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Neste trabalho, Baxter fornece três instruções a fim de que uma conversão não venha a ser abortada, mas seja firme, segura, sólida e saudável.
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quarta-feira, 28 de novembro de 2007
terça-feira, 27 de novembro de 2007
SABOTANDO A BíBLIA
Mary Ann Collins
(www.opendoorsusa.org)
Tradução: Mary Schultze (www.cpr.org.br)
A Igreja Católica Romana (ICR) afirma que nos deu a Bíblia. Contudo, pelo que veremos a seguir, essa afirmação não tem qualquer respaldo histórico nos dias de hoje.
O Velho Testamento (VT) foi escrito pelos profetas, patriarcas, salmistas, juízes e reis inspirados por Deus. Ele foi fielmente copiado e preservado pelos escribas judeus. O VT das modernas Bíblias protestantes contém os mesmos livros da Bíblia hebraica.
O Novo Testamento (NT) foi escrito pelos apóstolos cristãos. Nenhum deles era católico, simplesmente porque nesse tempo a ICR ainda não existia. Mais de dois séculos se passaram, antes da “conversão” de Constantino e da formação da ICR, em 314 d.C.
A Igreja Primitiva não possuía o Novo Testamento conforme o conhecemos hoje. Em vez disso, as pessoas e as congregações locais tinham apenas porções dele. Elas tinham uma ou mais partes dos Evangelhos, algumas cartas escritas pelos apóstolos e, talvez, o Livro de Atos e o Livro de Apocalipse. Por que todos esses livros não estavam reunidos em um mesmo lugar? Vejam o que dizem os próprios livros. Apóstolos individuais os escreveram para específicas audiências.
O Evangelho de Lucas e o Livro de Atos foram escritos para Teófilo (Lucas 1:3 e Atos 1:1). A maior parte das epístolas foi escrita para determinadas igrejas ou pessoas (Romanos 1:7; 1 Coríntios 1:2; 2 Coríntios 1:1; Gálatas 1:2; Efésios 1:1; Colossenses 1:2; 1 Tessalonicenses 1:1; 2 Tessalonicenses 1:1; 1 Timóteo 1:2; 2 Timóteo 1:2; Tito 1:4; Filemom 1:1-2 e 3 João 1:1).
Os cristãos primitivos esperavam que Jesus voltasse a qualquer momento para a Sua igreja. Por isso eles não viam necessidade alguma de planejamentos a longo prazo para as futuras gerações. Além disso, eles eram perseguidos pelos romanos. Como suas vidas estavam em constante perigo, tornava-se difícil coletar os escritos que estavam dispersos por todo o Império Romano. Desse modo, foi necessário algum tempo para que esses escritos fossem reunidos, a fim de que houvesse um consenso sobre quais os que detinham autoridade e com eles fazer a coleção completa da Sagrada Escritura.
No tempo de Orígenes (185-254 d.C.) houve um consenso geral sobre a maior parte do Novo Testamento. Contudo houve uma discordância quanto ao fato de as seis epístolas seguintes fazerem parte do Novo Testamento: Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Judas. Isso aconteceu 60 anos antes da “conversão” do Imperador Constantino e o início da ICR.
O Concílio de Cartago foi convocado em 397 d.C. Nesse tempo já existia um consenso geral quanto aos livros que deveriam pertencer ao Novo Testamento. O Concílio fez uma lista desses livros, descrevendo os que já haviam sido aceitos como Escritura Sagrada. Em outras palavras, o Concílio de Cartago não criou o cânon do Novo Testamento. Em vez disso, ele descreveu os livros que já haviam sido aceitos como Escritura autorizada, tendo apenas confirmado o cânon já existente.
A ICR não nos deu a Bíblia. Mesmo assim, os monges católicos ajudaram a conservá-la, copiando-a. A ICR conservou a Bíblia em Latim. Isso evitou que as pessoas a lessem em sua própria língua. A maioria das pessoas desconhecia o Latim. Desse modo, precisavam depender dos sacerdotes católicos para ler e também explicar-lhes a Bíblia. Elas não tinham como conferir o que os padres lhes ensinavam contrariando a Sagrada Escritura.
A ICR mudou a Bíblia. Em 1584, o Concílio de Trento [ainda em pleno vigor] anexou à Bíblia os livros apócrifos, os quais contêm passagens que seriam usadas a fim de justificar algumas doutrinas católicas [antibíblicas], como por exemplo, a oração em favor dos mortos (Os livros apócrifos serão discutidos no final deste capítulo).
Conservando a Bíblia em Latim – Sob o governo romano, o Latim se tornou a língua universal. Então, quando a Bíblia foi originalmente traduzida do Grego e do Hebraico para o Latim, isso a tornou mais acessível às pessoas. Contudo, após o colapso do Império Romano, o Latim passou a ser falado cada vez menos. Com o passar do tempo, somente os eruditos o entendiam e a grande maioria do povo já não falava essa língua.
A partir de 1080, houve muitos casos em que os papas, os concílios da ICR e os bispos proibiram a tradução da Bíblia na linguagem do povo comum. Aos homens e mulheres leigos foi proibido ler a Bíblia em sua própria língua, a não ser que um bispo ou um inquisidor lhos permitissem, por escrito.
Em 1517, sete pessoas foram queimadas na estaca porque estavam ensinando seus filhos a recitarem a Oração do Senhor [o Pai Nosso] em Inglês. Em 1536, William Tyndale foi queimado como herege por ter traduzido a Bíblia para o Inglês. Em 1555, Thomas Rogers e Thomas Crammer foram queimados na estaca por terem traduzido a Bíblia. Muitos homens e mulheres foram também queimados por lerem a tradução inglesa da Bíblia. Aos leigos não era permitido ler a Bíblia nem mesmo em Latim. Isso era considerado heresia e muitos homens e mulheres foram queimados na estaca por causa disso.
O povo tinha tanta fome de saber o que a Bíblia dizia que, quando finalmente uma tradução dela foi disponibilizada, multidões lotaram a igreja onde ela estava guardada. Homens faziam turnos para ler a Bíblia em voz alta. Logo que o dia clareava, esses homens liam o Livro em voz alta, enquanto as multidões escutavam.
Às voltas com o Latim – Quando me tornei católica, a missa ainda era rezada em Latim. Eu conhecia um pouco de Latim por tê-lo estudado durante três anos no colégio. Durante a missa solene, porções da Bíblia eram lidas. A Bíblia era um livro grande e enfeitado. O sacerdote a cobria de incenso, ajoelhava-se diante dela, cantando alguns versos em canto gregoriano.
A música era bonita e a cerimônia, impressionante! Contudo, eu não conseguia entender os versos que eram lidos. Com os meus três anos de Latim colegial, às vezes eu até conseguia entender uma ou outra frase ou palavra, mas isso não me possibilitava entender as passagens da Escritura... Por que Deus nos deu a Bíblia? Para que as pessoas a leiam e sejam por ela transformadas.
Traduzindo a Bíblia – A primeira tradução inglesa da Bíblia foi feita em 1382 pelos seguidores de John Wycliffe, com a sua ajuda e iluminação. Uma versão melhorada foi concluída em 1388. Os seguidores de Wycliffe eram conhecidos como “lolardos” e foram severamente perseguidos. A tradução de Wycliffe foi feita à mão, num processo demorado. A maior parte das cópias da Bíblia inglesa foi destruída.
Depois de um século e meio, em 1535, a Bíblia Tyndale/Coverdale foi publicada. William Tyndale e o Bispo Coverdale traduziram os textos dos originais grego e hebraico para o inglês. Sua Bíblia foi publicada na Alemanha, onde Tyndale havia-se refugiado. A imprensa acabava de ser inventada. Isso possibilitou Tyndale e seus seguidores a produzirem cópias da Bíblia inglesa mais depressa do que elas eram destruídas. Tyndale foi queimado na estaca.
Quarenta e sete anos mais tarde (1582), a primeira tradução católica do Novo Testamento em inglês foi publicada. A tradução católica do VT foi publicada em 1609. Essas traduções não foram feitas do original grego e hebraico, mas da versão latina da Bíblia.
Condenando as Sociedades Bíblicas – Em 1846 e novamente em 1849 o Papa Pio IX declarou, oficialmente, que as sociedades bíblicas eram “enganosos inimigos” da ICR e da humanidade em geral. Por quê? Porque elas traduziram a Bíblia na língua do povo comum e as oferecem a todas as pessoas que desejarem possuí-la. No dia 03/09/2000, o Papa Pio IX foi beatificado. Esse é o último passo para a canonização.
Em 1864, Pio IX declarou, oficialmente, que a idéia de o povo ter liberdade de consciência e adoração era “insana”, “maligna”, “depravada” e “réproba”. Ele também declarou que os não-católicos que vivem em países católicos deveriam ser impedidos de praticar, publicamente, a sua religião. Em 1888, o Papa Leão XIII declarou que a liberdade de pensamento e de religião era errada.
Conforme a doutrina católica da Infalibilidade (do papa e da Igreja) essas declarações são infalíveis. Desse modo, jamais poderão ser invalidadas. Uma história que não é tão antiga; meus tetravós ainda eram vivos em 1864.
Adicionando a tradição à Escritura – A ICR declara, oficialmente, que a Tradição Católica tem a mesma autoridade da Bíblia.
É difícil definir a Tradição. O Catecismo da Igreja Católica diz que ela é o conjunto de expressões de adoração e crenças do povo católico. Mas o que significa isso? As crenças religiosas dos católicos modernos são muito diferentes das crenças dos católicos da Idade Média. (Vocês conhecem alguns católicos usando relíquias, a fim de exorcizar demônios ou pagando indulgências para retirar algum ente amado do purgatório?). Mesmo assim, a definição católica de Tradição engloba todas essas crenças e práticas.
Vamos resumir o que acontece aos modernos católicos americanos. Conheço católicos que acreditam, piamente, que se usarem o escapulário marrom o tempo inteiro (até mesmo no banho), isso os levará ao céu. Por outro lado, sei de outros católicos que acham isso uma superstição tola. Usar as piedosas práticas do povo católico como padrão é o mesmo que medir as coisas com uma fita elástica. Jesus censurou os fariseus porque eles colocavam a tradição acima da Escritura, dizendo que eles anulavam a Palavra de Deus por causa da tradição:
“Em vão, porém, me honram, Ensinando doutrinas que são mandamentos de homens. Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens; como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas outras coisas semelhantes a estas. E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição” (Marcos 7:7-9). “Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas” (Marcos 7:13). “Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus 15:8-9).
O Apóstolo Paulo também não tinha muita consideração pelas tradições humanas. Ele admoestou os cristãos do seu tempo: “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Colossenses 2:8).
Proibindo as pessoas de interpretarem a Bíblia sozinhas – Conforme o Catecismo da Igreja Católica, os católicos são obrigados a aceitar a maneira como os bispos interpretam as passagens da Escritura, devendo aceitar esses ensinos “com docilidade”, como se procedessem do próprio Senhor Jesus Cristo. Em outras palavras, não lhes é permitido crer no que lêem na Bíblia, sem antes conferir com a ICR. Não lhes é permitido usar o próprio julgamento nem seguir a própria consciência. São obrigados a crer em tudo que os bispos ensinam, sem questionar coisa alguma. Tal atitude é exemplificada pela declaração feita pelo Cardeal Hosius, no Concílio de Trento (1545-1564 - ainda em pleno vigor). Ele escreveu que, fora da autoridade da ICR, a Bíblia não deveria ter mais importância do que as fábulas de Esopo.
Os Livros Apócrifos – Os Apócrifos são livros acoplados às Bíblias católicas, mas não às protestantes. Eles nunca fizeram parte da Bíblia hebraica, pois os judeus jamais os consideraram canônicos. Em 1548, o Concílio de Trento declarou que os Apócrifos são canônicos e amaldiçoou qualquer pessoa que pensar de outro modo.
Jesus e os apóstolos citaram centenas de vezes o VT, porém jamais trataram os Apócrifos como autoridade. Os próprios Apócrifos jamais admitiram ser a Palavra de Deus. Os livros de Tobias e Judite contêm sérias inverdades históricas.
[Nota da Tradutora: Aqui a autora faz um resumo do Livro de Tobias, que achei por bem não traduzir e aconselho aos leitores a leitura integral desse livro, onde irão encontrar uma boa porcentagem de misticismo e inverdades].
Isso parece Escritura inspirada? Será que esse livro revela o caráter e a natureza de Deus e Sua maneira de lidar com o Seu povo? Este livro inspiraria alguém a conhecer melhor o nosso Deus? Ele dá algum tipo de força e coragem para alguém se tornar um cristão fiel? Se esse livro fosse anexado à nossa Bíblia, será que ele iria aumentar a nossa confiança nela? Ele poderia ajudar a crer na inerrância e autoridade da Escritura? Será que ele aumentaria o nosso desejo de ler a Bíblia?
A ICR e a Bíblia – Foi Deus quem nos deu a Bíblia... Não a ICR! Esta tem agido sempre de maneira dobre com relação à Bíblia. Por um lado, os monges católicos ajudaram a conservá-la, quando a copiaram na Idade Média. Por outro lado, a ICR conservou a Bíblia em Latim e ainda mandava queimar os eruditos que a traduziam para a língua do povo comum. Além disso, ela acrescentou os livros Apócrifos à Bíblia.
Conforme o Catecismo da Igreja Católica, os católicos não podem interpretar a Bíblia sozinhos, devendo aceitar “com docilidade” tudo que os seus bispos lhes disserem. Desse modo, a ICR trata a Bíblia como se ela fosse perigosa demais para o povo comum, exigindo que sua interpretação passe pelo crivo das doutrinas e explicações oficiais da ICR.
A Bíblia é um tesouro de inestimável valor – Moro na América, onde as Bíblias são abundantes e baratas. É fácil consegui-las de graça. Contudo, no exato momento em que você está lendo este capítulo, existem cristãos arriscando suas vidas para levar a Bíblia às pessoas. O Ministério Portas Abertas tem intermediários que se arriscam, diariamente, a fim de contrabandear Bíblias para dentro dos países onde os cristãos são perseguidos. Recentemente eu soube de um homem que foi condenado à morte por ter dado a Bíblia a um muçulmano.
Homens e mulheres custearam, com o próprio sangue, a possibilidade de termos a Bíblia hoje em nossas mãos. William Tyndale foi queimado na estaca por tê-la traduzido para o Inglês. Homens foram queimados na estaca por terem ensinado aos filhos a Oração do Senhor (O Pai Nosso) em Inglês. Homens e mulheres foram queimados na estaca por possuírem uma tradução inglesa da Bíblia. Jamais poderemos avaliar o preço que foi pago para que tivéssemos a Bíblia em nossa língua materna e, hoje em dia, podermos lê-la sem temor algum.
