudou de aparência (Lc 9.29) e tornou-se resplandecente como o sol (Mt 17.2). Suas vestes também foram transformadas e tornaram-se extre-mamente brancas e resplandecentes (Mr 9.3). Ao mesmo tempo em que foi transfigurado, apareceram dois grandes profetas dos judeus, Moisés e Elias, conversando com Jesus.
Pedro e os outros dois apóstolos estavam dormindo quando isso aconteceu e, quando acordaram já encontraram aquele quadro diante de si. Pedro, sem saber o que dizer (Mr 9.6), quando já os dois profetas se retiravam, disse a Jesus que era bom estarem ali e que deveriam fazer três cabanas: para Jesus, Moisés e Elias. Enquanto Pedro ainda falava (Lc 9.34) todos foram cobertos por uma nuvem da qual saiu a voz de Deus que dizia: “Este é o meu Filho amado, o meu eleito, em quem tenho o meu prazer; a ele ouvi."
Percebendo que era o próprio Deus quem falava, os três caíram com o rosto em terra e ficaram assim, cheios de temor (Mt 17.6). Mas, Jesus chegou-se a eles e tocando-os mandou que se levantassem e não tivessem medo. Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser Jesus sozinho.
Iniciaram a descida e Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém sobre o acontecido, até que o Filho do homem (ele próprio) fosse levantado dentre os mortos. Essa ordem desencadeou dúvidas nas mentes dos três apóstolos, que giravam a respeito da ressurreição de Elias.
Do episódio da transfiguração e dos ensinamentos de Jesus, podemos destacar o seguinte:

A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS MANIFESTOU A SUA NATUREZA DIVINA
Mt 17.2; Mr 9.3; Lc 9.29

Talvez motivado pela sua natureza de pecado o homem sempre tem a tendência de olhar para Jesus somente como um homem. Isso não acontece somente em nossos tempos; já acontecia nos tempos de Jesus. Para confirmação do que é afirmado, é só observarmos a intensidade da revolta e da incredulidade dos judeus quando Jesus afirmava ser o Filho de Deus.
Os discípulos de Jesus não eram exceção. Por certo o reconheciam como alguém muito especial, vindo de Deus, mas até a sua ressurreição sempre tiveram dificuldades em vê-lo como divino, como o Filho de Deus.
A transfiguração de Jesus manifestou a pelo menos três dos seus discípulos que ele era realmente divino, que tinha uma natureza pré-existente, essencial-mente diferente da humana, de uma glória inigualável. O surgimento dessa natureza gloriosa, divina, fez com que o seu resplendor fosse manifestado em uma visão indes-critível. Seu rosto tinha um brilho tão intenso quanto o sol e suas vestes eram tão brancas que resplandeciam como a luz. Nenhum homem poderia ter essa aparência.

NO MOMENTO DA TRANSFIGURAÇÃO FORAM MANIFESTADAS REALIDADES CELESTIAIS
Mt 17.3; Mr 9.4; Lc 9.30,31

Certamente a Bíblia não nos revela todas as realidades celestiais, porém, somente algumas. Mas as que nos são reveladas são confor-tantes e nos deixam plenos de esperança e alegria pela salvação. Por palavras de Jesus registradas nos Evangelhos sabemos que o céu é um paraíso, que é o lugar onde ele está e onde estaremos juntos com ele. Pela visão do Apocalipse sabemos que é um lugar mara-vilhoso, cheio de resplendor, onde não existem dores, tristezas, aflições, pecados e tudo o mais que nos faz sofrer tanto neste mundo.
No momento da transfiguração foi formado um quadro vivo que deixou à mostra algumas outras realidades celestiais:
1. A identidade do ser pessoal de quem é salvo é mantida nos céus. A nossa individualidade, a nossa personalidade essencial é mantida. Para o judeu o nome representava o ser na sua essência e note-se que Moisés continuou a ser Moisés no céu e que Elias também continuou a ser Elias. Certamente o Senhor Jesus, ao conversar com eles os chamava por seus nomes. Não fosse assim, como Pedro, Tiago e João poderiam saber quem era, se já se depararam com a cena quando acordaram? É certo que, boquia-bertos, ficaram a ouvir a conversa. A prova disso é que sabiam do que falavam (Lc 9.31).
2. Os salvos mantêm a consciência das realidades do reino de Deus. No céu não existem “zumbis” ou seres automatizados sem raciocínio e alienados das coisas a respeito do reino de Deus. Em poucas palavras Lucas deixa essa realidade regis-trada quando afirma que falavam da partida de Cristo que estava para acontecer em Jerusalém. Ao que parece, de repente Jesus se viu no céu (deve ser registrado que ele estava orando Lc 9.29) parlamen-tando com seus servos do passado, conversando a respeito da sua morte, ressurreição e retorno ao céu. Moisés e Elias estavam no céu participando do que acontecia com respeito do cumprimento do plano de Deus para a salvação do homem. Plano do qual eles fizeram parte ativa no período do Velho Testamento.
3. A glória celestial é tão mara-vilhosa que faz com que os crentes em Cristo desejem permanecer nela para sempre. A palavra súbita e impensada de Pedro demonstra isso. Acordou, viu a glória divina de Cristo, viu a presença dos grandes profetas do passado, ouviu a conversa e não pensou mais em voltar. Esqueceu-se de todos os companheiros e até de sua família. Ali, naquele lugar onde Deus estava presente, era muito bom. Por que voltar? Por que sair dalí? Pedro nem se preocupou com seu próprio abrigo. Só queria fazer abrigos para os três e ficar ali desfrutando daquela realidade celestial, mara-vilhosa, que nunca vira.