Aqui está o que dizem os Salmos sobre a Bíblia. Quando você ler os termos: “A lei do Senhor”, “O testemunho do Senhor”, “Os julgamentos do Senhor”, lembre-se de que esses são termos do VT para a Palavra de Deus escrita.
Que Deus nos dê esse tipo de paixão pela Sua Palavra. Vejam quanto amor, lealdade e gratidão nas seguintes passagens da Escritura:
Salmo 19:7-11: “A lei do SENHOR é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é limpo, e permanece eternamente; os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos. Também por eles é admoestado o teu servo; e em os guardar há grande recompensa”.
Salmo 1:1-3: “BEM-AVENTURADO o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.”
Salmo 119:9-16: “Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra. Com todo o meu coração te busquei; não me deixes desviar dos teus mandamentos. Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti. Bendito és tu, ó SENHOR; ensina-me os teus estatutos. Com os meus lábios declarei todos os juízos da tua boca. Folguei tanto no caminho dos teus testemunhos, como em todas as riquezas. Meditarei nos teus preceitos, e terei respeito aos teus caminhos. Recrear-me-ei nos teus estatutos; não me esquecerei da tua palavra”.
Salmos 119:89-93: “Para sempre, ó SENHOR, a tua palavra permanece no céu. A tua fidelidade dura de geração em geração; tu firmaste a terra, e ela permanece firme. Eles continuam até ao dia de hoje, segundo as tuas ordenações; porque todos são teus servos. Se a tua lei não fora toda a minha recreação, há muito que pereceria na minha aflição. Nunca me esquecerei dos teus preceitos; pois por eles me tens vivificado”.
Salmo 119:165: “Muita paz têm os que amam a tua lei, e para eles não há tropeço”.
Conforme a Concordância Strong, a palavra “tropeço”, no Salmo 119:165, significa impedimento ou pedra de tropeço. É algo que arruína as pessoas e as leva a cair. Então, conforme esse verso, quando amamos a Palavra de Deus, ela nos traz paz e nos protege da tentação e da destruição.
A Bíblia é, sem dúvida, um tesouro de valor inestimável!
Aplicação Prática – Todos nós devemos ser gratos a Deus porque Ele nos deu a Bíblia. Devemos também ser gratos aos homens heróicos que a tornaram disponível em nossa língua.
Quem desejar fazer uma coisa prática para demonstrar a sua gratidão a Deus, que ajude o Ministério Portas Abertas a distribuir Bíblias aos cristãos perseguidos (Hoje em dia estão acontecendo mais perseguições do que se possa imaginar). Quem desejar entrar em contato com o Ministério Portas Abertas, use o endereço eletrônico: http://www.portasabertas.org.br.
Você pode orar pelos irmãos perseguidos em Cristo e pedir que Deus os ajude a conseguir Bíblias. Em alguns países existem pastores que jamais tiveram uma Bíblia na mão. Existem heróicos mártires modernos que conhecem apenas alguns versos da Escritura e talvez apenas um hino ou cântico de adoração.
(www.opendoorsusa.org)
Tradução: Mary Schultze (www.cpr.org.br)
TRINTA MILHÕES DE CRENTES FERIDOS ESTÃO ESQUECIDOS NAS TRINCHEIRAS
Luiz Montanini
A igreja talvez seja hoje o único exército do mundo cujos soldados não voltam para buscar seus feridos no campo de batalha. Ao contrário, substitui-os rapidamente no batalhão e segue em frente, esquecendo-se de que muitos soldados de valor ficaram à beira da morte pelas trincheiras.
Caso o último censo do IBGE tivesse incluído questão sobre o número de "desviados" no Brasil, o resultado seria assustador.
Calcula-se que, hoje, existam no País entre 30 milhões e 40 milhões de "desviados". Por "desviados" entenda pessoas que um dia tiveram seu nome no rol de membros de algum grupo cristão, mas que hoje estão à margem da vida da igreja.
Essas pessoas - cuja boa parte povoa hospícios e presídios ou, saco às costas, vaga errante à beira de estradas - um dia confessaram alegremente a Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor e no outro se viram literalmente jogados na sarjeta espiritual.
Nesse contingente de desviados há casos para todo tipo de pessoas. Do endurecido ao desprezado, do chafurdado na lama pelo engano do pecado ao desesperado para sair dele, mas sem ninguém para lhe estender a mão.
É dessa classe de pessoas que trata esta edição. De pessoas desesperadas por uma nova chance, mas sem ter a quem recorrer porque, sabem, o único lugar onde encontrariam novamente a paz para sua alma é a igreja, mas ali, pensam, há santos demais para admitir o retorno de um filho pródigo como ele.
Afinal, com ou sem motivo, um dia foram expulsos sumariamente. Seja porque, inadvertidamente, cortaram os longos cabelos ou caíram em erros considerados "sem volta" por sua igreja, como o adultério; seja porque foram disciplinados, escrachados, alijados da comunhão e, não raro, se excluíram ou foram excluídos. Como Satanás, foram expulsos do paraíso. Como Caim, receberam uma mancha na testa e foram condenados a andar errantes pelo mundo pelo resto de sua vida miserável. O problema é que em seus casos específicos, não foi Deus o autor do juízo sumário.
Com tamanha carga sobre as costas, voltar é passo difícil; em algumas situações, impossível.
- A própria igreja discrimina os desviados - constata Sinfrônio Jardim Neto, líder do ministério "Jesus não Desistiu de Você", de Belo Horizonte, dedicado à restauração da vida dos desviados.
- A igreja vê o desviado como se fosse Judas Iscariotes, que traiu a Deus e a igreja. E o trata como se fosse lixo que precisa ser retirado daquele ambiente. Mal sabe que o desviado é como o ouro de Deus que se perdeu na lama podre. Está perdido na lama, mas ainda é ouro e precisa de gente interessada, garimpeiros que estendam a mão e vasculhem até encontrá-lo.
Uma igreja de 200 membros perde outros 400 em 10 anos. Na próxima vez em que for a um culto, pare um instante e olhe à sua direita e esquerda. Agora, saiba que, daqui a dez anos, é possível que a senhora, o jovem sorridente e o austero senhor que estão em cadeiras ou bancos próximos a você cantando louvores estejam completamente afastados da igreja, amargurados com Deus e entristecidos por algum motivo.
De acordo com estatística do pastor mineiro Sinfrônio Jardim Neto, uma igreja de 10 anos de funcionamento, que tenha mantido média de 200 membros, viu passar por seu rol, ao longo dessa década, o dobro desse número. Uma evasão como essa explica a conta fictícia do parágrafo anterior.
Segundo as contas que têm feito ao longo de suas inúmeras campanhas em igrejas brasileiras desde 1994, quando começou a trabalhar com desviados, 400 pessoas que passaram por uma igreja que tem média de 200 membros estão desviadas hoje.
Em português claro e chocante: a igreja permanece com sua média de 200 membros, substituindo-os naturalmente. Mas essa rotatividade, originada na dificuldade de "fechar a porta dos fundos", resulta, ao final de 10 anos, em perda de 200% no número de pessoas.
Esses números, destaca Sinfrônio Jardim, são relativos apenas a desviados. Aqui não estão incluídos outros itens, como mudança de membro para outra igreja.
Expulso da igreja porque não usava chapéu:
As causas para o chamado desvio de pessoas na igreja são variadas, explica Sinfrônio Jardim Neto. Desde o abandono da fé em razão da volta voluntária ao pecado até a exclusão, pela liderança da igreja, em decorrência de coisas pequenas mas consideradas pecado por eles.
Em suas viagens, Sinfrônio Jardim diz que encontra situações de exclusão que seriam hilárias se não fossem tão perniciosas à vida das vítimas. Pessoas que foram excluídas por causa do legalismo exacerbado de igrejas cujos líderes zelosamente disciplinaram, com exagero, pequenas contravenções. Na ânsia de limpar o pecado, jogaram fora o "pecador" junto com a água suja.
- Vejo gente sofrendo, afastada da igreja por causa de coisas pequenas, como ter cortado o cabelo, ter deixado a barba e até, pasme, por ter sido visto andando de bicicleta. Uma vez, em Campos, no Rio, conheci um homem que foi expulso da igreja porque não usava chapéu, como ordenava o estatuto da igreja.
Falsas profecias levam muitos ao desvio:
Outra causa para o apartheid espiritual de muitos é a decepção com lideranças. O membro procura alguém para confessar uma fraqueza ou pecado e, em vez de perdão e ajuda para vencer o mal, recebe maior condenação.
As profecias falsas são também causa importante de desvio da fé. Inúmeras pessoas naufragam depois de receber profecias falsas. A pessoa tem o filho doente, por exemplo, e recebe uma "palavra de Deus" de cura. Pouco tempo depois a criança morre. Ela fica desesperada. Ou então ouve que deve se casar com alguém porque é vontade de Deus. Obediente, casa-se e, algum tempo depois, percebe que a voz ouvida não era da parte de Deus. Em vez de se decepcionar com o homem, decepciona-se com Deus e sai da comunhão, explica o pastor Sinfrônio Jardim.
E há, claro, grande número de pessoas que se aproxima de Deus seduzidas por propaganda enganosa. Chegam porque alguém lhes prometeu prosperidade aqui e agora, mas não percebem as implicações do discipulado a Cristo. Querem as bênçãos do cristianismo, mas nada de porta estreita e caminho apertado. Querem sair do mundo, mas levar o pecado a reboque. "Querem a salvação, mas não querem largar o pecado", resume Sinfrônio Jardim.
Por último, a decepção contra o próprio Deus é causa de afastamento de muitos. A pessoa é uma crente fiel e, de repente, alguém a quem ela ama morre, por exemplo. Nesse caso, se não tiver alicerces firmes em Deus, ela culpa a Deus pelo infortúnio. Age como se Deus tivesse sido ingrato com ela, sempre tão fiel, e, portanto, a seus olhos, merecedora de recompensa.
Poucas visitas ao desviado resultam em maior condenação:
Depois que experimentam a expulsão do paraíso, poucos conseguem encontrar lugar de arrependimento. Pior é que, se forem depender de boa parte da igreja para isso, já terão na mão o passaporte para o inferno.
Na pesquisa de Sinfrônio Jardim Neto, entre 60% e 70% dos desviados não recebem qualquer visita de líderes ou membros após sair da igreja. São simplesmente descartados ou substituídos por outros membros.
O restante dos desviados (entre 40% e 30%) recebe de uma a três visitas, que se revelam infrutíferas, porque, na maioria das vezes, a visita é de cobrança ou condenação. Em vez de amar o pecador e odiar o pecado, os visitantes lançam ambos na cova profunda do inferno. Jogam pedra, condenam. Decretam o inferno-já para o pecador. "É como bater de vara sobre a ferida de alguém... o ferimento e a dor só vão aumentar", compara Sinfrônio Jardim.
Hospícios e presídios estão lotados de ex-crentes:
Ainda segundo a pesquisa de Sinfrônio Jardim, existem três lugares onde sempre vão se encontrar desviados: nos hospícios, nos presídios e na mendicância:
- Vá a um hospício e, ali, você encontrará muita gente internada que recita versos bíblicos e canta canções cristãs. Essas, um dia se afastaram, caíram em pecado e os demônios tomaram conta de sua vida. Ficaram endemoninhadas.
- Depois visite um presídio e você encontrará inúmeros Josués, Elias e Samuéis. Detentos de nome bíblico, que demonstram o berço cristão. Ali você começa a conversar com um deles e descobre que é filho de presbítero de igreja.
- Por último, passe próximo a rodoviárias e estações de trem ou tente conversar com um andarilho de beira de estrada. Pelo menos três, entre dez dessas pessoas que andam bebendo errantes, sacos de bugigangas às costas, já participaram de uma igreja cristã. Ali, não raro, você encontra homens que um dia ocuparam solenes púlpitos e pregaram o evangelho.
E por que não voltam? Sinfrônio Jardim entende que a falta de perdão a si próprio e da própria igreja e o entendimento errado de que o que fez é imperdoável por Deus afastam-nas ,cada vez, mais do ponto de retorno.
- Mais da metade dos que se desviaram tem problemas sérios com o ressentimento e falta de perdão. Não voltam porque não conseguem perdoar, ou não querem perdoar ou acham que não merecem perdão.
O peso que está sobre a pessoa fica insuportável às vezes, explica Sinfrônio Jardim. Há denominações, por exemplo, que pregam que quem pratica adultério jamais será perdoado. Ora, com um decreto como esse na cabeça, o pecador desiste de qualquer tentativa de reconciliação com o Deus irado que lhe foi pintado e se transforma em um monstro na terra. Passa a praticar os mais baixos pecados, porque, pensa, se já está condenado ao inferno por toda a eternidade, resta aproveitar seus dias na terra.
Poucos saem em busca da ovelha extraviada:
Hoje, a maioria das igrejas não possui qualquer trabalho específico para trazer suas ovelhas desviadas de volta ao aprisco. Ninguém pensa em deixar suas noventa e nove ovelhas e sair atrás da centésima, extraviada. Sinfrônio Jardim também tem explicação para esse fenômeno. Afirma que, na visão expansionista de muitas igrejas hoje, é pouco lucrativo deixar noventa e nove ovelhas e sair por lugares ermos atrás de uma ovelhinha extraviada que nem sabe se está viva ou que talvez esteja tão ferida que não tenha chance de sobreviver.
- Muitos acham que não vale a pena tamanho esforço, que vão perder tempo. E, para aliviar a consciência, usam o argumento de que a pessoa já conhece a Palavra.
Outros chegam a usar versos bíblicos para justificar o esquecimento. "Saíram de nós porque não eram dos nossos..." é um dos mais recitados.
A falta de visão de restauração descrita por toda a Bíblia é ignorada nesses casos. "Buscar ovelhas perdidas é visão
antipática em muitas igrejas", lembra Sinfrônio Jardim. "Isso porque, quando o membro sai, geralmente sai falando mal da igreja ou do pastor. Acaba ficando malvisto dentro da própria igreja que, em vez de amá-lo e lhe perdoar, passa a tratá-lo como ovelha negra. Dessa forma, quando alguém se dispõe a ir atrás dessa ovelha perdida, torna-se também impopular e corre risco de ser também malvisto. E poucos estão dispostos a isso".
Igreja Batista da Lagoinha foi buscar três mil desviados:
O retorno, com sucesso, dos desviados à igreja depende, basicamente, da atitude da igreja. "A porcentagem de desviados que retorna à igreja não passa de 10% no Brasil, mas se a igreja toma uma atitude de ir buscá-los, consegue até 80% de sucesso", afirma o pastor Sinfrônio Jardim.
Bons exemplos não faltam: a Igreja Batista da Lagoinha, de Belo Horizonte, já reagrupou três mil pessoas ao seu rebanho de trinta mil pessoas em pouco mais de dois anos. Ali, o pastor César Teodoro dirige o ministério "A centésima ovelha", junto com o líder principal da igreja, Márcio Valadão.
A igreja Assembléia de Deus em Brasília, dirigida pelo pastor Elienai Cabral, também tem obtido sucesso no resgate aos seus desviados. Outra Assembléia de Deus, dirigida por Daniel Malafaia, em Campo Grande (MS), tem obtido sucesso semelhante.
"Fomos amados. Apenas amados. E isso fez toda a diferença"
O casal Valmir Soares e Alina é exemplo perfeito de filhos pródigos restaurados. Conheceu a Deus, resolveu seguir seus próprios caminhos, reconheceu o estado em que estava, conseguiu forças para voltar, foi recebido com festa e experimentou a restauração em suas vidas, nesta ordem:
A primeira experiência de Valmir e Alina com Cristo aconteceu em 1987. Por um ano e meio eles se relacionaram com Deus e com a igreja local que freqüentavam, em Campinas, SP. "O problema é que não abri totalmente o coração naquela época. O resultado é que, ao longo do tempo, fui esfriando, as coisas foram ficando difíceis e eu acabei tomando duas decisões erradas, que resultaram no meu afastamento da comunhão".
- Aí não tem jeito, você entra mesmo no pecado e fica até pior. Comecei a praticar coisas horríveis e a mentir para minha esposa. Quando pensava em voltar, havia sempre a voz acusadora do diabo, dizendo que eu era indigno, que ninguém iria me receber; enfim, que já não tinha volta. Eu me lembrava dos irmãos, da alegria e do amor que desfrutávamos, mas o pecado me impedia de voltar.
- Outra coisa que me impedia de voltar era a presunção, lembra Valmir. "Dizia para mim mesmo: tenho o Senhor na Bíblia... não preciso voltar. Eu não tinha o entendimento de que é o corpo quem nos sustenta".
- Mas, aí, Deus usou a vida do próprio casal que nos falara inicialmente de Jesus, os irmãos Hélcio La Scala Teixeira e Isabel, hoje pastores em São José dos Campos, SP.
Valmir relembra: "Um dia, depois de uma conversa franca com eles e de novo convite, eu e minha esposa resolvemos visitar a igreja novamente. Enchemo-nos de coragem e fomos. Era um domingo de setembro, em 1992. Fomos recebidos, literalmente, como filhos pródigos. A maioria dos irmãos nos abraçou, orou conosco e, pela graça de Deus, fomos tocados novamente. Fiquei mais de uma hora chorando num canto, arrependido".
Hoje o casal está restaurado e integrado na vida normal da igreja.
- "O melhor de tudo, diz Valmir, é que, em tempo algum, recebemos o menor olhar de acusação dos irmãos. Nem mesmo por parte daqueles que nos tinham aconselhado anteriormente e a quem não tínhamos dado ouvidos. Ninguém disse: 'Eu te avisei.' Fomos amados. Apenas amados. E isto fez toda a diferença".
UM DESVIO MONSTRUOSO
• Há hoje, apenas no Brasil, entre trinta e quarenta milhões de pessoas que um dia freqüentaram alguma igreja evangélica.
• Uma igreja de dez anos, que manteve média de duzentos membros, viu passar, por seu rol, o dobro desse número. Isto é, quatrocentas pessoas que passaram por essa igreja estão desviadas hoje.
• A porcentagem de desviados que retorna à igreja não passa de 10% no Brasil.
• Entre 60% e 70% dos desviados, estes não receberam qualquer visita de líderes ou membros quando decidiram sair da igreja.
• Entre 40% e 30% receberam de uma a três visitas, que se revelaram, na maioria das vezes, de cobrança ou condenação.
• Hospícios e presídios são os lugares de destino de boa parte dos desviados.
• De cada dez andarilhos, três deles freqüentaram alguma igreja um dia.
• A maioria dos desviados (acima de 50%) é afetada pelo ressentimento com sua liderança
Livros de Sinfrônio Jardim Neto, que tratam do assunto "desviados":
Jesus não desistiu de você (1 e 2)
Voltei Agora
Onde está o seu irmão?
Editora Betânia
A reconquista
Editora Vida
Outros livros:
Além do perdão
Don Baker
Editoria Betânia
Disciplina na Igreja
Russell Shedd - Edições Vida Nova
Decepcionado com Deus
Phillip Yancey
Editora Vida (?)
Para entrar em contato com o "Ministério Jesus não Desistiu de Você", ligue (31) 3452-1840
E-mail: daria@prover.com.br
www.jesusnaodesistiudevoce.com.br
A igreja talvez seja hoje o único exército do mundo cujos soldados não voltam para buscar seus feridos no campo de batalha. Ao contrário, substitui-os rapidamente no batalhão e segue em frente, esquecendo-se de que muitos soldados de valor ficaram à beira da morte pelas trincheiras.
Caso o último censo do IBGE tivesse incluído questão sobre o número de "desviados" no Brasil, o resultado seria assustador.
Calcula-se que, hoje, existam no País entre 30 milhões e 40 milhões de "desviados". Por "desviados" entenda pessoas que um dia tiveram seu nome no rol de membros de algum grupo cristão, mas que hoje estão à margem da vida da igreja.
Essas pessoas - cuja boa parte povoa hospícios e presídios ou, saco às costas, vaga errante à beira de estradas - um dia confessaram alegremente a Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor e no outro se viram literalmente jogados na sarjeta espiritual.
Nesse contingente de desviados há casos para todo tipo de pessoas. Do endurecido ao desprezado, do chafurdado na lama pelo engano do pecado ao desesperado para sair dele, mas sem ninguém para lhe estender a mão.
É dessa classe de pessoas que trata esta edição. De pessoas desesperadas por uma nova chance, mas sem ter a quem recorrer porque, sabem, o único lugar onde encontrariam novamente a paz para sua alma é a igreja, mas ali, pensam, há santos demais para admitir o retorno de um filho pródigo como ele.
Afinal, com ou sem motivo, um dia foram expulsos sumariamente. Seja porque, inadvertidamente, cortaram os longos cabelos ou caíram em erros considerados "sem volta" por sua igreja, como o adultério; seja porque foram disciplinados, escrachados, alijados da comunhão e, não raro, se excluíram ou foram excluídos. Como Satanás, foram expulsos do paraíso. Como Caim, receberam uma mancha na testa e foram condenados a andar errantes pelo mundo pelo resto de sua vida miserável. O problema é que em seus casos específicos, não foi Deus o autor do juízo sumário.
Com tamanha carga sobre as costas, voltar é passo difícil; em algumas situações, impossível.
- A própria igreja discrimina os desviados - constata Sinfrônio Jardim Neto, líder do ministério "Jesus não Desistiu de Você", de Belo Horizonte, dedicado à restauração da vida dos desviados.
- A igreja vê o desviado como se fosse Judas Iscariotes, que traiu a Deus e a igreja. E o trata como se fosse lixo que precisa ser retirado daquele ambiente. Mal sabe que o desviado é como o ouro de Deus que se perdeu na lama podre. Está perdido na lama, mas ainda é ouro e precisa de gente interessada, garimpeiros que estendam a mão e vasculhem até encontrá-lo.
Uma igreja de 200 membros perde outros 400 em 10 anos. Na próxima vez em que for a um culto, pare um instante e olhe à sua direita e esquerda. Agora, saiba que, daqui a dez anos, é possível que a senhora, o jovem sorridente e o austero senhor que estão em cadeiras ou bancos próximos a você cantando louvores estejam completamente afastados da igreja, amargurados com Deus e entristecidos por algum motivo.
De acordo com estatística do pastor mineiro Sinfrônio Jardim Neto, uma igreja de 10 anos de funcionamento, que tenha mantido média de 200 membros, viu passar por seu rol, ao longo dessa década, o dobro desse número. Uma evasão como essa explica a conta fictícia do parágrafo anterior.
Segundo as contas que têm feito ao longo de suas inúmeras campanhas em igrejas brasileiras desde 1994, quando começou a trabalhar com desviados, 400 pessoas que passaram por uma igreja que tem média de 200 membros estão desviadas hoje.
Em português claro e chocante: a igreja permanece com sua média de 200 membros, substituindo-os naturalmente. Mas essa rotatividade, originada na dificuldade de "fechar a porta dos fundos", resulta, ao final de 10 anos, em perda de 200% no número de pessoas.
Esses números, destaca Sinfrônio Jardim, são relativos apenas a desviados. Aqui não estão incluídos outros itens, como mudança de membro para outra igreja.
Expulso da igreja porque não usava chapéu:
As causas para o chamado desvio de pessoas na igreja são variadas, explica Sinfrônio Jardim Neto. Desde o abandono da fé em razão da volta voluntária ao pecado até a exclusão, pela liderança da igreja, em decorrência de coisas pequenas mas consideradas pecado por eles.
Em suas viagens, Sinfrônio Jardim diz que encontra situações de exclusão que seriam hilárias se não fossem tão perniciosas à vida das vítimas. Pessoas que foram excluídas por causa do legalismo exacerbado de igrejas cujos líderes zelosamente disciplinaram, com exagero, pequenas contravenções. Na ânsia de limpar o pecado, jogaram fora o "pecador" junto com a água suja.
- Vejo gente sofrendo, afastada da igreja por causa de coisas pequenas, como ter cortado o cabelo, ter deixado a barba e até, pasme, por ter sido visto andando de bicicleta. Uma vez, em Campos, no Rio, conheci um homem que foi expulso da igreja porque não usava chapéu, como ordenava o estatuto da igreja.
Falsas profecias levam muitos ao desvio:
Outra causa para o apartheid espiritual de muitos é a decepção com lideranças. O membro procura alguém para confessar uma fraqueza ou pecado e, em vez de perdão e ajuda para vencer o mal, recebe maior condenação.
As profecias falsas são também causa importante de desvio da fé. Inúmeras pessoas naufragam depois de receber profecias falsas. A pessoa tem o filho doente, por exemplo, e recebe uma "palavra de Deus" de cura. Pouco tempo depois a criança morre. Ela fica desesperada. Ou então ouve que deve se casar com alguém porque é vontade de Deus. Obediente, casa-se e, algum tempo depois, percebe que a voz ouvida não era da parte de Deus. Em vez de se decepcionar com o homem, decepciona-se com Deus e sai da comunhão, explica o pastor Sinfrônio Jardim.
E há, claro, grande número de pessoas que se aproxima de Deus seduzidas por propaganda enganosa. Chegam porque alguém lhes prometeu prosperidade aqui e agora, mas não percebem as implicações do discipulado a Cristo. Querem as bênçãos do cristianismo, mas nada de porta estreita e caminho apertado. Querem sair do mundo, mas levar o pecado a reboque. "Querem a salvação, mas não querem largar o pecado", resume Sinfrônio Jardim.
Por último, a decepção contra o próprio Deus é causa de afastamento de muitos. A pessoa é uma crente fiel e, de repente, alguém a quem ela ama morre, por exemplo. Nesse caso, se não tiver alicerces firmes em Deus, ela culpa a Deus pelo infortúnio. Age como se Deus tivesse sido ingrato com ela, sempre tão fiel, e, portanto, a seus olhos, merecedora de recompensa.
Poucas visitas ao desviado resultam em maior condenação:
Depois que experimentam a expulsão do paraíso, poucos conseguem encontrar lugar de arrependimento. Pior é que, se forem depender de boa parte da igreja para isso, já terão na mão o passaporte para o inferno.
Na pesquisa de Sinfrônio Jardim Neto, entre 60% e 70% dos desviados não recebem qualquer visita de líderes ou membros após sair da igreja. São simplesmente descartados ou substituídos por outros membros.
O restante dos desviados (entre 40% e 30%) recebe de uma a três visitas, que se revelam infrutíferas, porque, na maioria das vezes, a visita é de cobrança ou condenação. Em vez de amar o pecador e odiar o pecado, os visitantes lançam ambos na cova profunda do inferno. Jogam pedra, condenam. Decretam o inferno-já para o pecador. "É como bater de vara sobre a ferida de alguém... o ferimento e a dor só vão aumentar", compara Sinfrônio Jardim.
Hospícios e presídios estão lotados de ex-crentes:
Ainda segundo a pesquisa de Sinfrônio Jardim, existem três lugares onde sempre vão se encontrar desviados: nos hospícios, nos presídios e na mendicância:
- Vá a um hospício e, ali, você encontrará muita gente internada que recita versos bíblicos e canta canções cristãs. Essas, um dia se afastaram, caíram em pecado e os demônios tomaram conta de sua vida. Ficaram endemoninhadas.
- Depois visite um presídio e você encontrará inúmeros Josués, Elias e Samuéis. Detentos de nome bíblico, que demonstram o berço cristão. Ali você começa a conversar com um deles e descobre que é filho de presbítero de igreja.
- Por último, passe próximo a rodoviárias e estações de trem ou tente conversar com um andarilho de beira de estrada. Pelo menos três, entre dez dessas pessoas que andam bebendo errantes, sacos de bugigangas às costas, já participaram de uma igreja cristã. Ali, não raro, você encontra homens que um dia ocuparam solenes púlpitos e pregaram o evangelho.
E por que não voltam? Sinfrônio Jardim entende que a falta de perdão a si próprio e da própria igreja e o entendimento errado de que o que fez é imperdoável por Deus afastam-nas ,cada vez, mais do ponto de retorno.
- Mais da metade dos que se desviaram tem problemas sérios com o ressentimento e falta de perdão. Não voltam porque não conseguem perdoar, ou não querem perdoar ou acham que não merecem perdão.
O peso que está sobre a pessoa fica insuportável às vezes, explica Sinfrônio Jardim. Há denominações, por exemplo, que pregam que quem pratica adultério jamais será perdoado. Ora, com um decreto como esse na cabeça, o pecador desiste de qualquer tentativa de reconciliação com o Deus irado que lhe foi pintado e se transforma em um monstro na terra. Passa a praticar os mais baixos pecados, porque, pensa, se já está condenado ao inferno por toda a eternidade, resta aproveitar seus dias na terra.
Poucos saem em busca da ovelha extraviada:
Hoje, a maioria das igrejas não possui qualquer trabalho específico para trazer suas ovelhas desviadas de volta ao aprisco. Ninguém pensa em deixar suas noventa e nove ovelhas e sair atrás da centésima, extraviada. Sinfrônio Jardim também tem explicação para esse fenômeno. Afirma que, na visão expansionista de muitas igrejas hoje, é pouco lucrativo deixar noventa e nove ovelhas e sair por lugares ermos atrás de uma ovelhinha extraviada que nem sabe se está viva ou que talvez esteja tão ferida que não tenha chance de sobreviver.