O FILHO DE DEUS PRECISA SER OUVIDO
Mt 17.5-13; Mr 9.7-13; Lc 9.35,36

Enquanto Moisés e Elias se apartavam de Jesus e Pedro falava com Cristo em ficar ali, uma nuvem resplandecente cobriu a todos. Era a glória de Deus que tomava conta do lugar. Mas não foi uma mani-festação silenciosa porque o próprio Deus Pai fez ouvir a sua voz dizendo que: a) Jesus é o seu Filho amado e escolhido; b) Ele, o Pai, tem prazer no seu Filho, Jesus; c) Os discípulos de Jesus têm que dar ouvidos a ele.
Que significado teria isso para a humanidade, principalmente para aqueles que se fizeram discípulos de Cristo? Primeiramente o signi-ficado do testemunho de três homens idôneos que ouviram, juntos, a voz do próprio Deus afirmando que Jesus não era um homem como outro qualquer, com a natureza humana somente. Jesus era o próprio Filho de Deus. Em seguida, a afirmativa de que Jesus é o Filho amado (conf, Mt e Mr), escolhido (conf. Lc), em quem estava o prazer do Pai, demons-trando que o que aconteceria com Jesus, que era o teor da conversa dele com Elias e Moisés, era resultado de um amor imenso pela humanidade, porquanto Deus escolhera seu único Filho, em quem tinha seu prazer, para ser sacrificado em favor da humanidade. Final-mente, o significado de uma ordem divina, direta aos discípulos de Cristo, para que dêem ouvidos ao Filho de Deus. De nada adiantaria Jesus ter vindo ao mundo, ter entregado a sua vida em sacrifício pela humanidade, ter ressuscitado gloriosamente, ter voltado ao céu, se ninguém desse ouvidos às suas palavras. A salvação só se realiza na vida daquelas pessoas que dão ouvidos às palavras de Cristo (Jo 5.24). Ninguém pode ser verdadeiramente discípulo de Cristo se não lhe der ouvidos (Jo 8.31). A fé em Cristo só acontece na vida do homem quando este dá ouvidos e crê na palavra de Cristo. Uma crença sábia porém humilde, que leve o discípulo a obedecer às ordens do seu Mestre, como aconteceu logo depois, ao descerem do monte, quando o Senhor lhes ordenou que não contassem nada a ninguém e eles obedeceram (Mt 17.9; Mr 9.10); que leve o discípulo a perguntar ao seu Mestre a respeito de coisas que parecem impossíveis aos homens (Mt 17.10-13; Mr 9.11-13) ao invés de ficar conjeturando através de filosofias humanas inúteis que não conseguem, de fato, decifrar as coisas espirituais.

CONCLUSÃO

Diante do registro histórico do episódio da transfiguração de Jesus só nos cabe reconhecer ou confirmar em nossos corações que Jesus é o Filho de Deus, nos alegrarmos pela salvação que nos destina à cidade celestial e nos humilharmos acei-tando as palavras de Cristo como sendo ordenanças e ensinamentos suficientes para uma vida feliz e de comunhão com o Pai.

Pr Dinelcir de Souza Lima
Pastor da Igreja Batista Memorial de Bangu
Diretor do Seminário Teológico Batista do Oeste Carioca

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