- Muitos acham que não vale a pena tamanho esforço, que vão perder tempo. E, para aliviar a consciência, usam o argumento de que a pessoa já conhece a Palavra.
Outros chegam a usar versos bíblicos para justificar o esquecimento. "Saíram de nós porque não eram dos nossos..." é um dos mais recitados.
A falta de visão de restauração descrita por toda a Bíblia é ignorada nesses casos. "Buscar ovelhas perdidas é visão
antipática em muitas igrejas", lembra Sinfrônio Jardim. "Isso porque, quando o membro sai, geralmente sai falando mal da igreja ou do pastor. Acaba ficando malvisto dentro da própria igreja que, em vez de amá-lo e lhe perdoar, passa a tratá-lo como ovelha negra. Dessa forma, quando alguém se dispõe a ir atrás dessa ovelha perdida, torna-se também impopular e corre risco de ser também malvisto. E poucos estão dispostos a isso".
Igreja Batista da Lagoinha foi buscar três mil desviados:
O retorno, com sucesso, dos desviados à igreja depende, basicamente, da atitude da igreja. "A porcentagem de desviados que retorna à igreja não passa de 10% no Brasil, mas se a igreja toma uma atitude de ir buscá-los, consegue até 80% de sucesso", afirma o pastor Sinfrônio Jardim.
Bons exemplos não faltam: a Igreja Batista da Lagoinha, de Belo Horizonte, já reagrupou três mil pessoas ao seu rebanho de trinta mil pessoas em pouco mais de dois anos. Ali, o pastor César Teodoro dirige o ministério "A centésima ovelha", junto com o líder principal da igreja, Márcio Valadão.
A igreja Assembléia de Deus em Brasília, dirigida pelo pastor Elienai Cabral, também tem obtido sucesso no resgate aos seus desviados. Outra Assembléia de Deus, dirigida por Daniel Malafaia, em Campo Grande (MS), tem obtido sucesso semelhante.
"Fomos amados. Apenas amados. E isso fez toda a diferença"
O casal Valmir Soares e Alina é exemplo perfeito de filhos pródigos restaurados. Conheceu a Deus, resolveu seguir seus próprios caminhos, reconheceu o estado em que estava, conseguiu forças para voltar, foi recebido com festa e experimentou a restauração em suas vidas, nesta ordem:
A primeira experiência de Valmir e Alina com Cristo aconteceu em 1987. Por um ano e meio eles se relacionaram com Deus e com a igreja local que freqüentavam, em Campinas, SP. "O problema é que não abri totalmente o coração naquela época. O resultado é que, ao longo do tempo, fui esfriando, as coisas foram ficando difíceis e eu acabei tomando duas decisões erradas, que resultaram no meu afastamento da comunhão".
- Aí não tem jeito, você entra mesmo no pecado e fica até pior. Comecei a praticar coisas horríveis e a mentir para minha esposa. Quando pensava em voltar, havia sempre a voz acusadora do diabo, dizendo que eu era indigno, que ninguém iria me receber; enfim, que já não tinha volta. Eu me lembrava dos irmãos, da alegria e do amor que desfrutávamos, mas o pecado me impedia de voltar.
- Outra coisa que me impedia de voltar era a presunção, lembra Valmir. "Dizia para mim mesmo: tenho o Senhor na Bíblia... não preciso voltar. Eu não tinha o entendimento de que é o corpo quem nos sustenta".
- Mas, aí, Deus usou a vida do próprio casal que nos falara inicialmente de Jesus, os irmãos Hélcio La Scala Teixeira e Isabel, hoje pastores em São José dos Campos, SP.
Valmir relembra: "Um dia, depois de uma conversa franca com eles e de novo convite, eu e minha esposa resolvemos visitar a igreja novamente. Enchemo-nos de coragem e fomos. Era um domingo de setembro, em 1992. Fomos recebidos, literalmente, como filhos pródigos. A maioria dos irmãos nos abraçou, orou conosco e, pela graça de Deus, fomos tocados novamente. Fiquei mais de uma hora chorando num canto, arrependido".
Hoje o casal está restaurado e integrado na vida normal da igreja.
- "O melhor de tudo, diz Valmir, é que, em tempo algum, recebemos o menor olhar de acusação dos irmãos. Nem mesmo por parte daqueles que nos tinham aconselhado anteriormente e a quem não tínhamos dado ouvidos. Ninguém disse: 'Eu te avisei.' Fomos amados. Apenas amados. E isto fez toda a diferença".
UM DESVIO MONSTRUOSO
• Há hoje, apenas no Brasil, entre trinta e quarenta milhões de pessoas que um dia freqüentaram alguma igreja evangélica.
• Uma igreja de dez anos, que manteve média de duzentos membros, viu passar, por seu rol, o dobro desse número. Isto é, quatrocentas pessoas que passaram por essa igreja estão desviadas hoje.
• A porcentagem de desviados que retorna à igreja não passa de 10% no Brasil.
• Entre 60% e 70% dos desviados, estes não receberam qualquer visita de líderes ou membros quando decidiram sair da igreja.
• Entre 40% e 30% receberam de uma a três visitas, que se revelaram, na maioria das vezes, de cobrança ou condenação.
• Hospícios e presídios são os lugares de destino de boa parte dos desviados.
• De cada dez andarilhos, três deles freqüentaram alguma igreja um dia.
• A maioria dos desviados (acima de 50%) é afetada pelo ressentimento com sua liderança
Livros de Sinfrônio Jardim Neto, que tratam do assunto "desviados":
Jesus não desistiu de você (1 e 2)
Voltei Agora
Onde está o seu irmão?
Editora Betânia
A reconquista
Editora Vida
Outros livros:
Além do perdão
Don Baker
Editoria Betânia
Disciplina na Igreja
Russell Shedd - Edições Vida Nova
Decepcionado com Deus
Phillip Yancey
Editora Vida (?)
Para entrar em contato com o "Ministério Jesus não Desistiu de Você", ligue (31) 3452-1840
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segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Os Mistérios da Escritura
Arnold Doolan
Bíblia encontramos a palavra “mistério” usada várias vezes. A palavra grega usada no Novo Testamento é “musterion”, e significa fundamentalmente que esteve escondida ou desconhecida até ao momento em que foi revelada. É uma verdade que, até certo ponto da história não tinha sido revelada e que o homem, pelo seu próprio intelecto não pode compreender. É necessária a revelação de Deus ao homem, pela qual Ele descobre o mistério e torna-o compreensível. Convém ainda notar que na versão J. F. Almeida da Bíblia, a palavra “segredo” é usada algumas vezes (exemplo Rom. 11:25). Esta palavra é correctamente traduzida em outras versões pela expressão “mistério”.
❶
OS MISTÉRIOS DO REINO DO CÉU
— Mateus 13:3-50 —
Os mistérios do Reino do Céu (v.11) estão apresentados neste capítulo na forma de sete parábolas. Nos capítulos iniciais de Mateus o Senhor Jesus Cristo apresenta-se perante Israel como o Messias — o Rei. No capítulo 12 os líderes religiosos dos judeus rejeitaram-No, acusando-O de fazer milagres pelo poder do demónio. Agora que o Rei é rejeitado, o reino surge de uma forma diferente. É precisamente isso que lemos em Mateus 13. Estas sete parábolas são a descrição do reino durante o tempo da rejeição do Rei até ao Seu regresso para reger sobre a terra. O Rei está agora ausente, porém, o Seu Reino pode ser visto onde qualquer homem escolher reconhecê-Lo como Rei.
❷
O MISTÉRIO DO ENDURECIMENTO DE ISRAEL
- Rom. 11:25 -
Uma vez que Israel rejeitou o Senhor Jesus Cristo, Deus causou um endurecimento judicial sobre a nação judaica. Isto explica porque muitos judeus têm uma grande dificuldade em aceitar Jesus como Messias. Este endurecimento (algumas pessoas chamam-no cegueira) não é total nem final. Existem alguns judeus que vêem Jesus como o Messias de quem os profetas falaram. Este endurecimento continuará até que a “plenitude dos gentios” tenha chegado, até que o Senhor tome a sua Noiva, a Igreja, para estar com Ele. Então, um remanescente de Israel volver-se-á para Cristo.
❸
O MISTÉRIO DO ARREBATAMENTO
— 1Cor. 15:51,52 —
Até ao momento em que este mistério foi revelado, todos pensavam que todas as pessoas iriam morrer mais cedo ou mais tarde. Agora, o apóstolo Paulo declara que nem todos os crentes irão morrer. Aqueles que viverem no tempo do Arrebatamento subirão ao céu sem passarem pela morte. Eles serão transformados, isto é, eles receberão corpos glorificados e eles nunca verão a morte. Aqueles que já tiverem morrido em Cristo serão ressuscitados e levados para o céu com os crentes que estiverem vivos. Este mistério está também explicado em 1 Tess. 4:13-
❹
O MISTÉRIO DA IGREJA
— Rom. 16:25 —
A Igreja foi um segredo escondido desde o princípio do mundo até ao tempo dos apóstolos. Aí foi relevado aos apóstolos e profetas do período do Novo Testamento (Ef. 3:5). É essencial compreendermos as várias feições da Igreja, tal como revelada no Novo Testamento.
1). A Igreja é o corpo de Cristo (1Cor. 12:12,13).
2). Cristo é a Cabeça do Corpo, sendo este a Igreja (Cl. 1:18).
3). Todos os crentes nascidos de novo são membros do Corpo (1Cor. 12:13).
4). Os crentes judeus e gentios compartilham a mesma esperança, tendo a antiga
inimizade entre Judeus e Gentios sido abolida através de Cristo (Ef. 3:6; Cl. 1:26,27; Ef. 2:14,15).
5). A Igreja é a Noiva de Cristo (Ef. 5:26,27,31,32).
6). É o propósito de Deus fazer de Cristo a Cabeça do Universo redimido (Ef.
1:9,10), com a Igreja reinando como Sua Noiva e participando da Sua glória para sempre.
❺
O MISTÉRIO da INIQUIDADE
— 2 Tessalonicenses 2:7,8 —
Mesmo nos primeiros dias da existência da Igreja, já o espírito da iniquidade estava a operar. Havia muitos anticristos. Apesar disso, o espírito da iniquidade foi restringido por um grande Poder. Entendemos perfeitamente que este grande poder era o Espírito Santo. Quando este poder que restringe, ou seja, o Espírito Santo, for retirado, então o iníquo (rebelde), o Anticristo, aparecerá no palco da história. Ele será a personificação do mal. O mundo nunca terá uma tão elevada concentração do mal numa única pessoa.
❻
O MISTÉRIO DA FÉ
— 1 Timóteo 3:9 —
Este mistério refere-se a toda a doutrina cristã, chamada «a fé». Muitas destas verdades eram desconhecidas nos tempos do Antigo Testamento.
❼
O MISTÉRIO da DIVINDADE
— 1 Timóteo 3:16 —
Este verso refere-se ao Senhor Jesus Cristo. Antes da vinda de Cristo nunca ninguém tinha visto a perfeita piedade (grg - eusébia= devoção) numa vida humana. Quando Cristo veio, Ele deu uma demonstração prática de como uma pessoa divina é. Paulo diz que este é um grande mistério, significando que é maravilhoso. Notemos que este mistério está em absoluto contraste com o mistério da iniquidade (2 Tess. 2:7,9). É o contraste entre Cristo e o Anticristo.
8)
O MISTÉRIO das SETE ESTRELAS
— Apocalipse 1:20 —
As sete igrejas na visão de João são os anjos ou mensageiros das sete igrejas da Ásia. Os sete castiçais de ouro são as sete igrejas. Nos dois capítulos seguintes, o Senhor endereça carta aos anjos das sete igrejas. Estas cartas podem ser compreendidas de três formas diferentes:
1). Eram sete cartas literais escritas a sete igrejas literais que existiam no tempo de João;
2). As cartas substanciam uma visão cronológica da história da Igreja desde o Pentecostes até ao fim da era da Igreja;
3). Elas descrevem as características que pode ser encontradas na Igreja Universal em qualquer época da sua história.
❾
O MISTÉRIO de DEUS
— Apocalipse 10:7 —
Quando soar a sétima trombeta do Apocalipse, o mistério de Deus será cumprido. O som desta trombeta será acompanhado por altas vozes celestiais dizendo «Os reinos deste mundo vieram a ser do nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre» Apoc. 11:15. Daqui conhecemos que a sétima trombeta soará no fim da Grande Tribulação quando Cristo vier para a Terra para implantar o Seu Reino - Apoc. 11:17. Nesse tempo, aqueles que tiverem sido fieis perante o Senhor durante o período da Grande Tribulação serão galardoados e os Seus inimigos serão destruídos - Apoc. 11:18. Então, o mistério de Deus será cumprido na sua plenitude. O mal que tem sido tão persistente e que tem causado tanta miséria, será finalmente abolido. O reino do pecado que foi permitido por Deus para triunfar durante algum tempo, como em Salmo 2, terminará com um indubitável e glorioso triunfo de Cristo. A humanidade não conhece isto, nem crê assim nos dias de hoje. Deste modo, é um mistério revelado apenas aos Seus «servos e profetas».
❿
O MISTÉRIO da BABILÓNIA
— Apocalipse 17:5-7 —
Neste capítulo encontramos o cenário de uma prostituta sentada sobre uma besta, a qual tem sete cabeças e dez chifres. Ela é designada por "grande Babilónia, a mãe das prostituições e abominações da terra. Nos versículos 8 a 18 encontramos a explicação deste mistério. A mulher é uma grande cidade que governa sobre os reis da terra (v.18). A Besta é um império que já existiu no passado, que deixou de existir, depois reavivado novamente e por fim destruído (verso 8). Os dez chifres são dez reis que se unirão em federação formando este império (verso 12). A prostituta irá governar sob a permissão da besta por algum tempo, mas depois será destruída pela besta (v.16). Finalmente, o império será ele próprio destruído pelo Senhor (v.14). Como devemos interpretar esta passagem ? Permitam-se sugerir a seguinte interpretação: A mulher representa um grande sistema religioso que terá a sua "sede" em Roma. Será uma igreja mundial com enormes recursos financeiros. Porque razão é esta igreja mundial chamada de «prostituta» ? Precisamente porqueela cometeu fornicação com os reis e habitantes da terra. A sua relação ilícita com o sistema do mundo é contrária à crença e comportamento da verdadeira Igreja de Jesus Cristo. A Sua Igreja é uma assembleia que é chamada para fora do mundo, para ficar separada dele. As sete cabeças são os sete montes (verso 9). Ora, Roma é conhecida como a cidade dos «sete montes». Os sete reis (verso 10) são as cabeças do Império Romano. Quando João recebeu esta visão, cinco dessas cabeças (governadores) já tinham caído. Eram precisamente Júlio César, Tibério, Caligula, Cláudio e Nero. O anjo disse então: «e um existe» (ou seja, Domictio, o último dos césares que estava vivo aquando da altura em que João escreveu o Apocalipse).
"Outro ainda não é vindo». A sua identificação é clara. Uma outra cabeça do império romano ainda está para vir. Será o Anticristo, inspirado e completamente dominado por Satanás. Depois de apoiar a igreja mundial por algum tempo, o governador do Império Romano Reavivado voltar-se-á contra esse sistema e o destruirá. Para maiores detalhes, estude Apocalipse 18.
+ MAIS QUATRO MISTÉRIOS
1.CORÍNTIOS 2:7 - Paulo refere-nos que quer ele quer os outros apóstolos falavam da sabedoria de Deus oculta em mistério. Ele explica que falavam de verdades que tinham estado escondidas às gerações anteriores, mas que agora estavam a ser reveladas pelo Espírito Santo.
1.CORÍNTIOS 4:1 - Neste versículo, Paulo referencia que eles eram dispenseiros dos mistérios de Deus. A palavra «mistério» é aqui usada no sentido geral e comum, abrangente das revelações da dispensação da Graça de Deus.
1.CORÍNTIOS 13:2 - Somos recordados que é inútil conhecer todos os mistérios e ter todo o conhecimento se não tivermos amor. Ainda que se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se não tivéssemos amor, nada seria.
1.CORÍNTIOS 14:2 - Finalmente, Paulo diz-nos nesta passagem que se alguém fala numa língua estrangeira sem a presença do devido intérprete, não decorre benefício algum para alguém, mesmo que essa pessoa esteja a falar dos mistérios mais profundos.
sábado, 24 de novembro de 2007
Entrevista com Russell Shedd
"Doutor Bíblia"
Virgínia Rodrigues
(entrevista concedida à Revista Enfoque Gospel)
Ele foi, oficialmente, o primeiro colunista da Enfoque. Em 2001, tive o prazer de lhe fazer o convite pessoalmente em sua própria casa, em São Paulo, onde me recebeu com carinho e toda a humildade, que lhe é constante. Enfoque nem existia no papel, mas ele acreditou no projeto, deu-me a sua confiança e foi um dos primeiros pilares de nossa revista.
Russell P. Shedd é PhD em Novo Testamento pela Universidade de Edimburgo, Escócia, fundou a Edições Vida Nova há 44 anos e é consultor da Shedd Publicações. É também missionário da Missão Batista Conservadora no Sul do Brasil com sede nos EUA, já lecionou na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, viaja pelo Brasil e exterior fazendo conferências em congressos, igrejas, seminários e escolas de Teologia e é membro da Igreja Batista do Jardim Consórcio, em São Paulo.
Esse doutor em conhecimento e humildade, é autor de vários livros já bem conhecidos (veja box) e tem ainda uma Bíblia com seu nome, onde escreveu os comentários de rodapé. No dia 10 deste mês, pastor Shedd completa 77 anos. A ele dedicamos estas páginas para que, através de suas palavras de esclarecimento e ensino, o leitor também seja presenteado. De volta à sua casa, foi edificante notar que cinco anos se passaram e esse amigo e colunista continua repleto de excelentes palavras para oferecer. Saí de lá pensando: “Como o mundo precisa de gente assim! Como a gente cresce ao conversar com esse homem!”
ENFOQUE – Há mais de 40 anos no Brasil, como contempla o panorama da teologia no país? Que diferenças percebe entre o período de sua chegada ao país e os dias de hoje?
SHEDD – Uma das mais notáveis diferenças que observo é a imensa abertura para a existência de denominações e grupos evangélicos diferentes. Antes o cenário era bem definido, com paredes altas para que ninguém saísse de tal igreja e fosse para outra diferente. Quando cheguei ao Brasil em 1962, foi justamente no período em que as denominações estavam se dividindo por causa da força do pentecostalismo. Os tradicionais não aceitavam muito e um pastor não admitia que sua ovelha fosse para uma igreja da Assembléia de Deus, por exemplo.
ENFOQUE – Ou seja, na época não havia muita tolerância com o diferente?
SHEDD – Exatamente. Hoje, a liderança é mais tolerante, mais aberta. Talvez seja o espírito pós-moderno que permite diferentes opiniões e idéias. Eu tenho a minha, você tem a sua e vamos conviver. Não dá para excluir tudo só porque não há concordância. Essa é uma diferença que impressiona. Antes, havia batistas, presbiterianos, metodistas bem definidos e era quase uma transgressão migrar de uma denominação para outra, principalmente se era para uma igreja pentecostal.
ENFOQUE – Mas hoje a abertura tem relação com os grupos religiosos tanto quanto com as manifestações nas igrejas, não acha?
SHEDD – Sim, antes não se batia palmas em uma igreja batista, por exemplo. As pessoas não levantavam as mãos em igrejas mais tradicionais. Falar em línguas e presenciar manifestações divinas eram experiências apenas dos ambientes pentecostais.
ENFOQUE – Por que razão acha que essas mudanças acabaram acontecendo?
SHEDD – Acho que há várias razões: o espírito da pós-modernidade, a capacidade do homem em se adaptar e se adequar, e a ação do Espírito Santo. Acho que hoje já caiu a idéia de que uma igreja é absolutamente certa, que a tradução bíblica que recebi é absolutamente certa e os outros estão absolutamente errados. Eu me lembro que nos reunimos na Faculdade Teológica a fim de considerar que todas as denominações têm alguma coisa para nos ensinar. Mas isso não foi aprovado. Era 1963. Tais coisas também aconteciam por causa do orgulho que nós herdamos.
ENFOQUE – Como percebeu as conseqüências desse orgulho?
SHEDD – Veja quanta coisa ocorreu com os batistas a fim de nos humilhar. Aconteceram quedas morais, financeiras, administrativas. Instituições quebraram, bens se perderam etc.
ENFOQUE – Que análise faz desse novo cenário de igrejas que se formou, com o surgimento de tantas denominações novas como a Universal do Reino de Deus, Igreja da Graça, Sara Nossa Terra? O que isso desencadeou?
SHEDD – Entendo que podemos aceitá-los como irmãos. Por que temos que combatê-los como hereges?
ENFOQUE – O senhor acha que tudo isso trouxe um pouco de confusão do que significa ser evangélico hoje?
SHEDD – Há mais de 30 anos, o Evangelho era muito definido aqui. Existiam presbiterianos, batistas, metodistas e congregacionais. E a Assembléia de Deus era marginalizada. Agora a situação mudou completamente. Os países do chamado Primeiro Mundo estão muito mais fragilizados espiritualmente do que aqui, ainda que muita gente não reconheça. Eles perderam a fé. Pelo menos, a Universal coloca em todos os lugares que “Jesus Cristo é o Senhor”. Enquanto na Alemanha, por exemplo, ser pastor é uma profissão. Há igrejas lá em que no estatuto está escrito que o pastor tem que ser crente.
ENFOQUE – E quem é marginalizado hoje?
SHEDD – A Universal ainda é, com certeza, discriminada por grande parte dos evangélicos. E uma das razões é que eles não procuram a gente, não participam de nenhum evento nosso. Parece que não querem se chegar. É mais ou menos como era a Assembléia de Deus nos anos 60, época em que eu nunca recebia convite da denominação para pregar. Hoje, quase um terço das minhas conferências são nas Assembléias de Deus.
ENFOQUE – Como avalia o desenvolvimento do mercado editorial no Brasil?
SHEDD – Sabemos que a cultura brasileira não é de leitura, é de televisão. Poucos aqui lêem e, mesmo assim, a leitura feita por evangélicos só aumenta. As pessoas se interessam mais, compram mais livros, procuram títulos novos, buscam assuntos. E as editoras investem. Ninguém está jogando dinheiro fora. E os preços dos livros no Brasil não são baratos. Se o público compra é porque interessa.
ENFOQUE – Como acha que a igreja pode transformar quantidade em qualidade, já que o percentual de evangélicos só aumenta no país?
SHEDD – Fazer isso é complicado pelo simples fato de que não há nenhum controle. Ninguém pode controlar a vida e as atitudes de ninguém. Penso que o importante é que existam boas escolas teológicas, melhor preparo para a liderança; que existam líderes de referência e boa literatura para as pessoas que não estejam satisfeitas com o que têm recebido e desejam algo mais substancial. Que haja, pelo menos, uma ação.
ENFOQUE – Logo, é preciso contrapor um Evangelho que tem sido muito superficial, não?
SHEDD – Sim, mas não apenas com campanhas disso ou daquilo. Acho que o caminho deve ser bíblico, buscando a glória de Deus, e não uma vantagem. Tem gente que vive fazendo uma espécie de barganha com Deus.
ENFOQUE – Em sua opinião, o crente pode perder a salvação?
SHEDD – Biblicamente, não. Mas o que ele mesmo pode demonstrar é que nunca foi realmente salvo. Para nós, salvação é uma decisão inicial. A Bíblia ensina a salvação como algo que começa com uma matrícula chamada batismo. E pelo resto da vida você continua aprendendo. Se alguém não aprende, mostra que não se entregou. Então a decisão foi falsa.
ENFOQUE – Há tantas pessoas que estiveram por tanto tempo na igreja, comprometidos com Deus e não estão mais. O que dizer sobre isso?
SHEDD – Talvez estivessem ali por ansiedade, medo, circunstâncias, conveniência. Talvez por uma tentativa de ver se Deus iria lhes dar algum benefício que tanto queriam. Não estavam pensando em Deus, mas em si mesmos.
ENFOQUE – Que modismos vieram e se foram em todos esses anos?
SHEDD – Boa pergunta. Tem tanta coisa que veio e ficou, tantas que não existem mais. Hoje não se cantam mais hinos, não se faz mais os cultos de quarta-feira nas igrejas. A Escola Bíblica Dominical também está fora de moda. Começou em 1800 e está acabando. Muitos sentem falta dessas coisas. Há outras coisas que não sei se podemos chamar de modismo, mas já tivemos os milagres dos dentes de ouro e das folhas que brilhavam como fogo sob o frio de reuniões de oração nos montes. Ninguém fala mais disso.
ENFOQUE – E o que acha de manifestações como essas?
SHEDD – Acho legítimas, saudáveis, reais. Porque algumas desapareceram, eu não sei. Mas creio que foram, no geral, manifestações angelicais, embora outras tenham sido demoníacas. A Bíblia diz que os demônios fazem as mesmas coisas que os anjos, só que eles não estão servindo a Deus, estão servindo ao seu deus. Demônios também fazem cura. Mas essa manifestação de cura vem para confundir ou para que as pessoas, de uma forma indireta, glorifiquem o demônio.
ENFOQUE – O que fazer para que as pessoas leiam mais a Bíblia, já que hoje existem tantos recursos, como comentários e versões?
SHEDD – O mais importante de tudo é uma tradução que o povo entenda. Essa é uma das vantagens da Bíblia que possui linguagem contemporânea. Outro ponto para tornar a Bíblia mais interessante é mostrar que ela soluciona os problemas. A gente tem problemas, mas não sabe que a Bíblia tem a solução. A questão é que não basta ler, mas seguir.
ENFOQUE – O que pensa sobre angeologia? Como atuam os anjos?
SHEDD – Anjos são ministradores dos dons espirituais: profecias, dons de línguas, discernimento de espíritos demoníacos. A gente não sabe se um anjo é de luz ou não, eles enganam. Então eles [os anjos verdadeiros] têm que nos dar a possibilidade de discernir se vêm de Deus. Em síntese, os anjos são ministradores do Senhor.
ENFOQUE – Mas se eu não tenho o dom de línguas, por exemplo, eles podem me acompanhar?
SHEDD – Não tenho anjo me acompanhando, tenho o Espírito Santo.
ENFOQUE – Então não acredita que cada pessoa tenha o seu anjo?
SHEDD – Tem, se for pequenino. Foi o que disse Jesus em Mateus 18.10: “Os seus anjos (dos pequeninos) sempre vêem a face do meu Pai que está no céu”. Pequenino quer dizer criança, pessoas começando a vida cristã. E talvez haja acompanhamento angelical para casos especiais. Anjos se manifestam e acompanham por causa da sua utilidade, para a glória de Deus, pois eles vêm para ministrar. Os dons não são para nós mesmos, são para o benefício da igreja. Então, certas pessoas são muito mais abertas aos dons. Crianças são mais sensíveis à presença de anjos.
ENFOQUE – O que acha de uma certa “rejudaização” que acontece em algumas igrejas?
SHEDD – É uma prática que não vai ajudar. Sou contrário a elas. Com o Novo Testamento aconteceu o fim da lei, o fim de todas aquelas práticas do Velho Testamento. Por que voltar para trás, para o que existia antes de Cristo? Voltar é perder o próprio Cristo, que veio para o novo.
ENFOQUE – Como tem avaliado o nível dos pastores de hoje?
SHEDD – Eles precisam realmente estudar a Palavra, usar os argumentos que estão na Palavra. Enfim, a Palavra deve entrar na cabeça do pregador, que precisa ter a mente de Cristo.
ENFOQUE – O que sente em relação à sua participação na Enfoque durante esses anos?
SHEDD – Bem, a revista me impôs uma disciplina que eu não tinha antes. Cada mês tenho de saber e escrever alguma coisa. Tenho que procurar escrever sobre algo. É desafiante. E, durante cinco anos, fui percebendo que a revista tinha a possibilidade de se manter. Porque a primeira pergunta, quando comecei, foi: “Será que essa revista vai dar certo?” E ela resistiu. A revista está firme, tem textos muito bons. Não sei se meus artigos estão valendo a pena para os leitores (risos), mas tenho gostado desse desafio.
O QUE SHEDD JÁ PUBLICOU
Andai Nele
A Justiça Social e a Interpretação da Bíblia
Disciplina na Igreja
A Escatologia do Novo Testamento
Alegrai-vos no Senhor
O Mundo, a Carne e o Diabo
Nos Passos de Jesus
Lei, Graça e Santificação
Imortalidade
A Solidariedade da Raça
Justificação
A Escatologia e a Influência do Futuro no Dia-a-dia do Cristão
A Oração e o Preparo de Líderes Cristãos
Fundamentos Bíblicos da Evangelização
Adoração Bíblica
O Líder que Deus Usa
Palavra Viva
Teologia do Desperdício
Missões – Vale a Pena Investir?
Criação e Graça – Reflexão Sobre as Revelações de Deus
Avivamento e Renovação
Bíblia em Ação (CD-ROM)
Comentários de rodapé da Bíblia Vida Nova e da Bíblia Shedd, publicados por Edições Vida Nova e Shedd Publicações.
Virgínia Rodrigues
(entrevista concedida à Revista Enfoque Gospel)
Ele foi, oficialmente, o primeiro colunista da Enfoque. Em 2001, tive o prazer de lhe fazer o convite pessoalmente em sua própria casa, em São Paulo, onde me recebeu com carinho e toda a humildade, que lhe é constante. Enfoque nem existia no papel, mas ele acreditou no projeto, deu-me a sua confiança e foi um dos primeiros pilares de nossa revista.
Russell P. Shedd é PhD em Novo Testamento pela Universidade de Edimburgo, Escócia, fundou a Edições Vida Nova há 44 anos e é consultor da Shedd Publicações. É também missionário da Missão Batista Conservadora no Sul do Brasil com sede nos EUA, já lecionou na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, viaja pelo Brasil e exterior fazendo conferências em congressos, igrejas, seminários e escolas de Teologia e é membro da Igreja Batista do Jardim Consórcio, em São Paulo.
Esse doutor em conhecimento e humildade, é autor de vários livros já bem conhecidos (veja box) e tem ainda uma Bíblia com seu nome, onde escreveu os comentários de rodapé. No dia 10 deste mês, pastor Shedd completa 77 anos. A ele dedicamos estas páginas para que, através de suas palavras de esclarecimento e ensino, o leitor também seja presenteado. De volta à sua casa, foi edificante notar que cinco anos se passaram e esse amigo e colunista continua repleto de excelentes palavras para oferecer. Saí de lá pensando: “Como o mundo precisa de gente assim! Como a gente cresce ao conversar com esse homem!”
ENFOQUE – Há mais de 40 anos no Brasil, como contempla o panorama da teologia no país? Que diferenças percebe entre o período de sua chegada ao país e os dias de hoje?
SHEDD – Uma das mais notáveis diferenças que observo é a imensa abertura para a existência de denominações e grupos evangélicos diferentes. Antes o cenário era bem definido, com paredes altas para que ninguém saísse de tal igreja e fosse para outra diferente. Quando cheguei ao Brasil em 1962, foi justamente no período em que as denominações estavam se dividindo por causa da força do pentecostalismo. Os tradicionais não aceitavam muito e um pastor não admitia que sua ovelha fosse para uma igreja da Assembléia de Deus, por exemplo.
ENFOQUE – Ou seja, na época não havia muita tolerância com o diferente?
SHEDD – Exatamente. Hoje, a liderança é mais tolerante, mais aberta. Talvez seja o espírito pós-moderno que permite diferentes opiniões e idéias. Eu tenho a minha, você tem a sua e vamos conviver. Não dá para excluir tudo só porque não há concordância. Essa é uma diferença que impressiona. Antes, havia batistas, presbiterianos, metodistas bem definidos e era quase uma transgressão migrar de uma denominação para outra, principalmente se era para uma igreja pentecostal.
ENFOQUE – Mas hoje a abertura tem relação com os grupos religiosos tanto quanto com as manifestações nas igrejas, não acha?
SHEDD – Sim, antes não se batia palmas em uma igreja batista, por exemplo. As pessoas não levantavam as mãos em igrejas mais tradicionais. Falar em línguas e presenciar manifestações divinas eram experiências apenas dos ambientes pentecostais.
ENFOQUE – Por que razão acha que essas mudanças acabaram acontecendo?
SHEDD – Acho que há várias razões: o espírito da pós-modernidade, a capacidade do homem em se adaptar e se adequar, e a ação do Espírito Santo. Acho que hoje já caiu a idéia de que uma igreja é absolutamente certa, que a tradução bíblica que recebi é absolutamente certa e os outros estão absolutamente errados. Eu me lembro que nos reunimos na Faculdade Teológica a fim de considerar que todas as denominações têm alguma coisa para nos ensinar. Mas isso não foi aprovado. Era 1963. Tais coisas também aconteciam por causa do orgulho que nós herdamos.
ENFOQUE – Como percebeu as conseqüências desse orgulho?
SHEDD – Veja quanta coisa ocorreu com os batistas a fim de nos humilhar. Aconteceram quedas morais, financeiras, administrativas. Instituições quebraram, bens se perderam etc.
ENFOQUE – Que análise faz desse novo cenário de igrejas que se formou, com o surgimento de tantas denominações novas como a Universal do Reino de Deus, Igreja da Graça, Sara Nossa Terra? O que isso desencadeou?
SHEDD – Entendo que podemos aceitá-los como irmãos. Por que temos que combatê-los como hereges?
ENFOQUE – O senhor acha que tudo isso trouxe um pouco de confusão do que significa ser evangélico hoje?
SHEDD – Há mais de 30 anos, o Evangelho era muito definido aqui. Existiam presbiterianos, batistas, metodistas e congregacionais. E a Assembléia de Deus era marginalizada. Agora a situação mudou completamente. Os países do chamado Primeiro Mundo estão muito mais fragilizados espiritualmente do que aqui, ainda que muita gente não reconheça. Eles perderam a fé. Pelo menos, a Universal coloca em todos os lugares que “Jesus Cristo é o Senhor”. Enquanto na Alemanha, por exemplo, ser pastor é uma profissão. Há igrejas lá em que no estatuto está escrito que o pastor tem que ser crente.
ENFOQUE – E quem é marginalizado hoje?
SHEDD – A Universal ainda é, com certeza, discriminada por grande parte dos evangélicos. E uma das razões é que eles não procuram a gente, não participam de nenhum evento nosso. Parece que não querem se chegar. É mais ou menos como era a Assembléia de Deus nos anos 60, época em que eu nunca recebia convite da denominação para pregar. Hoje, quase um terço das minhas conferências são nas Assembléias de Deus.
ENFOQUE – Como avalia o desenvolvimento do mercado editorial no Brasil?
SHEDD – Sabemos que a cultura brasileira não é de leitura, é de televisão. Poucos aqui lêem e, mesmo assim, a leitura feita por evangélicos só aumenta. As pessoas se interessam mais, compram mais livros, procuram títulos novos, buscam assuntos. E as editoras investem. Ninguém está jogando dinheiro fora. E os preços dos livros no Brasil não são baratos. Se o público compra é porque interessa.
ENFOQUE – Como acha que a igreja pode transformar quantidade em qualidade, já que o percentual de evangélicos só aumenta no país?
SHEDD – Fazer isso é complicado pelo simples fato de que não há nenhum controle. Ninguém pode controlar a vida e as atitudes de ninguém. Penso que o importante é que existam boas escolas teológicas, melhor preparo para a liderança; que existam líderes de referência e boa literatura para as pessoas que não estejam satisfeitas com o que têm recebido e desejam algo mais substancial. Que haja, pelo menos, uma ação.
ENFOQUE – Logo, é preciso contrapor um Evangelho que tem sido muito superficial, não?
SHEDD – Sim, mas não apenas com campanhas disso ou daquilo. Acho que o caminho deve ser bíblico, buscando a glória de Deus, e não uma vantagem. Tem gente que vive fazendo uma espécie de barganha com Deus.
ENFOQUE – Em sua opinião, o crente pode perder a salvação?
SHEDD – Biblicamente, não. Mas o que ele mesmo pode demonstrar é que nunca foi realmente salvo. Para nós, salvação é uma decisão inicial. A Bíblia ensina a salvação como algo que começa com uma matrícula chamada batismo. E pelo resto da vida você continua aprendendo. Se alguém não aprende, mostra que não se entregou. Então a decisão foi falsa.
ENFOQUE – Há tantas pessoas que estiveram por tanto tempo na igreja, comprometidos com Deus e não estão mais. O que dizer sobre isso?
SHEDD – Talvez estivessem ali por ansiedade, medo, circunstâncias, conveniência. Talvez por uma tentativa de ver se Deus iria lhes dar algum benefício que tanto queriam. Não estavam pensando em Deus, mas em si mesmos.
ENFOQUE – Que modismos vieram e se foram em todos esses anos?
SHEDD – Boa pergunta. Tem tanta coisa que veio e ficou, tantas que não existem mais. Hoje não se cantam mais hinos, não se faz mais os cultos de quarta-feira nas igrejas. A Escola Bíblica Dominical também está fora de moda. Começou em 1800 e está acabando. Muitos sentem falta dessas coisas. Há outras coisas que não sei se podemos chamar de modismo, mas já tivemos os milagres dos dentes de ouro e das folhas que brilhavam como fogo sob o frio de reuniões de oração nos montes. Ninguém fala mais disso.
ENFOQUE – E o que acha de manifestações como essas?
SHEDD – Acho legítimas, saudáveis, reais. Porque algumas desapareceram, eu não sei. Mas creio que foram, no geral, manifestações angelicais, embora outras tenham sido demoníacas. A Bíblia diz que os demônios fazem as mesmas coisas que os anjos, só que eles não estão servindo a Deus, estão servindo ao seu deus. Demônios também fazem cura. Mas essa manifestação de cura vem para confundir ou para que as pessoas, de uma forma indireta, glorifiquem o demônio.
ENFOQUE – O que fazer para que as pessoas leiam mais a Bíblia, já que hoje existem tantos recursos, como comentários e versões?
SHEDD – O mais importante de tudo é uma tradução que o povo entenda. Essa é uma das vantagens da Bíblia que possui linguagem contemporânea. Outro ponto para tornar a Bíblia mais interessante é mostrar que ela soluciona os problemas. A gente tem problemas, mas não sabe que a Bíblia tem a solução. A questão é que não basta ler, mas seguir.
ENFOQUE – O que pensa sobre angeologia? Como atuam os anjos?
SHEDD – Anjos são ministradores dos dons espirituais: profecias, dons de línguas, discernimento de espíritos demoníacos. A gente não sabe se um anjo é de luz ou não, eles enganam. Então eles [os anjos verdadeiros] têm que nos dar a possibilidade de discernir se vêm de Deus. Em síntese, os anjos são ministradores do Senhor.
ENFOQUE – Mas se eu não tenho o dom de línguas, por exemplo, eles podem me acompanhar?
SHEDD – Não tenho anjo me acompanhando, tenho o Espírito Santo.
ENFOQUE – Então não acredita que cada pessoa tenha o seu anjo?
SHEDD – Tem, se for pequenino. Foi o que disse Jesus em Mateus 18.10: “Os seus anjos (dos pequeninos) sempre vêem a face do meu Pai que está no céu”. Pequenino quer dizer criança, pessoas começando a vida cristã. E talvez haja acompanhamento angelical para casos especiais. Anjos se manifestam e acompanham por causa da sua utilidade, para a glória de Deus, pois eles vêm para ministrar. Os dons não são para nós mesmos, são para o benefício da igreja. Então, certas pessoas são muito mais abertas aos dons. Crianças são mais sensíveis à presença de anjos.
ENFOQUE – O que acha de uma certa “rejudaização” que acontece em algumas igrejas?
SHEDD – É uma prática que não vai ajudar. Sou contrário a elas. Com o Novo Testamento aconteceu o fim da lei, o fim de todas aquelas práticas do Velho Testamento. Por que voltar para trás, para o que existia antes de Cristo? Voltar é perder o próprio Cristo, que veio para o novo.
ENFOQUE – Como tem avaliado o nível dos pastores de hoje?
SHEDD – Eles precisam realmente estudar a Palavra, usar os argumentos que estão na Palavra. Enfim, a Palavra deve entrar na cabeça do pregador, que precisa ter a mente de Cristo.
ENFOQUE – O que sente em relação à sua participação na Enfoque durante esses anos?
SHEDD – Bem, a revista me impôs uma disciplina que eu não tinha antes. Cada mês tenho de saber e escrever alguma coisa. Tenho que procurar escrever sobre algo. É desafiante. E, durante cinco anos, fui percebendo que a revista tinha a possibilidade de se manter. Porque a primeira pergunta, quando comecei, foi: “Será que essa revista vai dar certo?” E ela resistiu. A revista está firme, tem textos muito bons. Não sei se meus artigos estão valendo a pena para os leitores (risos), mas tenho gostado desse desafio.
O QUE SHEDD JÁ PUBLICOU
Andai Nele
A Justiça Social e a Interpretação da Bíblia
Disciplina na Igreja
A Escatologia do Novo Testamento
Alegrai-vos no Senhor
O Mundo, a Carne e o Diabo
Nos Passos de Jesus
Lei, Graça e Santificação
Imortalidade
A Solidariedade da Raça
Justificação
A Escatologia e a Influência do Futuro no Dia-a-dia do Cristão
A Oração e o Preparo de Líderes Cristãos
Fundamentos Bíblicos da Evangelização
Adoração Bíblica
O Líder que Deus Usa
Palavra Viva
Teologia do Desperdício
Missões – Vale a Pena Investir?
Criação e Graça – Reflexão Sobre as Revelações de Deus
Avivamento e Renovação
Bíblia em Ação (CD-ROM)
Comentários de rodapé da Bíblia Vida Nova e da Bíblia Shedd, publicados por Edições Vida Nova e Shedd Publicações.
Notas sobre o manejar de conflitos
Marcos Gilson G. Feitosa
(ex secretário de capacitação da ABUB)
Marcos Gilson G. Feitosa foi secretário de Capacitação da ABUB por muitos anos.
www.abub.org.br.
(ex secretário de capacitação da ABUB)
(este artigo foi escrito inspirado num artigo do pastor Gary Preston, da Igreja Betânia, no Colorado)
Eu estava num acampamento de carnaval com o pessoal da minha igreja e tinha convidado um assessor-auxiliar novo na ABU que me visitava para me acompanhar.
Minutos antes que eu começasse o estudo devocional da segunda manhã, este assessor me chama à parte e me diz o seguinte: "Olha, Marcos, eu não creio que homens de Deus devem ficar brincando como qualquer pessoa fica. Nós temos de ser sérios, reservados; afinal o Senhor nos chama para sermos santos."
E continuou no mesmo tom solene: "Observe bem, eu não estou dizendo isso para repreender ou qualquer coisa assim, mas acho que servos de Deus não devem se portar dessa forma". "De que forma, meu irmão?", perguntei, tentando me conter, enquanto imaginava que espécie de blasfemo comportamento eu tinha tido. Ele não soube explicar direito, mas deu a entender que o que lhe perturbava era o temperamento brincalhão que ele me atribuia. "Servos de Deus são sérios, não ficam brincando".
Fiquei com muita vontade de retrucar e citar uma meia dúzia de homens de Deus que tinham um temperamento que guardava certa semelhança com aquele que ele atribuia ser meu problema, mas de repente percebí que argumentar e discutir naquele instante só me perturbaria ainda mais antes da devocional para a qual já estavam me chamando. Agradecí o conselho e saí perturbado para dar o estudo devocional.
Dois tipos de conflitos tinham se caracterizado. O primeiro era de ordem pessoal, pois enquanto eu caminhava para a reunião ficava pensando que hora "magnífica" ele tinha escolhido para falar, mesmo se o problema tivesse sido real. Eu o via agora como insensível não só em relação a mim, mas também em relação àqueles que estavam para ser ministrados. Por seu lado, ele me via como alguém que não agia como servo de Deus e possivelmente tinha se ofendido com meu comportamento.
O segundo era um conflito de visões de mundo. De uma lado estava alguém que acreditava que temperamento alegre e brincalhão não faz parte da maneira de ser de um servo de Deus, e do outro alguém que achava que não há uma relação direta entre um estilo específico de temperamento e o ser servo de Deus. Para este tipo de conflito, epistemologicamente mais profundo, a resolução estaria dependente de sensibilidade e de uma conversa franca e fraterna.
Uma parte de mim, enquanto dava o estudo, ficava pensando no acontecido e no que dizer a ele depois da reunião. "Isso; tenho de tratar com ele imediatamente!", pensava. Mas esta não é uma boa idéia quando se está lidando com resolução de conflitos. A seguir listo algumas notas sobre resolução de conflitos, fruto de vivência em alguns deles.
1) Resista o impulso que vem naturalmente.
De uma forma geral, no ministério, seguir os instintos funciona perfeitamente bem em grande número dos casos. Alguns pastores têm falado que quando estão num funeral, num leito de hospital, ou até compartilhando o evangelho com não-cristãos, os seus instintos pastorais normalmente os guiam na direção certa.
Mas isto não funciona quando a questão é lidar com conflito. Para algumas pessoas, a reação inicial ao conflito é fuga, é esquecer, fazer de contas que a ofensa não aconteceu, e aí procurar algo para fazer, ou então dormir, ao mesmo tempo que a mágoa e ressentimento vão se alojando no coração. Para outras, o que vem naturalmente é o desejo de resolver a questão na hora, em cima da bucha, e obviamente com toda a "sabedoria" da reflexão do tempo gasto desde a instalação do conflito até a reação, o que em alguns casos, não passa de segundos.
Em ambos os casos, é saudável resistir ao impulso que vem naturalmente. Para os fujões, que são tentados a pretender que nada aconteceu, é bom sentar e refletir sobre a situação, assumindo consigo mesmo o compromisso que vai tomar uma atitude positiva em relação à situação. Para os arrojados, que se arremetem contra o conflito na maioria das vezes sem ter nenhuma idéia do contexto amplo que o gerou, é bom também sentar e refletir sobre a situação, assumindo o compromisso que só tomarão alguma atitude quando tiverem refletido o suficiente e tomado uma decisão positiva em relação à situação.
2) Converse com a pessoa sobre o assunto.
Depois de reflexão séria e tempo gasto em oração pedindo a orientação de Deus e a serenidade do Espírito, talvez seja a hora para conversar com a pessoa. Se você se sente suficientemente calmo e sereno, talvez dê para a conversa acontecer a dois. Se não, ter presente uma pessoa da confiança de ambos funciona às maravilhas.
Ao conversar, tente primeiro entender o ponto de vista do outro, os referenciais a partir do qual ele fala, mesmo que as suas atitudes lhe pareçam erradas; pois é a partir daquele ponto de vista que ele está agindo e para ele lhe parece certo.
Fundamental é decidir de antemão quem vai sair ganhando neste acerto: se você, se ele, ou se o Senhor vai ser honrado. Se a sua preocupação for honrar ao Senhor com o resultado, até a possibilidade de uma aparente derrota sua não vai ser de todo descartada. O Senhor obviamente se alegra com a verdade, mas exulta com o amor. Não adianta nada colocar a verdade de uma forma contundente sem que ela esteja permeada pelo interesse pela outra pessoa. Por isso, às vezes é necessário para pessoas de temperamento mais arrojado não cederem à tentação do acerto imediato, pois ressentimentos e rancores podem estar ainda em plena ebuliçâo.
A grande maioria de mal-entendidos ocorre porque temos panos-de-fundo diferentes. Uma palavra dita sem intenção de ofender pode suscitar em outros reações imprevisíveis, simplesmente porque o tom em que foi dita, ou a expressão que foi usada, ativou memórias do passado com tremendo potencial explosivo e corrosivo.
Por isso, é saudável usar a regra áurea; tente expressar a sua percepção da situação mais ou menos assim: "Olha, eu entendí essa sua ação, atitude, ou palavra como indicando isto... Entendí corretamente? Foi isso que você quís comunicar?" Dita no momento apropriado, esse tipo de postura pode fazer verdadeiros milagres.
Discordar não é motivo para conflitos. É bom num grupo existir opiniões divergentes. Pessoas podem discordar e ainda assim trabalhar juntas. O que não pode existir é desrespeito.
3) Mantenha pelejas pessoais no nível pessoal.
Imagine a seguinte situação: um líder estudantil tem lutado para conseguir que o seu grupo se organize, planeje com antecedência suas atividades, dando assim margem para improvisar com mais segurança e criatividade num imprevisto. Mas existe uma pessoa no grupo que reage fortemente a isso. Depois de um certo tempo, o grupo começa a mostrar os frutos de trabalho sério e planejado, e numa reunião da liderança com os pastores da cidade, os líderes estudantís expressam seu contentamento pelo trabalho bem feito durante o semestre e os pastores comentam que estão impressionados com a capacidade de organização, seriedade e planejamento do grupo. Aí o líder que sempre enfatizou essas coisas comenta: "Ah, que bom ouvir isso; embora existam pessoas que não gostam muito disso, e acham que tudo deve ser feito por pura inspiração do momento". Mesmo sem mencionar nome, ficou claro para todos os estudantes a quem ele se referia. O ataque anti-ético e público de uma disputa privada criou um clima ruim numa reunião muito boa.
Portanto, mantenha as disputas pessoais que você tenha com alguém privadas.
4) Pratique atos de bondade.
A melhor maneira de realizar uma "vendetta" é com atos de bondade; fazendo algo para o bem da pessoa difícil. As possibilidades são inúmeras. Um certo pastor tinha um membro de sua igreja que era uma pessoa particularmente difícil. Nunca parecia estar satisfeito. E quando esta pessoa lhe dirigia a palavra era sempre "pegar no pé"; com criticas irônicas e destrutivas. A saída do pastor durante algum tempo foi evitá-lo.
O pastor depois mudou de atitude; decidiu amá-lo: fazer atos de bondade em relação a esse homem. Um dia, convidou-o para pescar, sabedor das habilidades dessa pessoa na área: "Você poderia ir pescar comigo no próximo sábado? Gostaria que você me desse algumas dicas: em pescaria eu sou um verdadeiro iniciante". O outro irmão topou. Foram; não só uma, mas quatro vezes. Depois de algumas semanas o pastor ouviu aquele homem alegremente se referindo às lições de pesca que tinha dado ao pastor em conversa com outras pessoas. Passado um tempo, o pastor foi com a família pescar. Conseguiu pegar um peixe grande o suficiente. Na volta, passou na casa daquele homem e ofertou a sua primeira grande pegada a ele, como um presente pelas lições que ele lhe tinha dado. O outro ficou exultante, e um início de uma nova relação começou.
Fazer atos assim é como colocar brasas na cabeça dos outros; um estímulo a que as pessoas acordem suas consciências e civilidade.
E quando tudo isso não dá certo?
E o que fazer quando você percebe que a pessoa com a qual você tem conflito, mesmo quando você mostra abertura e disposição para uma conversa honesta e construtiva, não parece ter a sua mesma disposição? Ou quando mesmo realizando atos de bondade, a outra pessoa em vez de acordar a consciência, vê seus atos como um sinal de que afinal ela estava absolutamente certa?
Não existem soluções fáceis. Cada pessoa e cada conflito têm os seus próprios contextos. Em alguns casos, talvez seja hora de um grande esforço e deixar claro para a pessoa a intenção de conversar depois, quando a situação talvez estiver mais amadurecida para ela.
Se o caso é que a pessoa não se mostra disposta a conversar, talvez seja interessante dar sinal a ela que você se preocupa como é que ela está processando a frustração que está passando. Fazê-la sentir que você se interessa e se preocupa.
E no caso da pessoa que a cada vez que você age com atos bondade em relação a ela, ela fica convencida que estava certa mesmo, é importante não parar de amá-la. Lembre-se; não somos chamados a gostar dos inimigos e dos que nos perseguem, mas a amá-los. E amar é procurar o bem do outro.
O apóstolo Paulo recomenda: "se possível, o quanto depender de vocês, tenham paz com todos os homens" (Rm 12:18). Ele sabia que há limites. Mas o quanto depender de nós, e se for possível, devemos procurar a paz. Há casos que não são possíveis, e podem existir pessoas que, por qualquer razão, não estejam interessadas em ter paz conosco.
Conclusão
Em relação ao caso do irmão que me repreendeu no acampamento, a situação ficou assim: depois da exposição, saímos para conversar e tentei explicar primeiro o conflito de visões de mundo, indicando a ele que embora as pessoas com as quais ele convivia diariamente eram de um temperamento mais reservado, não era mandatório para todos os crentes se comportarem daquela maneira. Isto não ficou completamente resolvido para ele, mas pelo menos ele deu sinais que tinha entendido o que eu tinha falado.
Quanto ao outro conflito, mais pessoal, reconhecí primeiro que o interêsse dele era em última análise me preservar de um comportamento que ele julgava inapropriado, e que eu o agradecia por essa preocupação. Pedí contudo que quando ele no futuro se sentisse impelido a fazer isso, não só comigo mas com outras pessoas, que considerasse com carinho qual seria a melhor hora e oportunidade para fazê-lo. Disse que tinha ficado perturbado na exposição. A este ele aceitou prontamente. E continuamos amigos e, pelo que me consta, respeitando as diferenças de temperamento que temos.
Marcos Gilson G. Feitosa foi secretário de Capacitação da ABUB por muitos anos.
www.abub.org.br.
Praticando a Presença de Cristo
Rebecca Pippert (Cap. 8 do livro "Out of the Saltshaker&into the World", IVP)
Eu estava andando no aeroporto O'Hare em Chicago, há pouco tempo atrás, quando minha bolsa caiu e minhas coisas se esparramaram no chão. Eu estava colocando tudo dentro de novo quando uma mulher com um bebê me perguntou que horas eram. Então ela, tensa e nervosa perguntou: "Você sabe onde posso comprar alguma bebida?".
Eu não sabia. Mas eu olhei seu rosto, vi que ela estava perturbada. Então eu me levantei e comecei a conversar com ela.
Ela rapidamente me interrompeu, perguntando: "Você sabe quanto deve custar uma bebida aqui?".
Eu vi que não estávamos chegando a lugar algum e, de repente, eu me ouvi dizendo, "Bem, eu não sei, mas você gostaria de procurar comigo um bar?".
"Puxa, você poderia? Eu realmente gostaria da sua companhia", ela respondeu.
Então nós saímos. E por todo o caminho eu ia me censurando por isso - indo a um bar à tarde com uma completa estranha. Que situação constrangedora! Então eu pensei, "O que Jesus faria numa situação como essa?".
Esse é justamente o ponto. O que Jesus faria?(…)
Freqüentemente somos cegos. Nós agimos como se os que estão à nossa volta não fossem realmente pessoas como nós. Se os vemos sangrando, nós achamos que não está realmente doendo. Se os vemos sozinhos, nós dizemos para nós mesmos que eles gostam de ficar assim.
Mas Jesus quer curar nossa visão. Ele quer que vejamos que nosso vizinho, ou a pessoa sentada ao nosso lado no ônibus ou na sala de aula não são interrupções na nossa agenda. Elas estão lá por mandato divino. Jesus quer que vejamos suas necessidades, sua solidão, seus anseios, e ele quer nos dar coragem para que os alcancemos. Se queremos fazer isso nós precisamos fazer duas coisas: assumir os riscos e se envolver com as pessoas abaixo da superfície.
Tomar a iniciativa nos abre para o risco da rejeição. Deixar as pessoas entrarem em nossas vidas é assustador, mas um ingrediente essencial no evangelismo. É arriscado abandonar nossas capas de proteção a fim de penetrar na vida dos outros. No aeroporto eu me perguntei o que eu deveria fazer agora, num bar, com uma mulher ansiosa que eu tinha acabado de conhecer. Eu percebi que Jesus provavelmente estaria mais preocupado no por que ela precisava de uma bebida do que no fato de ele estar indo num bar. Eu sabia que se eu não estivesse à vontade enquanto ela segurava uma bebida em sua mão e se não permitisse que Deus me guiasse ao que ele percebia como campo de missão, então eu não seria muito eficaz em comunicar o amor incondicional de Deus.
Depois que nós encontramos o bar, levou apenas alguns minutos antes que ela começasse a contar porque ela tinha decidido deixar seu marido. Seu marido, que não sabia de sua decisão, iria encontrá-la no aeroporto de Michigan. Ela estava aterrorizada imaginando a reação dele e se sentia completamente só. "Mas é ridículo eu estar falando isso para uma estranha. Como deve estar sendo entediante para você me ouvir!", ela comentou no meio da conversa.
A parte mais triste era sua inabilidade óbvia de acreditar que alguém se preocuparia com ela. Ela não confiava em quase ninguém. Quando eu mencionei a ela um problema que eu pude identificar, ela disse, "Então é por isso que você age como se importasse. Escute, você não tem medo de acompanhar estranhos como eu? Você deveria ser mais cuidadosa."
Quando eu comecei a falar com ela quem Deus era e que ele é quem me levava a situações como essa, ela parecia se prender a cada palavra. Logo estávamos indo para o seu avião, mas eu estava inquieta. Eu queria dizer a ela o quanto eu tinha sido tocada por seus problemas e que Deus se importava profundamente com ela. Mas ela era tão fria e defensiva que eu temi sua rejeição. Finalmente, no portão de embarque, eu peguei em sua mão e disse, "Escute, eu quero que você saiba que eu realmente me importo com você e eu estarei orando por você no minuto em que você chegar lá."
Ela me olhou fixamente, espantada. Então, virando-se, ela disse, "Hum... me desculpe - eu apenas não sei lidar com amor," e foi embora.
O encontro não foi um sucesso estrondoso, mas eu sabia que tinha sido obediente. Ser um cristão significa assumir: o risco do nosso amor ser rejeitado, mal compreendido ou mesmo ignorado. Agora, eu não estou sugerindo que corramos para o bar mais próximo por Jesus. Mas se você se encontrar em uma situação em que você acredita que Deus o colocou, então aceite o risco por sua causa.
Nós precisamos ver abaixo da superfície. Não devemos nunca presumir que uma pessoa não está aberta ao cristianismo. Mais de uma vez eu tenho visto que as que menos aparentam são as que estão mais abertas para Deus.
Há muitos anos atrás, eu estava em um ônibus sentada ao lado de uma mulher com mais de 60 anos. Sua face era dura, muito maquiada, fumava um cigarro atrás do outro, e seus olhos pareciam vazios. Eu iniciei uma conversa, mas suas respostas eram curtas e frias, então desisti e comecei a trabalhar numa palestra que eu iria proferir. Eu pensei que teria muito tempo para fazer isso porque ela estava espiritualmente fechada.
Poucos minutos depois, para minha surpresa, ela disse, "O que você está fazendo? Você parece muito ocupada. O que você está escrevendo?"
Eu tentei evitar responder sua questão diretamente, porque eu estava certa de que ela não iria entender. Mas ela disse, "Claro que é um dia agradável. Mas o que você está fazendo?"
Engoli seco, e lhe falei qual era a minha profissão e que eu estava preparando uma palestra para uma comunidade cristã.
"Você trabalha para Deus, hein?", ela respondeu cinicamente.
Eu sabia que isso era um ponto final, então eu disse, "Diga-me o seu nome. E o que você faz?"
Ela disse, "Meu nome é Betty. Escute, eu também sou muito ocupada, como você. Tenho muitos amigos. Eu nunca tenho um momento para mim mesma. Naturalmente eu... ah... bem, eu vivo sozinha. Mas eu tenho tantos hobbies que eu nem percebo isso." Sua resposta era tristemente reveladora.
"Sabe, eu nunca vivi sozinha. Acho que eu tenho um pouco de medo de ficar só," eu disse.
Repentinamente ela se virou em seu assento e olhou para mim vividamente. "Olhe, garota. Você fala sobre solidão? Eu sou tão só que eu quero morrer. Metade do tempo eu penso que eu já morri. O que eu disse sobre muitos amigos? Não, não os tenho. Ninguém se importa. Meu coração está doente, e quando eu não me sinto bem eu saio de casa, porque se eu morrer, pelo menos alguém saberá. Você fala sobre Deus. Eu vou te dizer uma coisa. Eu vim aqui ver um homem. Eu acho que ele gostava de mim. Ele era sozinho como eu e tínhamos começado uma amizade. Eu liguei em seu apartamento e ele não atendeu. Então eu liguei pro porteiro e perguntei a ele se Jack estava lá. Ele me disse para esperar. Quando ele voltou ao telefone, ele disse, 'Oh, Jack está aqui. Mas ele está morto. Parece que ele morreu há alguns dias. É uma vergonha. Eu vou cuidar disso. Tchau.' É isso que vai acontecer comigo? Estarei morta no chão por dois dias e ninguém saberá? O que o seu Deus diz a esse respeito?"(...)
Eu murmurei algo como, "Faz você se perguntar se realmente existe um Deus, não é? Faz você se perguntar em que mundo Jack está agora."
Ela respondeu, "Eu continuo me perguntando isso. Mas não encontro resposta. Tenho me questionado sobre isso continuamente desde que ele morreu. "
"Quando você soube que Jack tinha morrido, Betty?", eu perguntei.
"Ontem à noite. E fiquei acordada a noite inteira perguntando ao silêncio essa resposta", ela disse.
Eu queria chorar. Não apenas por sua tragédia, mas por minha cegueira e pela bondade de Deus para comigo. Eu queria ignorá-la por achar que era espiritualmente fechada, para então poder escrever minha palestra sobre evangelismo. Mas ela estava fazendo profundos questionamentos, numa oportunidade para que Deus a alcançasse.
Disse a ela que nunca tinha sentido uma dor como essa. Mas que conhecia outros que que experimentaram a tristeza da solidão. Falei-lhe de alguém a quem Deus deu sentido à vida, apesar de seu sofrimento. Betty me olhou com esperança por poucos segundos, então disse tristemente, "Você é tão jovem, tão jovem."
A conversa se direcionou a outros assuntos. Eu tentei pensar em uma maneira de revelar o amor de Deus. Mais tarde, na conversa, eu disse, "Escute, eu venho à Salem regularmente. Você gostaria que eu a visitasse quando vier?"
Foi a segunda vez que ela se animou. "Você realmente viria? Claro que eu gostaria. Escute, eu também sou uma boa cozinheira! Você poderia conhecer meu cachorro. Nós vamos ter um ótimo tempo!"
Mas quando nós chegamos em Salem, ela se fechou novamente. Assim que saímos do ônibus e ela abriu a porta da estação, ela disse, "Bem, criança, foi ótimo ter te conhecido. Nós nos vemos por aí." E ela foi andando embora. Um pouco mais adiante ela parou, virou-se, e olhando para mim com desespero disse, "Oh, Deus, Becky. Não se esqueça de me ligar. Por favor, não me esqueça." E ela se foi.
Eu sentei num banco e chorei. Eu queria um final feliz para essa história, mas não aconteceu. Eu a visitei. Gastei noites com Betty e seu cachorro. Trouxe estudantes para conhecê-la, e eles a amaram mais consistentemente e fielmente do que eu. Do que eu sei, Betty apenas recebeu. Ela nunca deu. Talvez ela não fosse capaz disso. De fato, ela nos usou.(...) Ela soube da fonte do nosso amor. Ela soube de Jesus. Mas ela nunca escolheu segui-lo, pelo menos enquanto nós a conhecemos. Eu a encontrei e a deixei como uma mulher solitária.
Betty não foi perda de nosso tempo. Ela era importante para Deus e importante para nós. Nós não falhamos. Mas não podemos fazer ninguém se tornar um cristão. Nós não somos julgados pelo nosso sucesso, mas por nossa fidelidade e obediência, apesar de ter sido uma obediência dolorosa e custosa para nós.
Nós nunca devemos presumir que as pessoas são como aparentam. Todos nós temos necessidades. Como Betty, a maioria de nós experimentou alguma forma de rejeição. Nós queremos ser tocados, ser apreciados, saber que somos especiais, mas não sabemos como pedir isso. Quando somos machucados, temos áreas sensíveis, como feridas abertas que nos fazem morrer de medo de sermos tocados e de nos expormos, apesar de ser isso o que mais desejamos. O que nós precisamos é de alguém que aja como Jesus, nos alcance, coloque seus braços ao nosso redor e diga "Venha para casa comigo. Eu me importo com você. Eu quero estar com você."
Isso é algo para o que nós somos chamados a fazer. nós não devemos esperar sermos curados, amados, e então alcançar os outros. É possível que um dos primeiros passos em direção à nossa cura vai se dar quando formos em direção a uma outra pessoa. Quando nós vamos além da superfície de uma pessoa, nós geralmente descobrimos um mar de necessidades. Nós precisamos aprender a interpretar as necessidades corretamente, assim como Jesus.(...)
A mulher samaritana teve cinco maridos e agora estava vivendo com um sexto homem. Os discípulos a olharam e pensaram, "Esta mulher? Se tornar uma cristã? Não tem jeito, olhe como ela vive!" Mas Jesus a olhou e teve uma conclusão oposta.(...) Não foi a necessidade dessa mulher por afeto que o alarmou, mas a sua busca em responder sua necessidade. Além disso, Jesus viu que sua necessidade indicava fome de Deus. Ele parecia dizer aos seus discípulos, "Vejam o quão arduamente ela está tentando encontrar a coisa certa nos lugares errados."
Quantos homens e mulheres samaritanos você conhece? Onde quer que eu esteja, eu vejo pessoas procurando freneticamente pelas coisas certas em todos os lugares errados. A tragédia é que minha resposta inicial é desconsiderar e presumir que eles nunca vão se tornar cristãos. Nós devemos nos perguntar, "Como eu interpreto as necessidades e estilo de vida de meus amigos? Eu olho para eles bebendo e transando e digo, 'Isso é errado' e vou embora? Ou eu vou além de suas máscaras e descubro por que eles fazem isso? E então, eu tento amá-los onde eles estão?"
A fim de estabelecer uma relação de confiança com as pessoas, nós devemos amá-las com a bagagem que elas trazem. Nós precisamos aceitá-las onde estão, sem comprometer nossos padrões cristãos.
Nós precisamos viver a tensão de sermos chamados para identificarmos os outros sem sermos idênticos a eles.
Uma menina se mudou para o apartamento debaixo do meu em Portland, Oregon. Toda vez que eu a via ela estava indo para uma festa. Nós trocávamos palavras amigáveis e um dia ela me disse, "Becky, eu gosto de você. Você é jóia. Que tal nos encontrarmos semana que vem e fumarmos um baseado, o.k.?"
Eu respondi, "Puxa, obrigada! Eu também gosto de você, eu adoraria gastar um tempo com você. Na verdade eu não gosto de fumar, mas a gente poderia fazer alguma outra coisa."
Claro que ela me olhou um pouco surpresa, não tanto porque eu não fumo baseado, mas porque eu expressei prazer ao pensar em gastar um tempo com ela. Eu poderia ter dito a ela, "Eu sou cristã e eu não quero saber dessas coisas", mas eu queria afirmar o que eu podia fazer sem abrir mão dos padrões cristãos. Muito freqüentemente nós espalhamos o que "não fazemos" quando deveríamos estar tentando descobrir pontos de contato genuínos. A maioria de nós tende ou a se superidentificar e se misturar de tal maneira que ninguém pode dizer que somos cristãos ou a nos separar, nos guardando seguros, mantendo pouco contato com o mundo. Nós devemos reconhecer qual é a nossa tendência e lutar contra ela.
Há algumas coisas que não devemos fazer. Um teste é se a atividade viola um princípio da Bíblia. Outro é se estamos violando nosso próprio senso de pureza. Aqui é importante nos conhecermos.
Nós precisamos saber onde somos vulneráveis. Na maioria das circunstâncias é perigoso nos colocarmos no que sabemos ser uma tentação real, mesmo que digamos que pedimos a Deus força para vencer a tentação. Freqüentemente estudantes me dizem que entraram em situações perigosas porque eles sentiram que eram as únicas pessoas que podiam testemunhar ali. Eu acredito que devemos assumir riscos como cristãos. Mas Deus não nos chama para situações em que ele sabe que nós não conseguimos lidar. Ele pode achar uma outra pessoa para ir ali que não lute nessa área.
Nós temos liberdade de falar. Isso também significa que nós temos a liberdade de sermos nós mesmos. Fique contente com o temperamento que Deus te deu e o use para os seus propósitos. Deus fez alguns de nós tímidos, outros extrovertidos. Nós devemos louvá-lo por isso. Mas se você é tímido, se lembre que sua timidez não é uma desculpa para evitar relacionamentos; pelo contrário, isso significa que você vai amar o mundo de uma maneira diferente que um extrovertido.
Uma garota me disse uma vez que era terrivelmente tímida. Só de pensar em falar com alguém ela ficava aterrorizada. Mas ela era uma cristã comprometida e sabia que tinha de achar caminhos para se relacionar. Percebeu que não deveria pedir a Deus para torná-la extrovertida. Mas ela orou pedindo a liberdade de olhar para fora, não para si mesma.(...)
O que me impressionou nela foi a eficiência de seu testemunho não-verbal. Ela falou com seus amigos sobre Jesus. Mas ela o demonstrou de maneiras diferentes também. Ela trabalhou para vencer sua timidez, mas descobriu que tinha o dom da serenidade. Pessoas se aproximavam dela porque sua presença trazia paz. Ela nunca teria percebido esse dom se não tivesse passado pelo processo doloroso de tomar iniciativa. Ela trabalhou nos limites de sua timidez, mas nesse processo Deus a abençoou com os dons de sua timidez.
É desalentador ouvir as pessoas dizerem que para mim é fácil evangelizar porque sou extrovertida. Ser extrovertida não é essencial para o evangelismo - obediência e amor são. Há muitas pessoas que eu nunca pude alcançar e eu provavelmente as intimidei por ser expansiva. Deus irá usar outros cristãos para alcançá-los. Mas não me sinto culpada por isso porque Deus não é glorificado em minha vida se eu tento ter a personalidade do meu melhor amigo. Eu preciso ser quem eu fui criado para ser. E preciso me relacionar com os outros de uma maneira sensível à pessoa com quem estou falando e consistente com minha própria personalidade.(...)
Mas você pode dizer que de fato tomar a iniciativa não é natural para você. Você é uma pessoa tímida. Na verdade, a habilidade de sairmos de nós mesmos e servirmos ao outro não é natural para ninguém. Mas ficarmos sentados e não fazermos nada não é uma opção. Nós somos chamados para amar, para servir, para identificar a necessidade e responder a ela. Não é fácil para ninguém, mas é o que o Espírito Santo nos ajuda a fazer a fim de nos tornarmos mais parecidos com Jesus. No entanto, na maneira de exercitar o nosso amor, no modo que encontramos para demonstrá-lo, na maneira que compartilhamos Cristo com os outros nós podemos escolher um estilo adequado a nós. Nós podemos tomar a iniciativa, seja discreta ou expansivamente.
Não devemos nos transformar, como John Stott falou, um cristão "coelho-na-toca" - o tipo que coloca sua cabeça fora do buraco, deixa seu colega de quarto cristão pela manhã e corre para a aula, procura freneticamente um colega cristão para sentar ao seu lado (uma maneira estranha de encarar um campo de missão). Assim ele procede aula após aula. No refeitório, ele se senta com os cristãos numa grande mesa e pensa, "Que testemunho!" De lá ele vai para o seu estudo bíblico, onde são todos crentes. E quem sabe ele ainda chega a tempo pra reunião de oração onde os crentes oram pelos não-crentes do seu andar. Então à noite ele volta rapidamente para junto de seu colega de quarto cristão. Seguro! Ele atravessou o dia e seus únicos contatos com o mundo foram aqueles corajosos períodos entre uma atividade cristã e outra.
Que perversa reversão do mandamento bíblico de ser sal e luz do mundo. O cristão "coelho-na-toca" permanece ilhado e isolado do mundo quando ele é ordenado a se infiltrar nele. Como podemos ser sal da terra, se nós nunca saimos do saleiro? (...)
Nós somos sal e luz. Nós fazemos diferença porque somos diferentes. E quando nós vivemos perante Deus como realmente somos, ele irá mudar o mundo no qual vivemos.
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